domingo, 14 de abril de 2013

True Tales Festival of Storytelling


Gosto muito histórias, ou não fosse eu de Letras. Gosto de as ler, de as ver e de as ouvir. Nada como uma boa história. Ou até menos boa, desde que bem contada.
O Festival True Tales já existe há dois anos em Portugal, mas eu confesso que só agora dei por ele. Talvez porque não gosto de whisky. E devo ser caso raro, pois parece que Portugal é o quarto país do mundo onde mais se vende o whisky Grant's, que promove o festival.
O  objectivo, dizem eles, é fortalecer a relação emocional entre a marca e os consumidores, através da partilha de histórias de vida, contadas na primeira pessoa. Achei a ideia interessante, espreitei os nomes em cartaz e decidi-me a ir ouvir o Miguel Esteves Cardoso e a Clara Ferreira Alves. Mais por ele do que por ela, que não lhe aprecio o estilo.
Quanto ao MEC, como foi conhecido durante muito tempo, goste-se ou não dele, marcou indiscutivelmente uma geração: a minha.
Para quem tem mais ou menos a mesma idade que eu, é impossível não se lembrar das suas críticas de cinema e de música no Sete e no  Expresso, depois das crónicas A causa das coisas, os meus problemas e outras que, numa espécie de blog avant la lettre, faziam as nossas delícias, num tempo em que, como ele hoje dizia, a tecnologia ainda não existia e para as ler tínhamos mesmo que comprar o jornal. Quem é que já esqueceu o "factor SPAC", por exemplo? Ou aquelas máximas do tipo: "O primeiro amor é uma chapada (...) é como a criança que põe os dedos dentro de uma tomada". Mais tarde, nos anos 90, fomos todos leitores do Independente e alguns também da Kapa. E então fartámo-nos um bocadinho, porque tudo tem o seu tempo de existir; e o MEC, talvez por isso mesmo, também desapareceu um pouco.
Aquilo a que assisti  no True Tales, foi a um Miguel Esteves Cardoso igual ao de antes, com o mesmo entusiasmo perante a vida e o mesmo humor, apesar de se notarem nele as marcas da passagem do tempo. Não contou uma história, mas pequenos episódios, como quando velhos amigos se reencontram e vão desfiando memórias comuns.
De tudo o que disse, destaco duas coisas: a ideia de que é importante viver a idade que se tem e a de que quando se tem vinte ou trinta anos se acha que se sabe tudo e se tem imensas certezas, mais ou menos como  o que acabei de ler no blog da Helena Sacadura Cabral sobre a quantidade de pessoas que andam "cheias de si".
Acho que, tal como provavelmente a todos nós, ao Miguel a idade tornou-o mais humilde e com menos certezas e verdades absolutas. E gostei de o ver e ouvir, porque afinal, de certo modo, é "um velho amigo", que está ligado a uma fase da minha vida; e que faz parte dela.

(O Miguel continua a escrever crónicas, no Público, que não faz parte das minhas leituras. Mas porque estas coisas, às vezes, até parecem transmissão de pensamentos, o Pedro Correia fez hoje um post no Delito de Opinião sobre o Miguel, com esta crónica, que vem um pouco na linha do que lhe ouvi ontem.)

7 comentários:

  1. Leio sempre os seus comentários do Publico, alguns mais outros menos interessantes, mas sempre simples e originais. Acho que ele e a Clara F.A são o oposto, não suporto o seu arzinho superior de quem se acha detentora da verdade, embora tenha por vezes razão. Lembro-me dele desde que me conheço, devemos ter idades parecidas, ela é mais nova, mas tb passou pela FLUL, como eu.
    Gostava de ver o MEC ao vivo e sei que ele veio aqui ao Porto há pouco tempo. Escrever não é o mesmo que contar e algumas pessoas não sabem mesmo comunicar com os outros.
    È uma iniciativa gira.


    Mas eu também não bebo, nem gosto de whisky. Nunca bebi um copo na vida! Mas já provei e continuo avessa.

    Join the club!

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    1. Também não tenho a mínima pachorra para o género da C.F.A. O Miguel é diferente: há muitos anos, cheguei a falar pessoalmente com ele, numa entrevista no "Independente"; por um questão absurda. Mas,desde antes dessa altura, acho-lhe piada.
      A iniciativa é engraçada, sim; pelo menos é diferente!

      Eu beber, até bebo. Mas não whisky, nem cerveja. Vinho (todo) e gin e caipirinha e... bom, já chega. ;)

      Beijinho
      Isabel

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  2. Concordo plenamente que as pessoas exibem certezas a mais. Oh se. :)

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  3. Gosto muito desta nova fase do MEC: ficou mais sábio e sereno, sem contudo perder a acutilância e o humor habituais.

    beijinho:)

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  4. Tal e qual, Paulo! Também é isso que eu acho. A prova de que idade, muitas vezes, só nos faz bem ;)

    Beijinho :)

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  5. Não gosto de whisky, mas gosto de vinho bebido de vez em quando e gosto de cerveja. Ainda agora bebi uma, é refrescante:)))

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