sábado, 15 de março de 2014

Ode Marítima



Esta é a história de um tipo que vê um paquete e se vira do avesso, vai para fora da zona do conforto, mergulha em si próprio (...) Eu subscrevo emocionalmente a viagem, vou como um barco de papel num ribeiro, perco o controlo de mim. É uma sensação estranha, mas boa. Não sou este homem, mas procurei-o em mim. Não tanto uma personagem, mas uma determinada energia. (...). As referências são-me familiares. Também conheço a dor e a mágoa e a angústia. (...) É a grande epopeia da humanidade, a necessidade desesperada de sentir alguma coisa.

São palavras de Diogo Infante, a propósito da interpretação da Ode Marítima. Uma interpretação sublime e inesquecível, a confirmar uma vez mais, e  aqui de maneira inequívoca, incontestável, a genialidade do seu enormíssimo talento.
Durante uma hora e um quarto vemos o texto ganhar vida e acompanhamos esta viagem dentro de si, que é também viagem dentro de nós, do nosso imaginário marítimo e da alma portuguesa, feita de saudade dorida e da ânsia de  descoberta.
Num cenário de extrema beleza e sobriedade, há ainda a presença discreta e marcante de João Gil e da sua guitarra, companheiro e cúmplice deste longo grito interior, naquela força imensa que é raiva e desespero, mas também contenção e memória.
Mesmo para quem, como eu, conhece o texto, ouvi-lo e vê-lo assim é um momento raro e emocionante, que lhe dá uma outra dimensão e grandiosidade e inevitavelmente nos toca de maneira especial. E voltamos à realidade com palavras ainda a ecoar dentro de nós:
E a hora real e nua como um cais já sem navios
E o giro lento do guindaste que, como um compasso que gira,
Traça um semicírculo de não sei que emoção
No silêncio comovido da minh'alma...
Como disse João Gil, todos os portugueses deviam ver a Ode Marítima. E eu concordo. Porque é comovente e enriquecedor. Mais que isso: é avassaladoramente desafiante. E faz-nos sentir implicados.
Já vi o Diogo Infante e o João Gil muitas vezes e acompanho de muito perto o trabalho de ambos. Sei  que tudo o que fazem é sempre muito bom. Posso pois parecer suspeita, porque gosto muito dos dois, que são artistas maiores, com muitas provas dadas.
Mas ontem, vi-os como nunca os tinha visto antes e, por isso, quando o espectáculo terminou, tive vontade de lhes dar um grande abraço para lhes agradecer esta imperdível e admirável Ode Marítima, que me fez sentir tanta coisa.
E que recomendo vivamente!

8 comentários:

  1. Um aplauso para a 'Ode Marítima', para Diogo Infante e para João Gil.
    Natália Luiza está muito bem na direcção cénica.
    A ver, no sempre maravilhoso Teatro Municipal de S. Luis.

    Bom domingo, Isabel, e um beijinho.

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    1. Também viu? Não é magnífico?

      Obrigada. Beijinho também para si.

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    2. Há algum tempo, retive 'the magnificent seven' (Os 7 magníficos).
      Desta feita ... é só trocar o 7 pelo 2.

      Boa semana.

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  2. Olá, Isabel! Passando por aqui para por a leitura em dia! Os meus dias não têm sido muito fáceis para conciliar tarefas múltiplas...
    Passando à questão:Há uns meses, fui ver um monólogo com o Diogo Infante ,no Cinema São Jorge. Graças ao que postou neste blog. Não me arrependi...muito pelo contrário! Já vou investigar sobre este trabalho...
    Beijinhos.

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    1. Viva, Madalena! O Diogo Infante é sempre, se,pre para ir ver. :)
      Posso dizer-lhe que esta Ode Marítima é uma experiência absolutamente avassaladora, que não pode perder.
      Eles vão agora para o Porto, mas de certeza que depois voltam a Lisboa. É que o S. Luís esteve sempre cheio. Vai haver pelo menos sessões para as escolas. Se eu souber de alguma coisa também a aviso.

      Beijinho

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    2. Agradecida! Vou ficar atenta. Apetece-me ver uma peça de teatro de jeito.
      Lá está, os bloggers são uma fonte moderna de informação e de aprendizagem. Basta ter a sorte de tropeçar nos correctos... Não me posso queixar! :)
      Beijinhos.

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    3. Sempre simpática, Madalena! Deixe estar que se eu souber do regresso da Ode Marítima a Lisboa, aviso-a. É que não pode mesmo perder. Eu gosto muito do D.I mas esta foi a interpretação dele que mais me marcou :)

      Beijinho

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