segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ler ou falar?

Perante uma situação qualquer que exige falar diante dos outros, a maior parte das pessoas opta por ler. Esquecendo que fazê-lo em voz alta requer também treino e talento. E que ouvir ler, por mais interessante que seja o texto, pode muitas vezes não surtir o efeito pretendido e tornar-se verdadeiramente maçador para quem está a ouvir. Ou, pelo menos, mais difícil de seguir.
Por isso é sempre preferível olhar a audiência nos olhos e falar-lhe. Ainda que o discurso, mesmo previamente preparado, não seja tão estruturado, nem saia tão "arrumadinho".
E isto é válido para quase tudo: para a escola e para a política, para conferências, seminários e colóquios. Para todo o tipo de reuniões. E para lançamentos de livros, também. Era aqui que eu queria chegar. Ultimamente, tenho assistido a alguns. Uns mais interessantes que outros, consoante os intervenientes e a capacidade comunicativa de cada um dos oradores. Ainda assim, é preferível ouvi-los falar do que ouvi-los ler. A menos que façam como Luís Filipe Castro Mendes, que pegou no seu novo livro e nos leu alguns poemas. Essa sim, pode ser uma interessante apresentação.
Mas nos últimos dias fiquei espantada com uma outra, que foi a antítese desta. Em que quer a editora, quer o autor, leram. Olhando para uma folha de papel em vez de olhar para as pessoas que se sentavam na sua frente e que, supostamente, se tinham deslocado para ouvir falar do livro, o qual deveria ser, digo eu, o centro das atenções. Em nenhum dos casos se leram excertos do livro, o que apesar de tudo ainda faria sentido. Um e outro, a pretexto do livro, quiseram antes mostrar-nos o seu "imenso" talento para a escrita. Ou foi isso que me pareceu...
Tinha ido por curiosidade. Não conhecia o autor, nem o livro. Não fiquei a conhecer. Vim-me embora sem comprar o livro e com pouca vontade de o ler nos tempos mais próximos. Afinal, falta-me ler tanta coisa...
E pensei que faço bem em querer que os meus alunos se habituem, logo desde o sétimo ano, a fazer apresentações e exposições diante dos colegas, sem outro suporte que não seja a palavra dita. Pergunto-me, até, o que seria se eu lesse as minhas aulas.  É que nem o argumento de que se é melhor a escrever do que a falar serve nestes casos.
Enfim, ali, só faltou mesmo um "powerpointzinho" para compor o ramalhete...

8 comentários:

  1. Numa apresentação ou participação falada é fundamental assertividade e convicção na comunicação. É-me completamente insuportável ouvir alguém que está a ler, por melhor que seja o diseur. A minha técnica de intervenção pública neste tipo de comunicação é simples: dominar completamente o tema; decorar integralmente o que se pretende dizer (exactamente como um actor que tem de memorizar o seu papel) e olhar sempre para os "olhos" do auditório. Claro que tudo dito de uma forma coloquial, fazendo parecer "casual" e, sempre que possível, introduzir o humor por forma a descongelar o auditório. O "estar bem preparado" não chega, há que seguir o fio condutor memorizado. Quando muito (e isso já me aconteceu em apresentações de várias horas) seguir um pequeno apontamento em forma de cábula, por forma a não saltar temas.

    Beijinho :)

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    1. Concordo inteiramente consigo, Paulo. E sigo mais ou menos a mesma técnica. Sou óptima a memorizar e por isso decoro facilmente o que devo dizer. E tenho pequenos tópicos, que me servem de cábula para não me "perder", ainda que raramente recorra a eles. Até para as aulas eu tenho essa espécie de guião: para não me escapar nada...
      Agora imagine uma apresentação de um livro em que se lê mais ou menos atabalhoadamente um texto enorme que nem sequer é sobre o livro a não ser de forma vaga. Pretensioso e insuportável...

      Beijinho :)

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    2. Como desconheço completamente a quem se refere, atrevo-me a dizer (pela generalidade da coisa) que nem se trata de pretensiosismo, mas de incompetência. Para compor esse ramalhe, ao menos que convidassem um bom violinista: uma maneira bem mais airosa de fazer esquecer o livro :)

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    3. Pois, não me fica bem explicitar tudo assim publicamente, mas depois lhe conto. Há incompetência aqui, sim, misturada com pretensiosismo excessivo. :)

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  2. O meu curto comentário 'apoia-se' em algo que o Paulo Abreu e Lima disse.
    Convicção na comunicação é fundamental.
    E como também desconheço a quem a Isabel se refere, aposto na incompetência.

    Se existe, à mistura, "pretensiosismo excessivo" temos uma mistura aparentemente explosiva.

    Beijinho e boa semana.

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    1. Convicção sim, António, mas com conhecimento do assunto. O que nem era aqui o caso.
      Refiro-me a quem não tem a noção (o que pode ser uma variante de incompetência) e lhe acrescenta um ego demasiado "inchado". Mais ou menos isto... ;)

      Boa semana também para si. Beijinho

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  3. Ouvir um discurso a ler dá em sono e é bastante desmotivante. Já tenho apanhado algumas secas, passo a expressão! A última não foi há muitas semanas. Nem todos têm o dom da palavra , mas sempre é melhor do que escutar opiniões antecipadamente escritas...
    Boa ideia de preparar os alunos para conversa verbal e sem apoios.
    Beijinhos, Isabel

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    1. É que ler em voz alta não é fácil, ao contrário do que quase toda a gente julga.

      Beijinho, Madalena

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