domingo, 6 de abril de 2014

Obrigada, Manuel


 
Morreu um amigo. O dia está lindo. Era assim que ele queria. Morreu um amigo de todos os amigos que não sabiam que eram amigos dele e de muitos que eram sem que ele soubesse.
Estas são as palavras de José Alberto Carvalho, sobre o dia de hoje. Eu não era amiga do Manuel. Ou se calhar era. Era sem que ele soubesse. E eu também.
Todas as pessoas que têm cancro, vencendo-o ou não, são de certo modo heróis e heroínas dos nossos dias, do nosso tempo. Relembro, de repente, outros que passaram por um sofrimento destes:  Miguel Portas, Maria José Nogueira Pinto, ou António Feio. Que tal como o Manuel foram apanhados pelo cancro numa curva qualquer da vida e lutaram contra ele, com força e dignidade, até ao limite das suas forças. Que não "desistiram da vida"... Como tanta gente anónima que passou e passa agora pela mesma luta e dor.
O Manuel Forjaz aproveitou o seu mediatismo para nos falar do que às vezes preferimos ignorar, ou esquecer. Com a coragem de quem olha o cancro de frente e o trata pelo nome. Lembro-me de o ouvir dizer que repudiava o eufemismo da "doença prolongada". E usava a palavra cancro sem medo. Ficou célebre a sua frase: "Posso morrer da doença, mas a doença não me matará." Mais que isso, no lançamento do livro disse: "Por mais difícil que seja a situação por que estás a passar, se estiveres atento, vais reparar que a vida é uma dádiva maravilhosa que não se pode desperdiçar." Esta é talvez a sua maior lição.  Para repetir muitas vezes. Para lembrar sempre que nos aborrecemos com o que não tem a menor importância.
Hoje, quando soube da notícia que imaginávamos que chegaria mas não acreditávamos nem queríamos que fosse já, pensei no António e no Zé Maria, os seus filhos. Pensei na sua mãe, irmãos e amigos, e em todos os que o amavam. Pensei, sobretudo, na sua Helena, que eu conheci adolescente, quando ela era "Becas", a prima da Nikki, divertida, ruiva e sardenta, mas sempre serena. E gosto de pensar que ela hoje, apesar do sofrimento, mantém a serenidade.
Na página do facebook do Manuel, os filhos publicaram os seus desejos. Estes:
Não quero que os amigos chorem e que se lembrem que vivi sempre a vida como quis.
O amor da minha vida é a Bichica.
Os meus maiores feitos são o Zé Maria e o António de quem tenho um imenso orgulho.

E esta notícia:
Hoje às 11:55 o nosso pai foi embora. Com fé profunda e sem sofrimento, foi em paz em casa no seu sofá. Por favor, vivam a vida, e sorriam...
Há cerca de um ano, ouvi o Padre Tolentino De Mendonça numa missa pelo Miguel, dizer isto, que é tão bonito: a imortalidade consiste também no facto de os nossos sonhos e tudo o que nós somos perdurar para além de nós; e esta frase, do salmo: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que o nosso coração alcance a sabedoria".

Não vou chorar, Manuel! Vou sorrir. Por tudo; e também por haver na vida pessoas assim.

2 comentários:

  1. Por ele e por causa dele, vou sorrir e continuar a viver.
    Um dia, quem sabe, cruzar-nos-emos num lugar muito especial.

    No meu cantinho, Manuel, deixei o 'don't stop believing' que disse gostar que as pessoas cantassem quando partisse.

    Descanse em Paz, Manuel. E que o seu espírito seja, para sempre, banhado de Luz.

    Isabel, uma boa semana para si e um abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu vi o "don't stop believing" lá no seu canto. E deixo-o também aqui. Porque era o que o Manuel queria. Isso e que acreditássemos que a vida vale a pena ser vivida em plenitude. Como ele fez...

      Para os acreditamos, é bom saber que isto não termina. Que o Manuel está agora em paz, serenamente. E o seu exemplo de força será sempre uma inspiração.

      Obrigada António. Boa semana também para si e outro abraço. :)

      Eliminar