quarta-feira, 30 de julho de 2014

Tempo de partir





Não gosto de despedidas. Mesmo se, como agora, acho que devo fazê-lo e é isso que quero. Escolha minha, pois. Sem desgosto, nem amargura, que a vida faz-se para a frente. Daqui a um mês, já não estou aqui.
Sei mais ou menos o que me espera, ao contrário do que acontecia por esta altura há quatro anos. Conheço os lugares e as pessoas, em tudo o que têm de bom e mau. Agora melhor ainda. Porque este distanciamento fez-me ver tudo com outros olhos, alargando o horizonte.
E, ainda assim, recomeçar é sempre começar de novo. Quase como se fosse a primeira vez. Fazer diferente. Experimentar. Expectativa e desafio.
Estes são dias de arrumações e de balanços, de guardar papéis, objectos e memórias. De fechar assuntos e portas. Dizer adeus. Partir.
Sei que me vai fazer falta a tranquilidade da Praça da Alvalade e de quanto me pacifica a alma olhá-la da minha janela e, através dela, ver a cidade (a minha Lisboa) exuberante de vida. A despertar e a ganhar movimento, luz e cor pelas manhãs, ou  a escurecer devagar, as luzes a acender-se nos fins de tarde de Inverno, quando os carros e as pessoas se apressam na ânsia de chegar sabe-se lá onde, tudo visto cá de cima como se fosse um mundo simultaneamente próximo e distante, a que pertenço  e não pertenço.
E antecipo as saudades de cada rua, de cada recanto, e das lojas tradicionais deste bairro tão peculiar que também já é meu,  e sê-lo-á para sempre, porque deixo aqui um pedaço da minha vida e levo comigo muita coisa que só eu sei e guardo no coração.
Vou ter pena, isso sim, de não poder ter férias na Primavera, como eu tanto gosto, de ir a Sevilha em Março, à praia em Abril e fazer do mês de Junho, ou Setembro, ou Outubro, um tempo só meu. Agora voltam as férias obrigatórias como as de toda a gente, com dias e horas previamente marcados no calendário.
O que foi bom e mau faz parte do caminho, é percurso e aprendizagem. Ganhei muito mais do que perdi. Vou, pois, com o sentimento de que esta foi uma mudança que me fez bem, que me permitiu conhecer outras coisas e assim perceber mais e melhor este mundo, complexo e fascinante, que eu escolhi. No fundo, uma espécie de presente vindo do céu, que me enriqueceu muitíssimo.
Por isso, vivo tranquila estes cerca de vinte dias que me separam de um novo princípio, mas sob o signo da partida, entre o fechar de mais uma etapa e o arrepio do que é novo e aí vem. E enquanto por aqui estou, faço o mesmo de sempre, sem poder evitar que soem dentro minha da cabeça pedaços de canções que sei de cor: (...) e assim chegar e partir, são só dois lados da mesma viagem...

8 comentários:

  1. Verifico dois pontos em comum que me satisfaz. Nem sempre somos bem compreendidos por quem nos rodeia tomando estas atitudes, mas cada um é como cada qual. Não gosto de despedidas faço-as subtilmente, se me for possível. Desde que me lembro vivi sempre nesta coisa de partidas e chegadas por isso cria-se algum calo. O outro ponto, é gostar de virar a página arrumando tudo e sem dramas para outras vivências. Nunca me arrependi. Penso sempre que é para ir para melhor e assim incentivo os meus filhos a não ficarem estagnados.
    Votos das maiores felicidades! Beijinhos.

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    1. Pois é, Madalena, tudo tem um tempo certo de existir. Sinto que poder ter feito esta experiência é um privilégio, mas sinto, também, que é chegado o momento de encerrar este ciclo. Que se esgotou, porque tinha que ser assim.
      Não excluo a hipótese de um dia poder voltar a qualquer coisa como esta, ou não (gostava, por exemplo de um cargo mais político, na área que eu domino, sempre. E sei que seria uma óptima assessora de Ministro ou de Secretário de Estado, - eheheh). Raramente digo "nunca mais" e não gosto nada de coisas com carácter definitivo. Mas agora é isto. E sei bem o que quero, na perfeita consciência de que o que me espera não é fácil; mas, também por isso, me desafia...

      Muito obrigada, Madalena!
      Beijinho

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  2. Uma despedida de local de trabalho é sempre uma aventura. Vai deixar a Praça de que tanto gosta, na Lisboa que todos os dias amanhece.
    Desejo que tudo, mas tudo, lhe corra de feição. Do pouco que lhe conheço, merece.

    Post scriptum: já acedeu à sua caixa de correio?

    Beijinho, com votos de felicidade plena, Isabel.

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    1. Não se trata de merecer, ou não. É simplesmente a ordem natural das coisas, aquilo que, agora, (me) faz sentido.

      Muito obrigada.

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  3. Para o caminho, um som fabuloso.
    Considere isto uma oferta.

    https://www.youtube.com/watch?v=nkVP-wNB4Dk

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    1. Não faz de todo o meu género este tipo de som, que, por isso, não aprecio.
      Mas agradeço na mesma.

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  4. Deduzo que deixa o ensino, Isabel? Boa sorte, de uma maneira ou de outra, bem precisamos dela. O máximo desafio - como se pode, sabe ou quer - é viver.

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    1. Não, Faty, deixo lá agora. Regresso à escola, que é afinal onde eu pertenço... ;)

      Beijinho

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