domingo, 31 de agosto de 2014

Outro recomeço


Amanhã é outro ano, como sempre acontece no dia 1 de Setembro. Desta vez, no entanto, mais do que o começo de um novo ano com tudo o que sempre há nisso de apetecível e  expectante, este é o início de uma nova vida, onde o conhecido e o incerto se aliam na perfeição. E há, inevitavelmente, um ligeiro friozinho na barriga, que é o nervosismo onde se misturam medo,  impaciência e vontade, em doses quase iguais. Este ano vai ser diferente.  Eu acho que vai ser bom.
 

sábado, 30 de agosto de 2014

Namoro

 

Que diremos ainda? Serão palavras,
isto que aflora aos lábios?
Palavras, este rumor tão leve
que ouvimos o dia desprender-se?
Palavras, ou luz ainda?


                                                     Eugénio de Andrade

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Despedida


Daqui a três horas, mais minuto menos minuto, fecha-se uma porta, encerra-se um capítulo e começa um novo ciclo. A mudança é uma coisa boa e também é dela que a vida é feita. Porque contém em si infinitas expectativas e vontades, e porque nos dá um novo alento. Caminhar, caminhar sempre, tem que ser o lema.
Levo este bairro no coração, e inúmeras aprendizagens, experiências novas, recordações (nem todas extraordinárias, como sempre acontece). Saio daqui uma pessoa diferente e acho que não será exagero considerar que o balanço é muitíssimo positivo. Este foi um tempo que me fez bem. Em muita coisa e de muitas maneiras. Por isso, hoje, tenho a sensação que, quando ao final da tarde me for embora, levo comigo mais mundo...
Hei-de voltar a estas ruas, para ir ao sapateiro, à costureira, à ourivesaria, tomar café, ou apenas passear. Enfim, o que me apetecer...
Há quatro anos, lembro-me ainda muito bem, na véspera de para aqui vir, fartei-me de chorar. Era o nervosismo de não saber o que ia encontrar e a ideia de deixar para trás aquilo que durante muito tempo fora a minha "zona de conforto", um passado enorme que, com aspectos muito positivos e outros nem tanto, me fizera mais feliz que infeliz, mas que eu sabia estar definitivamente acabado. E essa ruptura com uma grande parte da minha vida era, em simultâneo, dor e necessidade.
Agora parto porque quero, tal como antes, e apesar de estar pronta para um caminho que não será exactamente fácil, vou com o coração ao alto, na esperança de uma vida nova, que é quase como (re)começar outra vez. E fazer diferente, porque também eu sou a mesma e já sou outra.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Praças da minha vida

(Praça Duque de Saldanha)

(Praça de Londres)
 
(Praça de Alvalade)

Em diferentes épocas, e por diferentes razões, estas três Praças de Lisboa estão fortemente ligadas à minha história, da qual são parte indissociável, distinguindo-se de tantos outros sítios por onde passei, por serem lugares que deixaram marca.Como um sinal, uma espécie de tatuagem, ou até mesmo uma cicatriz... 
O Saldanha é "a minha casa", a minha memória mais antiga de Lisboa, ponto de referência de infância e juventude, onde vivi os meus vinte primeiros anos e que, talvez por isso, ainda hoje é berço e é colo, que me aconchega e ampara sempre que chego perto. 
Depois, por volta de finais dos anos oitenta, foram as razões do coração que me levaram para a Praça de Londres. Vivi perto e, mesmo no que se lhe seguiu, durante muito tempo, centrei ali a minha vida. 
E, agora, este amor mais recente: a Praça de Alvalade, onde passei os últimos quatro anos, dias e dias a fio, muits horas sentada na frente de um computador, com as Avenidas de Roma e da Igreja como horizonte, e o bulício da cidade perto e longe ao mesmo tempo. E ainda este magnífico bairro, a fervilhar de vida, tradicional e moderno, que eu já conhecia mas que só agora aprendi de cor, em todos os pormenores que fui notando e conhecendo devagar, na descoberta lenta de cada recanto, de cada encanto, e de que já tenho tantas saudades, antes mesmo de o deixar. 
De todas e de cada uma destas Praças guardo, por isso, maravilhosas recordações; e a elas regresso sempre com prazer e vontade, mesmo se o tempo as vai modificando, tal como faz comigo. No fundo, para onde vou - que não é longe, e também é casa - levo-as coladinhas a mim, no coração e na vida.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O tempo actual e as palavras dos outros

Este é mais um magnífico texto de Pedro Correia no "Delito de Opinião", da série "Penso rápido".  Daqueles que suscitam um inevitável: "É isto!" 
O Pedro tem esta extraordinária capacidade de conseguir dizer de uma maneira simples e certeira o que muita gente pensa sem encontrar as palavras que o possam exprimir com a mesma clareza.
E, nem que fosse só por isso, a blogosfera já teria valido a pena. Mas há, felizmente, muito mais...

"Nunca devemos confundir movimento com acção", ensinava Hemingway. Tenho-me lembrado com frequência desta frase sábia que parecia antecipar o tempo actual, em que tudo se banaliza. É um tempo de anestesia colectiva, potenciado pelo efeito reprodutivo da internet, das redes sociais, dos canais de notícias, da televisão em fluxo contínuo. Já quase nada surpreende, já quase nada escandaliza ninguém. E o mais chocante nesta permanente girândola de imagens em movimento é o facto de as "consumirmos" (palavra muito em voga) numa total falta de enquadramento hierárquico de valores, proporcionada pela diluição do jornalismo clássico que funcionava como mediador neste circuito. Hoje tudo é importante. O que equivale a dizer que nada é importante. Somos bombardeados com imagens de "famosos" a levar com frívolos baldes de água fria intercaladas com o vídeo do jornalista americano prestes a ser decapitado por um carrasco encapuzado, exibido até à náusea por todos os meios disponíveis como veículo de propaganda da face mais repugnante do islamismo radical. E depois disto voltam os baldes de água fria. Ou o bebé assassinado pelo pai. Ou a crise do BES. Ou a contratação do enésimo "reforço" para um clube de futebol. Ou outro homicida ovacionado por "populares" à entrada do tribunal neste país de alegados brandos costumes. Ou mais um avião que cai sabe-se lá onde, derrubado sabe-se lá por quem.
Nada choca, nada impressiona, nada fica, nada se retém numa sociedade narcísica onde se dilui a noção de privacidade à medida que tudo se "partilha" no instagram e no facebook, e que elege as selfies como supremo grito da moda: virar a câmara não para o mundo ou para os outros mas para o próprio fotógrafo que transforma o foco digital em espelho. A palavra eu sobrepondo-se à palavra tu e à palavra nós.

Sem ti


E de súbito desaba o silêncio. 
É um silêncio sem ti, 
Sem álamos, 
Sem luas. 

Só nas minhas mãos 
ouço a música das tuas. 
                     
                             Eugénio de Andrade

(Fotografia de Maria Cristina Guerra)

domingo, 24 de agosto de 2014

Expressões detestáveis (I)

 
Há inúmeras expressões que se utilizam de forma corrente, embora sejam desprovidas de sentido, ou profundamente irritantes. Ou até, não raras vezes, as duas coisas.
Uma delas é, por exemplo, "ser muito amigo do seu amigo". Ouve-se com frequência, em particular quando se quer elogiar uma pessoa e não se sabe o que dizer. Mas, na verdade, não significa nada.
Já o contrário não costuma ouvir-se. No entanto, se alguém fosse "muito amigo do seu inimigo", isso sim, é que seria notável, e caso para assinalar. Só que ninguém o diz...

sábado, 23 de agosto de 2014

Lembrar, esquecer

 
O coração guarda o que se nos escapa das mãos.
 
                                                                                      (Miguel Esteves Cardoso)
 
E também havia os dias em que tudo era só ausência e desejo, e em que a saudade era pior que uma dor; era uma vagarosa e incómoda moinha, a consumir o coração e a perturbar a habitual tranquilidade, que ia minando tudo, porque não havia distracção, nem alegria, que conseguisse apagar ou fazer esquecer a urgência do abraço apertado, do calor das mãos grandes, do colo bom, que lhe aquecia a alma, lhe acalmava o corpo em sobressalto, e lhe enchia de sol a vida.
 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Tocante e comovedor



Cuerdas é a curta metragem de animação que ganhou um Goya em 2014. Inspirada na história verídica do filho do seu realizador, Pedro Solís, foi por casualidade que hoje a conheci.
Mas, no fundo, acho que nada é por acaso. E fiquei a pensar em como, por mais difícil que possa parecer-nos, a escola tem que ser, também, isto: uma janela rasgada sobre o mundo e a capacidade de olhar para longe, de acreditar, de ser mais feliz.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Ventos de mudança



De forma lenta mas inequívoca, o Outono vai-se fazendo anunciar. E é na luz, nas cores e nos cheiros do amanhecer que isso se nota melhor, como o que nasce e cresce em vagaroso silêncio num canto mais ou menos secreto do coração, e às vezes é tanto que explode em festa e  em vontades, e outras não é coisa nenhuma, senão a alegria serena e a paz quieta dos dias a passar.
 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Como na vida...


Mesmo dois anos e quatro meses depois, há ainda uma grande parte deste mundo virtual que me é desconhecido. Mas, no fundo, não me importo...
É relativamente reduzido o leque de blogs que me interessam e que eu leio com atenção e constância. Tal como na vida, a minha intuição, tantas vezes certeira, não é infalível. Já me enganei, pela positiva e pela negativa, que isto, apesar de ser verdade que de certo modo nos revelamos sempre mais ou menos no que escrevemos, também como me disseram há dias "quem lê palavras não vê corações".
 Encontrei de tudo um pouco: os egos demasiado inchados, os pseudo-intelectuais e os escritores frustrados, o mau feitio, o insulto e a falta de educação, os obsessivos e as mentes verdadeiramente perturbadas, os dissimulados e os que se escudam no "anonimato" para dizer o que pensam, o que é para mim incompreensível.
Mas depois há também o lado bom: há os amigos que fiz e as pessoas encantadoras que pude conhecer, afinidades e afectos que se instalam e se fortalecem, e tudo o que nos encoraja e conforta, com a natural subjectividade que têm sempre estas coisas.
Hoje, percebo que tudo isto é afinal bem mais complexo do que me parecia ao início. Mas para mim continua a valer a pena. Estou como sou, não quero nem preciso de provar nada a ninguém. E, apesar de tudo, encontro por aqui, até em opiniões que não partilho, pensamentos, sentimentos, humor e gostos que me fazem rir, enternecer-me, emocionar-me, ou reflectir; muita coisa que não sabia ou em que nunca tinha pensado, pelo menos daquele modo; e novas formas de comunicar e até, de certo maneira, de viver melhor.
Há os blogs por onde passo todos os dias, onde me demoro e para onde vou "descansar" com o mesmo à-vontade com que estou no sofá lá de casa ou a uma mesa entre amigos, porque é onde me sinto bem; há aqueles que apenas "espreito" de vez em quando, que por uma razão qualquer não me prendem nem tocam tanto, e onde só vou quando tenho mais tempo e vontade. Há os que não conheço porque ainda não cheguei lá; e uma infinidade de outros que não me importam. É que, mesmo sendo assumidamente curiosa, ignoro o que não me interessa.
Esta é uma paixão recente, repentina e assolapada, que não sei quanto vai durar. Mas, enquanto durar, faço como de costume: guardo as coisas boas e deito fora o resto.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Um filmezinho simpático



Há alguns actores, acho eu, que fazem qualquer filme valer a pena. Como Helen Mirren, por exemplo. Saber que ela constava do elenco deste The Hundred-Foot Journey ("A Viagem dos Cem Passos", em português) foi, por isso, motivo suficiente para querer ver o filme.
Realizado pelo sueco Lasse Hallstrom - o mesmo de Chocolate - tem também a gastronomia como leitmotiv para uma história banal, de final cor-de-rosa e carregada de lugares-comuns, onde não faltam as diferenças culturais, e passa-se, de igual modo, no ambiente de uma pequena aldeia em França, pois claro, país conhecido pelo requinte gastronómico e as tendências xenófobas mais ou menos acentuadas da sua população. Tudo muito previsível, num registo entre o drama e a comédia romântica...
E, no entanto, mesmo não sendo um grande filme, é um filmezinho leve e despretensioso, que se vê muito bem, que nos faz passar duas horas agradáveis e sair bem-dispostos. Tem o apelo sensorial, nas cores fortes e na evocação dos cheiros, sabores e segredos da cozinha indiana, que lentamente se funde com o raffinement e a elegância francesas; e tem, naturalmente, aquela fantástica Helen Mirren, que enche o écran, majestosa na sua intolerante, inflexível e quase austera Madame Mallory que, ainda que aos poucos se vá tornando mais complacente e mesmo terna, não deixa de evocar o papel que fez em The Queen, de Stephen Frears, e que lhe valeu o Óscar da Melhor Actriz em 2007.

sábado, 16 de agosto de 2014

Contagem decrescente

 
Todos os anos era igual. O meio de Agosto, mais que qualquer outro mês do ano, marcava uma viragem. A partir dali  o Verão começava a despedir-se lento, espreguiçando-se ainda vagarosamente em dias de sol e noites de aragem branda, a cidade voltava a encher-se aos poucos e, de forma subtil, os dias iam também ficando mais curtos. Aqui e ali apareciam sinais de  mudança e recomeço, às vezes demasiado visíveis, outras difusos e longínquos.
Desta vez era o mesmo e, no entanto, era diferente. Vivia entre o sobressalto e a calma, entre a mansidão de quem sabe o que quer e consegue antever o que espera, ansiando novidade, desafio, projectos novos, e a inquietação da incerteza, a nostalgia de um tempo que não volta, e milhentas perguntas que lhe passavam pelo espírito e para as quais não tinha resposta nenhuma.
Mas quando se sentava  calada a olhar a claridade do rio e sentia na cara e no  cabelo a brisa da tarde, ou quando pousava os pés na areia húmida da praia e o corpo estremecia com o contacto da água fria, quando deixava os olhos perder-se naquela imensidão quieta ou no ir e vir das ondas de espuma, que a seduziam e atemorizavam de igual modo,  então o coração sossegava; e entregava-se ao devaneio: deixava que o pensamento fosse só fantasia, tomado pelos mais secretos desejos, que lhe pareciam muito perto de ser realidade, embalados assim, pelo vento e o mar.
Era então que  acreditava realmente que seria grande e bom o caminho  novo que estava quase a começar e  até, quem sabe, melhor ainda que tantas insensatas quimeras com que se punha a sonhar no calor das noites de Verão.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Tudo só sentimento


Hoje, não quero saber. Não me venham falar do Tribunal Constitucional ou do Novo Banco, nem de sustentabilidade ou crescimento, nem de nada do que é banal e costumado. Porque hoje eu sou toda pele, emoção e sentimentos; e quero ficar assim quieta, silenciosa, ensimesmada, que "um dia não são dias"...



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ela sim, uma diva...



Uma vez mais, é de Pedro Correia o melhor texto que li hoje sobre Lauren Bacall. Está no "Delito de Opinião", mas eu transcrevo-o aqui, inteirinho, porque acho que vale realmente a pena lê-lo.
E numa altura em que há por aí tanta pseudodiva, dando-se ares disto e daquilo sem ter de quê, aí está a prova mais que evidente de que não é "diva" quem quer, mas só o é quem pode. Sem precisar de mais nada...

Bacall 'in excelsis'
por Pedro Correia,

Tinha um jeito único de olhar. Que lhe vinha de uma timidez profunda: poucos suspeitavam dela, chegando a confundi-la com sobranceria ou arrogância.
Baixava a cabeça e mirava-nos daquela forma, com os olhos em ângulo ascendente. E foi assim fotografada uma e outra vez, milhares de vezes, pelas câmaras que procuravam a sua prodigiosa fotogenia.

Era um olhar inconfundível: não houve outro como este no cinema.

Lauren Bacall era a última de uma estirpe rara. Vinha de um tempo em que a fama estava longe da banalização hoje tão corrente e transportava ecos dessa época tão distinta da nossa, em que havia um toque de mistério e majestade associado a quem imperava no mundo do espectáculo.
Era uma deusa do celulóide, como Ava Gardner, Rita Hemingway, Gene Tierney, Grace Kelly, Elizabeth Taylor e a eterna Marilyn Monroe. Cada vez que iluminava um pedaço de celulóide produzia em nós, mortais espectadores de osso e carne, o efeito de uma aparição.
Certas pessoas são assim: impõem-se pela sua presença. O cinema, quando não receia ombrear com qualquer outra forma de expressão artística, potencia e amplifica esta aura. Com a vantagem acrescida de ser um repositório excepcional de momentos inapagáveis.
Por este motivo teremos sempre Lauren Bacall entre nós. Atirando a Humphrey Bogart -- paixão na tela e na vida -- uma das mais fantásticas deixas de que há memória na Sétima Arte. Foi em To Have and Have Not -- o primeiro filme dela, o primeiro filme deles, rodado em 1944. Chamava-se Slim nessa fita, nome adequado para designar a figura esbelta que nunca deixou de ter.
Slim olhava Bogart, que ali se chamava Steve, daquele jeito único. Confessou muitos anos depois, num livro de memórias, que estava aterrorizada no momento em que rodaram a cena, filmada por Howard Hawks com base num roteiro de William Faulkner inspirado numa novela de Ernest Hemingway.
Tinha apenas 19 anos e mal ocultava o pânico de estar num plateau cinematográfico, rodeada de celebridades. O que contribuiu para lhe baixar o tom de voz, já grave por natureza. E acentuar a intensidade daquela mirada tão singular e tão expressiva.
Ao vê-la, ninguém a suporia sequer nervosa. Isto ajuda a perceber o fascínio da arte de representar, ao alcance apenas de alguns eleitos.

«Sabes assobiar, não sabes, Steve? Basta juntar os lábios... e soprar», disse-lhe Slim/Bacall.
Steve/Bogart ficou preso para sempre àquela voz, àquele olhar só gélido na aparência.
Juntaram os lábios, os corpos, as almas e viveram felizes como nos filmes. Até a morte dele os ter separado.
Hoje bem cedo, tantos anos depois, alguns cinéfilos escutaram um assobio vindo de muito longe.
Sinal inequívoco: eles voltaram a encontrar-se.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

História(s) de amor



Contrariamente à maior parte das pessoas, não tenho de todo o "apelo de África". E, no entanto, este é sem dúvida um dos filmes da minha vida. Talvez porque não resisto a uma bela história de amor...
Talvez porque, além da história, há a música e as imagens, e  Meryl Streep com Robert Redford, e tudo parece conjugar-se na perfeição para nos fazer acreditar e sonhar.
Ou apenas porque o amor é um pouco de tudo isto: fortaleza e fragilidade, novidade, confiança e entrega.
Não sei por que razão fui lembrá-lo agora. Será porque, segundo dizem, - embora eu acredite pouco nestas coisas -, as mulheres de "Peixes" são umas incorrigíveis românticas; ou simplesmente porque, hoje, também eu me deixaria levar assim, pelo céu ou pela terra fora, ao sabor do vento e da vontade.

domingo, 10 de agosto de 2014

Uma questão de educação


Define as pessoas, faz toda a diferença  e é das coisas que mais valorizo e aprecio. Fundamental!...

sábado, 9 de agosto de 2014

O que está escrito nas estrelas


Eu acredito que os encontros felizes não acontecem só por acaso e são também obra do destino, que há pessoas que chegam à nossa vida para nunca mais de lá sair, e que há almas e corações tão próximos uns dos outros, que acabam sempre por reunir-se.
E sorrio, em silêncio, na alegria reconfortante fundada naquele reduto de sentimento que não precisa de palavras, e na felicidade serena de uma certeza que apenas se intui e aos poucos se vai confirmando no fundo dos olhos, na surpresa boa de quem chegou agora mesmo e parece estar comigo desde sempre, e que faz com que o tempo de estarmos juntos passe a correr, e os laços se vão fortalecendo subtilmente, no bom humor de risos, e palavras, e momentos partilhados, e na magia dos instantes em que de repente nos sentimos mais próximos e deixamos, simplesmente, a vida fluir.
E relembro aquela frase, tão batida, de Pascal: le coeur a ses raisons que la raison ne connaît  point, enquanto na minha cabeça ecoa a voz de Bethânia: a vida podia ser bem melhor e será / mas isso não impede que eu repita / é bonita, é bonita  e é bonita...

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Na orla do mar


Na orla do mar,
no rumor do vento,
onde esteve a linha
pura do teu rosto
ou só pensamento
(e mora, secreto,
intenso, solar,
todo o meu desejo)
aí vou colher
a rosa e a palma.
Onde a pedra é flor,
Onde o corpo é alma.

                                    Eugénio de Andrade (Até amanhã)

(Há certos dias em que só no silêncio, ou na poesia, encontro alguma resposta a uma inquietação mais ou menos funda, mais ou menos difusa, que não chega às palavras.
E queria, também eu, saber as palavras necessárias para conservar ainda os olhos abertos ao mar, ao céu, às dunas, sem vergonha, como se os merecesse e a inocência pudesse, de quando em quando, habitar os meus dias.)
 
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Reconstrução


Há muito tempo, um ano talvez, alguém me falava do blog usando a metáfora da casa. Para me explicar que, num e noutro sítio, só recebemos quem queremos.
Hoje, entendo isso muito melhor. E concordo. De certa maneira, um blog é como uma casa: um espaço, estranho ao início, a que nos vamos afeiçoando devagar, de que cuidamos com esmero e atenção, na forma criteriosa e dedicada com que escolhemos cada pormenor  - que aqui são assuntos e palavras,  são imagens e música, ou  poesia, até - nos recantos que se vão transformando em zonas de conforto e noutras de maior intimidade, que vai ganhando a nossa marca até ser um espaço onde sabe bem chegar, estar, ficar, e também receber os amigos, impondo um  limite razoável entre público e privado, que permite que todos possam espreitar pela janela, mas não passar para lá da porta, porque aí o acesso é restrito e reservado apenas a alguns.
Foi, por isso,  tristeza e desânimo o que senti, quando há dois dias constatei que  uma "parede" se desmoronara, sem que eu saiba explicar exactamente o que fiz de errado, ou o que apaguei e não devia.
Assim, sem mais nem menos, fiquei sem  as fotografias dos quinhentos e vinte e cinco posts destes dois anos e três meses. Todas. Naquele meu "mau jeito" que, volta não volta, me deixa ficar mal. Que chega mesmo a envergonhar-me consideravelmente. E, desta vez, nem o meu habitual "anjo da guarda" me pôde valer...
Resultado: perante isto só há uma solução. Voltar a publicá-las. Uma a uma. Uma trabalheira gigantesca, pois, que muitos acharão não valer a pena. Mas para mim vale, sim. Por tudo. Porque não gosto muito de blogues sem imagens. E porque gosto da "casa" apresentável. Demoro o tempo que for preciso, mas vou reconstruir tudo, aos poucos, passo a passo, até voltar ao que era. Só porque aqui, como noutros lugares, preciso de me sentir bem, em harmonia com o que me rodeia. E porque, tal como em casa, encontro no blog, de alguma maneira, um refúgio onde gosto e preciso, às vezes, de me abrigar.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Muitos anos depois


Há sempre alguém que nos diz tem cuidado 
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco 
Há sempre alguém que nos faz falta 
Ah... Saudade! 

Foi, ao que parece, neste quarto dia do mês de Agosto, mas há muitos anos, em 1976, que começou o Trovante. Não sei bem o que andava a ouvir nessa altura, já tão longínqua, mas só sete anos mais tarde, em 1983, lhe prestei atenção. E foi amor à primeira vista, o que é raro acontecer-me.
Durante os anos seguintes, até à extinção do grupo, em 91, andei com ele para todo o lado, literalmente, e também na cabeça e no coração. Quem é mais ou menos da minha idade, gostando ou não, sabe que o Trovante marcou uma época, como marcou indelevelmente a minha vida.
E foram incontáveis as vezes em que, nas melodias e nas palavras, encontrei o que me permitia preencher os dias de paz e de fantasia, nas horas boas e más em que as palavras falham e só queremos uma música e uma voz que nos embale o silêncio, o prazer, a alegria, o desgosto; e que nos toque no fundo da alma, e nos leve para longe, a sonhar.
Hoje, confesso, é raro ouvir estas canções, mas ficam milhares de boas memórias e, às vezes, como agora, alguma saudade; e a certeza de que o Trovante é também um pouco meu; e que estará para sempre coladinho à minha história.



domingo, 3 de agosto de 2014

Mais do mesmo...


Quem me conhece bem sabe da minha indisfarçável aversão pelos socialistas, que inclui Costa, Soares e tutti quanti, principais responsáveis pelo "estado a que isto chegou".
Mas o expoente máximo desta turba continua a ser Sócrates, que concentra em si, desmesuradamente, tudo o que há de mau em todos eles. E nem sei o que é  mais irritante: se o linguajar de baixo nível, a meio caminho entre o popularucho e o rasca, se aquele ar de prima donna indignada e ofendida, de olhos muito abertos a piscar repetidas vezes, ou a "esperteza saloia" de achar que pode fazer toda a espécie de "trafulhices", porque é sempre capaz de enganar toda a gente.
Será um pouco de tudo isso e ainda o resto, que é visceral e eu não sei dizer. E mesmo tendo sido educada para a tolerância, neste caso nada a fazer: é superior a mim...
Por isso gostei muitíssimo de ler o que escreveu hoje  Alberto Gonçalves no DN;  e não posso resistir a transcrevê-lo aqui na íntegra:
  
A revista Sábado fez capa com a revelação de que o comentador televisivo/bacharel em Engenharia/ vendedor de fármacos/mestre em Filosofia Política José Sócrates é suspeito no caso Monte Branco. Com rapidez pouco habitual na Justiça caseira, a Procuradoria-Geral da República esclareceu que "José Sócrates não está a ser investigado nem se encontra entre os arguidos constituídos no processo" em causa, o visado apareceu na RTP a falar de "canalhice", certo PS falou de "campanha negra" e o bom povo dividiu-se na apreciação da notícia. Vamos por partes.
Em primeiro lugar, pelo menos desde que, em 2013, o DCIAP desmentiu qualquer envolvimento de Ricardo Salgado justamente no Monte Branco que os desmentidos da PGR têm uma importância assaz relativa. Em segundo lugar, cabe notar que a sofisticação argumentativa de José Sócrates tende a perder algum impacto por força da repetição das palavras "canalhas", "bandalhos" e "patifes" (para me limitar às reproduzíveis num jornal decente). Em terceiro lugar, nem o trocadilho cromático alivia a velha crença do PS "socrático" de que o Amado Chefe é perseguido pela inveja dos simples mortais. Por fim, resta a devoção cega ou o ódio exaltado que o povo anónimo dedica à criatura, critérios determinantes na crítica ou no aplauso à Sábado.
Este último ponto é tanto mais curioso quanto é costume dizer-se que só as grandes figuras suscitam sentimentos assim extremados. Quem o diz, obviamente, não conhece Portugal, onde, de Salazar a Cunhal, as paixões e as fúrias distinguem rematadas mediocridades. Mas talvez nunca tivessem distinguido uma mediocridade do calibre de José Sócrates, vulto que apenas se destaca pela particular inépcia, pelo descaramento acima do comum e por uma tendência para ver o seu óptimo nome envolvido em 85% das trapalhadas que a nossa Justiça tenta "resolver".
Entretanto, outras publicações falam em suspeitas alusivas à compra de um apartamento em Paris por três milhões. Trata-se, evidentemente, de nova canalhice e da velha campanha. Negra, como se impõe.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Um imenso Domingo


Agosto é isto! O país posto em "pousio", tudo a "banhos" no Algarve ou em sítios igualmente insuportáveis e apinhados, lojas fechadas para "descanso do pessoal" e uma contagiosa letargia, que faz a vida quase deter-se, ou pelo menos andar mais devagar.
Mas há também um lado bom em tudo isto: é uma outra Lisboa, diferente e mais exclusiva, magnífica e tranquila, que se vai revelando a cada dia, numa sonolenta e lasciva preguiça, que só acontece uma vez no ano. E que nunca é igual...
Não fossem os turistas, cada vez mais numerosos, facilmente reconhecíveis nas cores rosadas pelos excessos do sol, ou no andar indolente, arrastando chinelos pela calçada portuguesa e disparando flashes em todas as direcções, e Lisboa viveria trinta e um dias em imperturbável torpor, até ir sendo despertada pelo regresso a conta-gotas dos veraneantes, e depois, em definitivo, pela vivacidade meio nostálgica da rentrée.