quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Fim de ano



Assim, quase sem se dar por isso, passou mais um ano. Em termos pessoais foi bom. Desafiante. Um ano de mudanças e de crescimento. De amizades novas e amores de sempre. De despedidas e de regressos. De laços que se consolidaram. E de tantas coisas, grandes e pequenas, boas e menos boas, de que se vai fazendo a vida.
Não vivo este último dia do ano em euforia, porque é apenas um novo dia, como cada um dos outros. Guardo as alegrias e os festejos para momentos de celebração só meus, que espero continuem a não faltar. Hoje, como em tantas outras noites, e dias, são as canções brasileiras que me acompanham. Estas:

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

ou

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje eu quero paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

ou ainda

viver e não ter a vergonha de ser feliz,
Cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!

E para lá de todos as esperanças e desejos, promessas ou vontades, saibamos construir o nosso caminho e ser tão felizes quanto possível, porque grande parte dele depende também de nós.
Feliz Ano Novo!



terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Homens...



Quando se trata de gostos, já se sabe, cada um fala por si, todas as opções estão em aberto e as combinações são quase infinitas. Por mim, prefiro homens morenos, sem músculos em excesso e em razoável forma física, com ar forte, mas sensíveis, de olhar profundo e malicioso, sorriso travesso, e aquela vulnerabilidade irresistível que os faz às vezes parecer um menino pequeno a pedir colo e, diante da qual, é impossível não sucumbir.
Não gosto de generalizações, mas há também os pequenos detalhes em que são todos iguais: quando, por exemplo, ao mínimo sinal de constipação soltam a frase típica "eu nunca me senti tão mal em toda a minha vida!" Uma delícia...  

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Sem sucessor


A notícia já se previa, mas não deixa de cair como uma bomba. Paulo Portas, para mim, de longe o melhor político, sem ninguém que lhe chegue perto, sequer, deixa o CDS e a política activa.
Não sei o que será do partido sem ele. Provavelmente morrerá. Basta pensar no que ele foi nos tempos de Manuel Monteiro e Ribeiro e Castro, para referir apenas dois exemplos. É pena. O CDS faz falta à democracia e, apesar de ter gente boa e má, capaz e incapaz, competente e incompetente, como em todo o lado, não vejo no horizonte mais próximo ou mais longínquo ninguém com perfil de líder capaz de agarrar o partido com a mesma garra e brilhantismo, com a determinação e a dedicação de Paulo Portas.
Adolfo Mesquita Nunes é, na minha opinião, o único que estaria mais ou menos ao mesmo nível, em inteligência, conhecimento, cultura, capacidade; mas também ele deixa a política, infelizmente. Sai quem é capaz de fazer a diferença e nós ficamos todos cada vez mais entregues à mediocridade.
Diz-se que "ninguém é insubstituível". Eu acho o contrário. Toda a gente o é. Porque venha quem vier (mesmo que seja excelente, o que não será certamente o caso) nunca será igual.
Paulo Portas lá terá os seus defeitos, como temos todos, mas o que faz bem é infinitamente melhor que o resto. Por isso sempre se destacou tanto. Percebo que tudo tem um tempo, acho que já fez muito pelo país e pelo partido, foi muito maltratado, invejado, odiado, e percebo que queira agora outras coisas que, tenho a certeza, fará igualmente bem. Mas não posso deixar de ter pena...

domingo, 27 de dezembro de 2015

Mimar-se


Sabia que o tempo que dedicava a si era tão importante como o que destinava aos outros. E por isso se deliciava sem pudor nem culpa nas horas passadas a sós consigo, a cuidar do corpo ou do espírito, em silêncio e solidão, demorando-se no banho, espalhando cremes no corpo com o vagar dos dias de férias, lendo um livro, estendendo-se preguiçosamente no sofá, sem pensar em nada, ou deixando o pensamento voar em sonhos de realidade e fantasia misturadas, o olhar perdido em fascínio e quietude diante da lareira acesa.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Tempo de esperança e de ternura


O Natal também é isto: a força de acreditar, a esperança de que nunca estaremos derrotados, a ternura de bem querer, a cumplicidade dos afectos que nos guiam e nos acompanham na vida.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo o que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda  a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

                                   (Alberto Caeiro)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Feliz Natal


Querendo ou não, é impossível escapar ao espírito da época, tempo de emoção e de afectos, de esperança, luz, alegria. De bons sentimentos, também. De pensar ainda mais nos outros e de lhes dizer como são importantes para nós.
Para todos os que por aqui vão passando, e lêem o que escrevo e seguem caminho em silêncio, para os que me dedicam palavras de simpatia e carinho, para os que discordam de mim e o dizem com educação e respeito, para todos os que este mundo me deu a conhecer e a vida fez meus amigos de verdade, para todos os que alguma vez se me cruzaram no caminho e me fizeram pensar o que não pensaria sozinha, para todos os que estão desse lado das palavras e eu não sei quem nem quantos são mas continuo a encontrar encanto nesse mistério, para todos um Natal cheio de saúde, de felicidade, e de amor, que é afinal o que mais importa. 


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Férias de Natal


Parece que o Inverno chega nesta madrugada, segundo os entendidos. Se eu pudesse escolher não seria esta a altura para as férias. Mas, já que é assim, aproveito para estar mais demoradamente com os amigos e preguiçar à vontade, para pensar na vida e me deter por instantes diante do presépio, para me deixar tocar pela esperança e alegria dessa lição de amor e de simplicidade, e ganhar força para o novo ano que aí vem. 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Coisas do coração


É mais ou menos do senso comum, mas hoje dei comigo a pensar que uma das coisas mais extraordinárias do amor é descobrir  que gostamos de alguém que não é como gostaríamos que fosse e, com todos os seus defeitos, ou apesar deles, continuar a gostar.
Depois, por coincidência, ou talvez não, encontrei  no Observador esta animação, que tenta explicar o amor, tanto quanto ele pode ser explicado. O vídeo, que parece já ter um ano, recebeu muitos prémios e foi visto não sei quantas mil vezes. E achei-lhe piada...


domingo, 20 de dezembro de 2015

Desilusão total


Ando há tempos à espera de ver um filme muito bom, daqueles que deixam marca em nós, o que já não (me) acontece nem sei desde quando. O último filme de Nanni Moretti, "Mia Madre", aplaudido de pé no Festival de Cannes e considerado excepcional pela crítica de modo quase unânime, poderia, pensei, reverter a situação. 
Gosto dos filmes de Nanni Moretti, de quem me lembro de ter visto pelo menos "O Quarto do Filho" em 2000 e "Caos Calmo" em 2008. Mas hesitei. Sei que os seus temas se situam na zona sombria da perda, do luto, ou da crise existencial. E o nome do filme não augurava nada de bom. Não tinha a certeza de estar preparada psicologicamente para o assunto, nesta fase da minha vida.
Depois lembrei-me de "Amour", de Michael Haneke, e  de como tinha valido a pena ver o filme, apesar do "murro no estômago" que ele representa também. E lá me decidi.
Mas não gostei. O filme não é tão deprimente como se poderia inicialmente supor, nem é um mau filme, longe disso. Mas não me tocou. Há nele qualquer coisa que falha, uma empatia que não consegue estabelecer-se entre as personagens e os espectadores e que o torna até, de certo modo, um pouco maçador, para lá de um ou outro detalhe mais conseguido. 
Enfim, será talvez de mim, mas de Nanni Moretti esperava muito mais... 

sábado, 19 de dezembro de 2015

Piaf: 100 anos


Cem anos depois do seu nascimento, Piaf continua a ser "a diva" da canção francesa, um nome incontornável da música do mundo e uma referência para os apaixonados da cultura francesa, entre os quais me incluo.
Tenho amigos que detestam a chamada "Chanson française", que para mim é tanto e que tem uma dimensão fundamental na história da minha vida. Julgo que talvez por este ser um tipo de música em que o texto é essencial, quem não domina a língua a ponto de entender todos os meandros do que se diz, para lá da melodia, não consegue percebê-la e amá-la como merece.
A singularidade de Edith Piaf reside justamente na mistura de força e fragilidade, no contraste da sua figura franzina com a garra da sua voz, que fez com que o nome Piaf (pardal, em linguagem popular) lhe assentasse na perfeição. A sua glória opõe-se também a uma trágica história de vida, que Marion Cotillard tão bem soube interpretar no filme La Môme, de 2007, e que lhe valeu o Óscar da Melhor Actriz.
Passados cem anos, ou quase, as canções de Piaf continuam a ouvir-se e ela faz parte do leque dos grandes artistas, que perduram para lá da morte e cuja obra é intemporal. Não há, ainda hoje, quem não conheça "La vie en rose",  "Non, je ne regrette rien" ou "Milord". Para mim, Piaf estará sempre associada a Paris, a cidade que trago no coração.
Gosto de quase todas as suas canções, muitas delas verdadeiros hinos que, ao longo do tempo, me embalaram amores e desamores e me marcaram para sempre. Por isso, faço minhas as palavras que João Gobern escreveu hoje no DN. Estas:
La Môme faria hoje cem anos. Filha de um saltimbanco e de uma cantora de "bas-fonds", a maior voz da música popular francesa só foi feliz depois de morrer. Porque enquanto viveu andou da miséria à tragédia, da doença aos amores perdidos. Para bem de todos decidiu cantar o que lhe ia na alma. De tal forma que, agradecidos, continuamos a ouvi-la e a venerá-la. (...) Deu tudo o que tinha. Deu-nos muito do que temos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Jardins da minha vida (IV)




Situado em frente à Basílica, é mais conhecido pelo nome do bairro onde se situa do que como Jardim Guerra Junqueiro, designação que a maioria dos que o visitam desconhece.
Inaugurado em 1852 e aberto todos os dia entre as sete da manhã e a meia-noite, o Jardim da Estrela é um dos mais românticos e encantadores jardins de Lisboa.
São cerca de quatro hectares de canteiros e de relva, de alamedas e lagos com cisnes, gansos e patos-reais, com estátuas e um coreto em ferro forjado, que é a sua imagem de marca, mas que se situara originalmente noutro lugar, no Passeio Público, que é hoje a Avenida  da Liberdade.
Mas mais do que tudo isto, o Jardim da Estrela é um local calmo e quase silencioso, onde é possível sentarmo-nos tranquilos e sentirmo-nos em paz. É uma das minhas mais recentes paixões, desde que há pouco tenho vindo a descobrir a zona envolvente em todos os seus segredos e detalhes e, devagar, me vou deixando seduzir.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Assim, sim...



Mesmo para quem gosta muito do que faz é fácil às vezes deixar-se levar pelo cansaço ou o desânimo. É muito desgastante a profissão que escolhi; trabalha-se muito e ganha-se pouco, sofre-se grande pressão psicológica a cada dia, em cada hora, e é preciso lidar com muita gente e muitas coisas ao mesmo tempo, cada qual com especificidades próprias e as mais diversas ideossincrasias a funcionar em simultâneo.
E, no entanto, três meses depois da mudança que eu quis, não me arrependo de nada. Foi quase como começar outra vez. Cada escola é um mundo novo, com regras próprias, hábitos, pessoas, modos e tempos diferentes. É preciso observar, aprender, adaptarmo-nos e mudar, sem deixar de ser quem somos, ou de acreditar no que acreditamos, num caminho lento, cheio de altos e baixos, de avanços e retrocessos, de vitórias e derrotas construídas no tempo e na estranheza, de surpresas e cansaços vários, na tentativa de fazer o melhor de que somos capazes e de levar todos aqueles nos foram confiados e dependem de nós o mais longe que eles puderem chegar, o que é também um desafio gigantesco, misto de responsabilidade, de risco e de aventura.
Como em tudo e em todo o lado, encontra-se bom e mau, pessoas fantásticas e outras que é melhor manter à distância, competência e desleixo. Mas, para já, posso dizer que valeu a pena. Foram três meses duríssimos, que chegaram ao fim com um balanço positivo em resultados e em satisfação, mas em que quase tudo foi conquistado a pulso, a cada minuto contado no relógio. Que, ainda assim, me fizeram perceber com mais clareza que gosto disto, malgré tout. E se dúvidas houvesse, elas dissiparam-se hoje, quando li isto num dos noventa e não sei quantos texto de auto-avaliação:
Hoje sinto que sou uma boa aluna a Português, mas nem sempre foi assim (...) percebi que desde que a escrita de textos se tornou algo semanal para mim, alguns desses problemas, como a falta de ideias, dificuldade em estruturar o texto, etc, melhoraram muito. (...)
Vim a descobrir que gosto muito mais da disciplina de Português do que algum dia achei que viria a gostar e, apesar de às vezes não ficar muito entusiasmada quando a professora nos manda escrever um texto durante a aula, cada vez acho as aulas de Português mais interessantes. 
Pode até soar a presunção, mas para além de tanta novidade e dos bons resultados com que fechamos esta etapa, esta é para mim a verdadeira recompensa de três meses de muito trabalho, e a certeza de que é sempre possível fazer um pouco mais, ou ainda melhor.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Íntimo(s)


Este é também o tempo da intimidade e do sossego, dos lanchinhos à lareira e do calor da casa, de amigos e de amores, de longas e boas conversas, de bebidas quentes, de harmonia e de abraços apertados. E, na verdade, há muito poucas coisas melhores que o abraço de quem se quer bem...

(Fotografia do blogue iznotmeizyou)


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O que não se explica


Dizem que os grandes amores não podem explicar-se, que são maiores do que as palavras e existem para além delas, naquele lugar fundo, dentro do peito, onde tudo é apenas emoção e sentimento. 
É talvez isso que me faz ter vontade de voltar muitas vezes aos "meus" lugares, onde me reencontro e pacifico, e donde volto mais eu.

Y yo sé
Que Sevilla tiene algo
Que será ese "no sé qué"
Que si de Sevilla salgo
Tan solo pienso en volver

(Fotografia de Carmen Pizarr)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Um ano depois


Passou um ano em que a nossa vida mudou muito. Nunca guardo muitas recordações dos dias maus e, por isso, são difusas as minhas lembranças desse dia 7 - um dia de que eu gosto tanto!... Não sei bem o que senti ou pensei, o que disse, o que fiz.
Sei apenas que esse nosso Domingo foi muito diferente de todos os outros. E que havia sol, embora nem dessemos por isso. Recordo vagamente a ambulância a apitar, correndo desenfreada, subindo e descendo ruas que eu não conseguia ver, e finalmente o destino, que me pareceu situado no fim do mundo.
Depois, foi um mês inteirinho de incerteza e angústias, de sofrimento e solidão, que nenhum abraço ou palavra podiam atenuar. E foi assim, no meio desta inquietação com o que viria a seguir, que chegou o Natal, vivido em silêncio, no calor das mãos apertadas a contrastar com o ambiente frio de um quarto de hospital.
Entretanto passou o tempo e, devagar, um dia de cada vez, tivemos que nos habituar a novas realidades e aprender a viver com elas, na tranquilidade possível. Não imagino o que pensas e sentes nesse mundo quieto e sem palavras em que vives agora, mas gosto de te ter ainda do lado de cá da vida, de te contar as minhas histórias sem saber se as ouves, se as percebes, se reconheces a minha voz e o meu riso, se ainda sabes quem eu sou; gosto de te ver agarrada à vida, mesmo se são frágeis os fios que te prendem a ela, e se me pergunto muitas vezes se viver assim ainda é viver.
Mas é quando me olhas com os teus magníficos olhos verdes, quase sempre tranquilos, ou  às vezes sombrios, quando muito raramente me sorris ao ver-me chegar, quando passas a mão na minha cara e tentas dizer-me palavras que eu não compreendo, que percebo que tudo se inverte na nossa forma de existir, e que tal e qual como quando eu ainda não chegava às palavras  são agora as palavras que já não chegam a ti; e é então que tenho a certeza que, manifestando-se em presença e mimos, pelos olhos e pelo toque, como no princípio, o nosso amor permanece igual, ou até, talvez, mais forte ainda.

BFF: Helena


Todas as pessoas que amamos são especiais à sua maneira e têm um lugar importante e insubstituível no nosso coração e na nossa vida. 
Mas depois, há também aquelas pessoas que não têm idade, que não somam anos mas só experiência e sagesse, e que espalham sempre à sua volta muita luz e alegria.
A Helena é uma dessas pessoas excepcionais, com uma força e um humor únicos, que sabe aproveitar e revelar o lado melhor da vida, e que eu, por um acaso do destino, daqueles que parecem escritos nas estrelas, tive o prazer e o privilégio de poder conhecer "ao vivo e a cores". 
Tornámo-nos amigas muito depressa e hoje somos muito próximas, e rimos como adolescentes quando estamos juntas, tal e qual como os velhos amigos. 
E é porque hoje o dia é todo dela, e porque esta nossa amizade é mais uma daquelas bençãos que eu devo agradecer a Deus e à Virgem do Rocío  que, apesar das más lembranças que esta data me traz também, eu  a assinalo aqui, - pois é a vida que deve ser celebrada - e lhe deixo um beijo enorme de parabéns, além dos que já lhe dei e dos que vou dar ainda.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Jardins da minha vida (III)



Situado no centro da cidade, o Parque Eduardo VII, começou por chamar-se Parque da Liberdade, mudando depois de nome, como forma de homenagear o rei de Inglaterra que entretanto visitara Lisboa. Obra do arquitecto Francisco Keil do Amaral, o "Parque", como é normalmente conhecido, existe desde o início do século XX e é, ainda hoje, um dos mais emblemáticos locais de Lisboa.
Os seus 26 hectares incluem a Estufa Fria do lado oeste e o Pavilhão dos Desportos, mais tarde designado Carlos Lopes,  do lado oposto, e um miradouro no topo norte de onde se pode observar uma das mais bonitas vistas sobre o rio. É também no alto do Parque que é hasteada uma bandeira nacional de tamanho XXL, que por tradição havia sempre um presépio de grandes dimensões na época do Natal e que, desde 1997, existe um controverso monumento ao 25 de Abril da autoria de João Cutileiro.
Quando eu era pequena, o Parque Eduardo VII era o jardim que ficava mais perto da nossa casa e tinha um parque infantil que era um dos meus locais favoritos e fazia as minhas delícias. Nele  passei inúmeras tardes de aventura e diversão, experimentando habilidades nos baloiços e escorregas, inventando jogos, correndo e saltando, na despreocupação inocente desses anos em que o mundo nos parece simultaneamente simples, misterioso e encantador.
Mas tenho também uma má memória associada a este lugar que, ainda que aparentemente insignificante, me marcou de forma profunda. Foi quando, numa dessas tardes, o meu pai que sempre nos acompanhava e se sentava a ler no mesmo lugar, observando-nos de longe, resolveu esconder-se para ver como reagíamos ao verificar que ele não estava ali.
Relembro, até hoje, aquele momento de aflição em que olhei para o banco do costume e percebi que o meu pai não estava lá. Teria uns quatro ou cinco anos, não mais. Sei que pensei de imediato que não sabia como voltar para casa sozinha e senti-me verdadeiramente perdida. Não sei quanto tempo passou até o meu pai se mostrar de novo, nem sei se me pus a chorar, se chamei a minha irmã, ou o que fiz a seguir. Mas, durante muitos anos, mesmo já bem "crescidinha", aconteceu-me muitas vezes, a cada vez que  perdia de vista quem me acompanhava, num sítio qualquer, voltar por instantes àquela mesma sensação aflita do "e agora?"
De facto, há brincadeiras parvas que se fazem com as crianças, que deixam marcas que não poderíamos supor.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Se (eu) fosse...


Quando eu era adolescente, tinha um grande grupo de amigos com quem me encontrava todos os fins de semana. E, entre muitas outras coisas, fazíamos às vezes o jogo do "se fosse..." para testar a  que ponto nos conhecíamos. Era mais ou menos assim: um de nós tinha que adivinhar de quem estávamos a falar, fazendo perguntas começadas por "e se fosse...", a que os restantes tinham de responder com o que considerassem mais próximo da personalidade e maneira de ser do(a) visado(a).
Muitos anos depois, em 2010, cerca de um ano após a minha adesão ao Facebook, retomei a brincadeira, mas desta vez só comigo, numa nota que redigi em jeito de apresentação. Redescobria-a um destes dias, ao fazer por lá uma "limpeza". E não deixou de me surpreender que, ainda que tenha sido feita há cinco anos, o que diz de mim continue a ser verdade...

Se fosse um mês: Março (porque faço anos e chega a Primavera. Porque de Março até ao final de Junho é a altura do ano de que eu mais gosto)

Se fosse um dia da semana: Sexta-feira (o dia livre dos últimos anos, a antecipação do fim de semana)

Se fosse uma hora do dia: final da tarde, em Lisboa, junto ao rio, ou no Chiado. Em Paris, no Jardin du Luxembourg

Se fosse uma estação: Primavera

Se fosse uma direcção:  Sul (de Espanha...)

 Se fosse um país: Espanha (pela alegria) França (pelo requinte e o pensamento)

 Se fosse uma cidade: Paris

Se fosse um continente: Europa

Se fosse um móvel: sofá (onde eu gosto de estar quando estou em casa...)

Se fosse uma bebida: vinho tinto, claro!
 
Se fosse um pecado: preguiça (para apreciar vagarosamente todas as coisas boas) 

 Se fosse uma fruta: Pêssego (quando se vê  por fora não se imagina como é por dentro)

 Se fosse um elemento da Natureza: mar calmo num fim de tarde de Verão

 Se fosse uma paisagem: uma cidade movimentada, ou uma praia deserta

 Se fosse um elemento: Água

 Se fosse uma cor:  Azul

 Se fosse um festival de música: Rock in Rio

  Se fosse um insecto: Uma Joaninha

 Se fosse um som:  gargalhada

 Se fosse uma canção:  Caçador de mim de Milton Nascimento ou Perdidamente de Luís Represas

 Se fosse um sentimento: amor sem limites nem obrigações

 Se fosse uma personagem da mitologia grega: Orfeu (a poesia, a música, o amor excessivo, a incapacidade de resistir à tentação)
  
 Se fosse uma palavra:  agora

 Se fosse um lugar:  Uma cidade cosmopolita

 Se fosse um sabor:  doce

 Se fosse um cheiro: terra molhada depois da chuva

 Se fosse um verbo: viver

 Se fosse um objecto: caneta

 Se fosse uma parte do corpo: cabelos

Se fosse uma expressão facial: piscar de olho

 Se fosse uma manifestação de afecto: um beijo sonoro ou um abraço apertado

 Se fosse um filme: As asas do desejo

Se fosse um quadro: Impressionista (Monet, Impression Soleil levant)

Se fosse um livro: Aparição

 Se fosse um número: 7

Se fosse uma letra: A (porque é por onde tudo começa...)

Se fosse um acento: circunflexo

Se fosse um sinal de pontuação: Reticências (Há sempre mais qualquer coisa a dizer...)

 Se fosse uma peça de roupa: mini-saia ou vestido

 Se fosse uma peça de calçado: sapatos de salto alto, modelo clássico

 Se fosse um acessório: óculos de sol

 Se fosse um advérbio: imenso
 
 Se fosse um palavrão: merda
 
 Se fosse uma sensação: liberdade

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Sinceramente não estou para festas


Quando chega Dezembro, já se sabe, a vida agita-se e enfeita-se excessivamente, numa euforia festiva que se vai sobrepondo à essência da época e lhe vai retirando sentido.
Há as ruas iluminadas e as canções que mantêm uma certa magia evocativa da infância e do tempo em que a celebração do nascimento do "Menino Jesus" vinha embrulhada em poesia, mistério e encantamento, em gestos e  em rituais, e em que tinham grande significado e destaque a missa do Galo, o almoço de Natal e o enorme presépio no móvel da sala de jantar.
Mas hoje, por onde quer que se ande, há sobretudo o trânsito insuportável e os sacos a transbordar de compras que atravancam tudo e importunam até os que, pelas mais diversas razões, preferem ignorar o consumismo e esta versão da alegria  de plástico, bem mais oca e fugaz, pronta a usar e deitar fora.
Um dia ouvi dizer que esta é uma época bela na aparência, mas também violenta do ponto de vista emocional; e de certa maneira é um pouco assim.
Este ano não me sinto de modo algum tocada pelo espírito natalício. Por isso decidi só enfeitar a casa com um presépio em cada divisão, como sempre faço, mas sem bolas, nem estrelas, nem nada mais. Haverá a missa, que continua a ser para mim um tempo e espaço fundamental das minhas festas, e duas ou três inevitabilidades familiares, sociais, afectivas. E depois é só esperar que passe depressa, e que volte o silêncio e a paz.