sábado, 25 de junho de 2016

O que fica


Tinha passado muito tempo desde aquela noite fria de Dezembro em que, sem o dizer, se tinham prometido tomar conta um do outro para sempre. Depois, tinham deixado a vida correr, perdendo-se e encontrando-se nas suas imensas voltas e reviravoltas, até se saberem de cor como se já tivessem nascido juntos. 
Claro que houvera bom e mau, risos e lágrimas, claridade e escuridão, tristeza e felicidade -  tudo em doses imoderadas. E se os anos tinham mudado muita coisa, havia também a serenidade cúmplice de quem se entende mesmo no silêncio, o conforto que vinha da certeza de se terem, de se saberem sempre perto pelo lado de dentro, e do laço apertado que continuava a prendê-los e era impossível de desatar.
E até havia dias em que o seu coração ainda estremecia e se sobressaltava quando o via chegar; e sabia que não havia toque de pele mais arrepiante, nem calor igual ao do seu abraço, ou olhos que chegassem mais fundo que os seus. Afinal há muitas formas de amor, e aquele era agora todo feito de harmonia, de estímulo e de uma doçura existente para lá de todas as palavras, onde cabiam todos os afectos do mundo. 

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Dá cá um balão


Como se não bastasse ser João o  nome masculino de que eu mais gosto, estes são para mim dias de festa e alegria, por motivos muito meus. É uma altura do ano especial. Vamos lá brindar, pois, à vida, sobretudo, que tem tanta coisa boa para nos dar....

terça-feira, 21 de junho de 2016

Já aí está o Verão


Foi ainda agora, às vinte e três horas e trinta e quatro minutos do dia 20 que, segundo os entendidos, o Verão chegou este ano. Mas nem era preciso esta informação. Mesmo para os mais distraídos, o dia foi longo, como lhe competia - o mais longo do ano -  e quente como se quisesse anunciar: "aqui estou eu!"
Este ano, segundo li no Observador, o solstício de Verão coincide com a lua cheia, uma raridade, que só acontece a cada 70 anos. Razões para festejar não faltam, pois...
Mas o Verão não é a minha estação preferida, apesar da despreocupação e liberdade que lhe estão associadas. É um tempo demasiado peganhento, de excessos e de desleixos vários, mas também de coisas boas, de lentidão e de fruta fresca, de preguiças e de sestas, de peles a saber a sol e a mar, de sentidos mais despertos e amores passageiros e inconsequentes. De luas enormes, de cigarras a cantar, de leveza e quietude. 
No fundo, o Verão é quase como um grande parênteses até ao novo recomeço do mês de Setembro. E é esta diversidade cíclica, sempre igual e diferente ao mesmo tempo, que nos seduz.

(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Todas as possibilidades em aberto


Não tem o glamour das grandes divas, mas é sem dúvida um dos nomes maiores do cinema francês. Tenho a sensação de que Isabelle Huppert faz sempre tudo bem e que, apesar da sua figura franzina e dos seus 63 anos sem botox nem pele esticada, tem uma dimensão de interioridade que é a sua força e singularidade. 
Lembro-me de a ter visto, por exemplo, em Huit Femmes, de François Ozon, em 2002, e dez anos depois num registo radicalmente diferente, no inesquecível  Amour, de Michael Haneke. Por isso, mesmo sem nunca ter ouvido falar de Mia Hansen-Love, achei que valia a pena ir ver L'avenir ("O que está por vir", na tradução portuguesa). E não me arrependi.
Porque o filme é Isabelle Huppert e ela é, como sempre, sublime neste papel. E, como sempre, extremamente convincente, quando ri ou quando chora, quando fala ou quando se mantém em silêncio. Para quem gosta de filmes de acção, que não é o meu caso, este será talvez um filme onde não se passa quase nada.
Com a filosofia como pano de fundo, em especial Pascal e Rousseau, o que o filme (nos) faz é o que a personagem principal tem como lema na sua vida profissional: levar os outros a pensar por si mesmos. Por isso não dá respostas, nem receitas. Mostra-nos uma mulher de meia-ideia que se confronta com uma série de mudanças - a partida dos filhos, a ruptura conjugal, a morte da mãe - e que aprende a viver com elas, reinventando a vida, adaptando-se à nova liberdade com tudo o que há nela de bom e de mau, descobrindo novas realidades.
Não é um filme deprimente, nem demasiado alegre. É doce e melancólico, de certo modo. Transmite acima de tudo autenticidade; e deixa-nos a pensar que é sempre possível mudar, que todas as possibilidades estão permanentemente em aberto, e que muito do que vai sendo a nossa vida depende em grande parte de nós. Eu gostei...

Cocó de cão


Como se não bastasse o excesso de cocós de cão pelos passeios de Lisboa, há também quem se permita deixar as porcarias feitas pelo seu "loulou" na areia da praia. E pergunto-me  como se pode ser tão pouco civilizado... 
Devia haver uma espécie de EMEL para casos destes, com multas pesadíssimas, que poderiam mesmo ir até à proibição de passeio no espaço público.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Figurões

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Se no mundo real, nas suas várias dimensões (pessoal, profissional, social), nos deparamos muitas vezes com verdadeiros "casos", é no mundo virtual, redes sociais e afins, que surgem as mais estranhas figurinhas, convencidas que são alguém, dando excessiva importância ao que não tem valor algum, de egos descomunais a denunciar complexos e fragilidades várias, com comportamentos irracionais e opiniões falsas e/ ou irreflectidas, tudo cobardemente ocultado atrás de um écran e de um teclado, muitas vezes sob um nome falso e sabe-se lá que mais. Meeeedo!
Felizmente há de tudo, mau e bom, como na vida. É só saber fazer a selecção e manter à distância o que não interessa. Por uma questão de saúde...

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Pour la vie...


Tu pourras dire n'importe quoi
Puisque l' amour c'est tout
Ce qu'il reste entre toi et moi
Ça nous suivra partout

quarta-feira, 15 de junho de 2016

O encanto das cidades















Gosto de cidades. Gosto do cheiros e do emaranhado das ruas, da calma e do movimento, de observar as pessoas e as tonalidades que marcam as várias horas do dia e da noite, de adivinhar como será viver nelas. 
Posso agora acrescentar Amsterdão às cidades que me fascinam e que, curiosamente,  - ou talvez não -, são todas cidades com muita água. Amsterdão tem, além disso, o colorido das flores, a velocidade das bicicletas, que estão por todo o lado, juventude e diversão. Sente-se em cada recanto, em cada esplanada, um ambiente ocioso e quase festivo, como se a vida fosse sempre leve e fácil. É uma cidade diferente, marcante, daquelas que se guardam no coração, que não se esquecem, e onde apetece, algum dia, voltar.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

La mejor



Desde que esta paixão tomou conta de mim, já vi muitos espectáculos de flamenco, alguns verdadeiramente muito bons. Mas este, de ontem, ultrapassou tudo. Porque Rocío Molina é de facto diferente e é, sem dúvida, a melhor. Vê-la dançar é perceber isso, é deixar-se levar por aquele turbilhão de garra, emoção e talento desmedidos;  e é uma experiência alucinante, avassaladora, marcante, inesquecível. Para mim, desde que a vi, Rocío Molina será sempre o exemplo vivo do que é um génio.

domingo, 5 de junho de 2016

Arroios


(...) Toda a atmosfera de Arroios é única em Lisboa. Uma mistura de gerações e culturas, idiomas e costumes que, não só convivem harmoniosamente, como precisam uns dos outros para viver. (...) Arroios é este mundo de histórias cruzadas, partilhas de experiências e constante comunicação. É o conjunto de pessoas que, sem se aperceberem, passam a fazer parte da vida umas das outras, ajudando-se a apoiando-se diariamente, nem que seja com um simples olhar, uma palavra simpática ou um gesto bonito. Em Arroios, cada um sabe de si, mas ninguém vai a lado nenhum sem a ajuda do outro.

Quase por acaso, encontrei neste texto de André Marques Vidal publicado no Jornal de Arroios de Maio o que se aproxima do sinto em relação a este bairro que, por uma daquelas inesperadas voltas da vida, é agora também um pouco meu. Não tive ainda tempo suficiente para me embrenhar nele a fundo e explorá-lo em detalhe. Mas já começo a sentir que chego a casa quando me aproximo do Arco do Cego, da Praça José Fontana, ou da Largo de Santa Bárbara; e isso é um claro sinal de pertença.
Gosto deste bairro feito de contrastes e de muitas diferenças, que coexistem em perfeita união. Aqui, há o velho e o novo, o antigo e o moderno, o silêncio e a agitação, o popular e o requintado, o feio e o deslumbrante. Este é um bairro com história e com vida, popular e multicultural, onde se vive a cidade de forma plena, no que há nela de mais misterioso e sedutor.
Passo às vezes em certos locais que me trazem reminiscências de um tempo longínquo, adormecidas nos confins da memória  - afinal a minha infância passou-se num bairro vizinho - e há certos cheiros, ou sons, que me transportam para lugares distantes, como se estivessemos sempre longe e perto do mundo inteiro.
Tudo é ainda muito novo, para já, mas voltar ao centro e viver em Arroios tem sido uma maravilhosa descoberta e uma experiência apaixonante. É bom estar aqui...

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Tempo de praia


Coge tu sombrero y póntelo
Vamos a la playa calienta el sol
Chi ri bi ri bi po po pom pom
Chi ri bi ri bi po po pom pom
Chi ri bi ri bi po po pom pom
Chi ri bi ri bi po po pom pom

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Um mês de festa

(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)



Este é um mês de que eu gosto muito, o mês em que Lisboa vive na rua, que anuncia o Verão e que, em termos mais privados, se festejam também aniversários de pessoas que são para mim muito especiais.
Junho são dias de desassossego e excitação, de alegria desmedida, de cheiro a manjerico e a sardinha a cada volta da esquina. De bailes, música e folia. De Tejo, sol e mar.
É nesta altura que se me altera um pouco a rotina, que começo a baralhar dias e horas, que a vida me sabe enfim a liberdade e o mundo me parece até infinitamente mais belo.