terça-feira, 30 de junho de 2020

Felizes 20



Operación Triunfo, já o disse aqui, é um programa especial, que revolucionou a televisão e a música espanholas e teve, por isso, um sucesso inigualável e difícil de explicar.
Graças a este programa, além do entretenimento que pressupõe, aumentei o meu conhecimento sobre a música, de maneira geral, e sobre a música espanhola, em particular, e pude conhecer, também,  grandes vozes. Mas poucas me encantaram tanto como esta.
Flavio Augusto Fernandez Nicolás, a quem todos conhecem simplesmente como Flavio, é um jovem murciano que traz a música dentro de si desde muito cedo, que começou a tocar piano aos 8 anos e está hoje no segundo ano do Curso Superior de Piano do Conservatório de Múrcia. Tem uma voz única, poderosa, quente e grave. E também compõe, escreve, desenha. Tímido, elegante e educadíssimo é uma daquelas pessoas que têm uma magia qualquer que faz com que as possamos sentir próximas, mesmo sem as conhecermos pessoalmente.
Durante quase meio ano, entre 13 de Janeiro e 10 de Junho, que foi o tempo que durou a 11ª edição do concurso, com confinamento à mistura, pudemos acompanhar o dia a dia daquela extraordinária Academia de Música, seguir em directo as aulas de Técnica Vocal, Interpretação, Composição, Movimento, todas as visitas e "Masterclasses" e acompanhar a par e passo preparação de cada tema de todas as galas. E foram 13, contando com a final. Em todas elas, ganhou particular destaque a evolução e o empenho deste juveníssimo Flavio, introvertido, doce, emotivo, sensível, em tudo diferente do que é habitual neste género de concurso e a destacar-se sempre pela positiva e por uma calma e ponderação invulgares, que fazem parte do seu encanto.
No concurso ficou em segundo lugar, mas com apenas um single lançado -  "Calma" -  há dois meses e já com mais de dois milhões de visualizações no Youtube, prevê-se uma carreira que apesar de estar apenas no começo parece poder vir a ser longa e promissora.
Por mim, só tenho de agradecer-lhe. A sua voz, única, a sua música e aquela personalidade tão "entrañable" tornaram menos penoso o meu confinamento e deram mais alegria e emoção aos meus dias.
O Flavio faz hoje vinte anos. Oxalá continue a ser tão querido como é agora, e leve muitos anos a embalar-nos com a sua magnífica voz e a encher  de música as nossas vidas.
#Felices20Flavio !

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Celebrar a Vida


Fazer 95 anos é uma enorme vitória de vida. E apesar de todas as limitações e constrangimentos de ter chegado tão longe, de todos os silêncios, mágoas e sofrimento, de todas  as forças e fraquezas que encerram tantos anos, enternece-me e orgulha-me essa capacidade de resistência, essa fortaleza, essa vontade de se agarrar à vida, de aceitar a adversidade e de seguir sempre, como se tudo fosse assim mesmo, procurando o lado melhor de todas as coisas, recebendo simplesmente o que vida traz, com essa serenidade que se deixa perceber no fundo dos mais lindos olhos verdes e essa maneira de estar tão peculiar, sempre digna, humilde, doce, tranquila.
É por tudo isto que me sinto imensamente feliz; porque não podia ter melhor mãe.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Força invencível


Passavam os anos e tudo seguia igual. No mais fundo de si, sabia que não havia nada mais maravilhoso que a harmonia secreta que existia entre eles e aquele afecto tão forte e inabalável, que o tempo só tinha fortalecido.
Sabia que esses laços não se explicam nem devem tentar entender-se, e que a sua história era o melhor exemplo disso, com tudo o que tinham vivido juntos ao longo dos anos, num caminho lento e sinuoso, bonito e secreto, feito de intimidade e de partilhas, que só eles conheciam pelo lado de dentro, sem querer  saber do que os outros diziam ou pensavam sem perceber coisa nenhuma.
Ambos sabiam que nem sempre tinha sido fácil, mas que, com o tempo, tinham conseguido compreender e aceitar os seus  lados mais inquietos e obscuros e sabido despertar um no outro o melhor de cada um deles. Que juntos tinham rido e chorado, amuado, sofrido e sido felizes. Que até em momentos de tudo ou nada, de dor ou raiva, de risos ou lágrimas, de coragem ou desânimo, tinham podido agarrar-se um ao outro e ser colo, amparo e aconchego, sem nunca se perder nas voltas da vida, sem nunca poder zangar-se deveras, sem nunca separar-se.
Por isso, agora, era como se se conhecessem desde sempre, como se já tivessem nascido e  crescido juntos. E tinham a certeza de que a vida era muito melhor por se terem um ao outro, que haveriam de se importar e cuidar sempre, para lá de tudo e de todos, porque estavam perto mesmo quando estavam longe, e porque já não precisavam de muitas palavras para se entender. Bastava um olhar, uma mão, um abraço, para saberem tudo o que não precisava de ser dito e perceber que há pessoas que enchem de encanto a nossa vida, que se levam para sempre coladas ao coração, e que a cumplicidade e o entendimento que tinham sabido criar eram um pouco daquilo a que se chama felicidade.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

O prazer da leitura


Las páginas de una novela son un buen lugar donde refugiarse y hacer amigos que, aunque desaparecerán cuando la cierres, siempre quedan un poco en ti.
É um dos meus prazeres de sempre. A leitura é lenta, é silenciosa, mas tem a capacidade de  deixar as palavras adentrar-se em nós, transformar-nos e fazer-nos ver a vida com outros olhos.
E porque tudo tem também um lado bom, poder dedicar mais tempo à  leitura é um dos benefícios desta vida mais vagarosa a que fomos obrigados.

sábado, 13 de junho de 2020

Lisboa silenciosa



Desde sempre, que eu me lembre, nunca os "Santos" foram assim. Hoje, dia da sua festa maior, Lisboa estava vazia e silenciosa, quase triste.
Sem marchas, sem arraiais, sem arcos e balões, sem ruas enfeitadas, sem uma festa em cada esquina, sem vendedoras de manjericos na Praça da Figueira, sem procissão, sem algazarra e sardinhadas, sem ser poder sequer entrar na Sé. Desta vez, faltou a noite em que Lisboa não dorme nem descansa, as cores garridas, os bailes até ser dia. Desta vez, falta a alegria de sempre, toda a gente na rua e a festa desmedida que sempre havia nestes dias. Hoje, apenas temos  o Tejo e esta luz magnífica de uma cidade plena de magia, abençoada por Santo António e São Vicente, caprichosa e sedutora, que enamora de igual modo os que a conhecem bem e a têm como sua e os que a visitam e se lhe apegam para sempre.
Orgulho-me muito de ter nascido e de viver aqui, neste lugar tão romântico e encantador, que eu sei de cor e conheço a pé, nos seus mais escondidos recantos, nas vielas estreitas de Alfama e nas largas avenidas e praças, com o Tejo sempre à espreita, Lisboa Menina e Moça (...) cidade mulher da minha vida, fazendo-se desentendida e adormecendo embalada pelas suas águas quietas, em incessante e antigo namoro.
São muito estranhos os tempos que vivemos. Mas ainda que às vezes tudo nos pareça um pouco desanimador e difícil de levar, há que continuar a acreditar. Há-de voltar a festa do Santo António e a alegria de antes. E, até lá, teremos sempre a nossa Lisboa e os seu magnífico e inigualável entardecer.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

O mês de Junho



Depois de Março, este é o mês de que mais gosto. Por ser o mês de Lisboa, da minha mãe e de outras pessoas de quem gosto muito. Porque anuncia o Verão e tem sabor a despreocupação e a liberdade. Pelas longas tardes de brisa amena a fazer apetecer ficar na rua, de manjericos e de sardinhas assadas, de passeios à beira-Tejo e fins de tarde a olhar o mar. E o mundo torna-se-me infinitamente mais belo.
Se não fosse a pandemia, que veio alterar tudo, estaria a poucos dias de entrar de férias. Este ano, porém, tudo é diferente. Faltarão os arraiais e a algazarra tão típica destes dias e da minha cidade, reinventaremos festejos, mas não deixaremos de soltar o cabelo ao vento, de tentar ser felizes e despreocupados, nem de querer-nos com loucura.