Quem me conhece sabe que não recebi de braços abertos a chegada de Assunção Cristas à presidência do CDS, até porque nunca escondi a minha preferência por Nuno Melo para substituir a marca fortíssima deixada por Paulo Portas. Não me apressei, por isso, a "mudar de ideias" quando vi que não era esse o caminho escolhido, como vi tanta gente fazer. Resolvi esperar para ver, sem me apressar a pôr likes, vivas ou olés em todas as notícias surgidas, por mais positivas que fossem. Quis assistir, aguardar, mantendo-me no CDS, mas sem fazer coro com a unanimidade que se gerou à volta de um estilo novo. Quando me perguntavam se gostava dela, respondia sempre o mesmo: "não sou fã..." e recebia de volta "ahs e "ohs" de espanto. Pois se ela era tão tudo...
Não que não lhe reconhecesse qualidades inegáveis, inteligência, desde logo, mas também simpatia, determinação e arrojo. Ainda assim, a minha intuição, ou o que quer que possamos chamar-lhe, fazia-me pôr em tudo reticências: era a ascensão meteórica que me parecia poder significar excesso de ambição, era a simpatia extrema que aqui e ali me soava a falso, era um não sei quê que me provocava de certo modo um desconforto, uma daquelas sensações que não têm razões óbvias de ser e para as quais não encontramos qualquer explicação digna desse nome. Era só "uma impressão".
Mas, porque nestas coisas o bom senso e a racionalidade me levam sempre a considerar também o "benefício da dúvida", e porque reconheço em Assunção Cristas uma capacidade comunicativa ímpar, resolvi ter a ousadia de a convidar a ir ao meu Liceu por achar interessante que fosse falar aos nossos alunos do seu percurso e da vida "real", numa actividade da biblioteca intitulada:"À conversa com..."
Achei que não teria muito sucesso, mas tudo se resolveu com algumas ajudas preciosas. E, na verdade, mudei radicalmente de ideias e, confesso, não só me rendi ao charme de Assunção Cristas, como me sinto até um pouco envergonhada de ter começado por duvidar.
O que vi e ouvi foi uma pessoa de uma simplicidade, simpatia e disponibilidade que considero raras e excepcionais. A sessão foi naturalmente um enorme sucesso, não só pelo interesse que despertou, como pelo que nela se tratou e pela imagem que deixou: a de uma pessoa, como diriam os espanhóis "cercana" e "entrañable", que faz certamente muito mais pela política e pelos políticos do que qualquer comício, ou afim. Porque estar na política também é isto: estar com as pessoas genuinamente, ouvi-las e falar com elas, com tempo e dedicação.
Agora sei que o (meu) CDS está afinal bem entregue; e que Paulo Portas tinha razão quando teve essa intuição, que eu não tive. Enganei-me, sim. Mas ainda bem...
(Fotografia de Isabel Santiago Henriques)
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