Se a Netflix vai sendo útil em tempos de confinamento, poder ir ao cinema é, de longe, outra coisa. Para mim, nada como magia do écran gigante, da sala escura e dessas duas horas em que nos deixamos transportar por histórias e vidas que, não sendo nossas, tantas vezes nos removem por dentro e nos fazem pensar.
Que bom, pois, poder voltar a um dos minhas paixões, com a benesse de agora nem sequer se poder comer ou beber nas salas, o que é claramente uma vantagem.
Optei pelo filme dos Óscares. Nomadland é, como seria de esperar, um filme triste. Mas poético, ainda assim. É um filme simples e complexo, bonito e áspero, com todas as contradições que marcam a existência, que trata de liberdade e de solidão, de precariedade e de incerteza, de morte e de vida, misturando ficção e realidade: Fern, a personagem principal, é fictícia, mas convive com nómadas reais que se interpretam a si mesmos, como Linda May, ou o mentor Bob Wells. Trata-se, no fundo de uma viagem por uma América um pouco diferente da que costumamos ver, ou que temos como representação mental, ao lado dos que escolhem a liberdade de ser e de fazer diferente, ou não têm outra possibilidade que não seja a de viver assim. Frances McDormand é excelente no seu papel de protagonista e também de fio condutor da narrativa, elo de ligação perfeito entre as várias histórias/vidas com que se cruza "down the road".
O filme vale bem uma ida ao cinema, mas não sei se é assim tão excepcional para ser designado como "o melhor". Se calhar, a concorrência é que não era grande coisa. Mas, quanto a isso, não sou, por enquanto, capaz de ajuizar.