segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Desenlace



Passada a campanha e as eleições, a vida retoma o seu ritmo habitual. O que quero agora, o que eu preciso, é de um bocadinho de silêncio.
Não posso, no entanto, deixar de fazer um breve balanço do que vi e vivi nos últimos dias. Para mim tudo isto foi uma novidade, com muitas coisas positivas e outras negativas, como sempre acontece, mas que constituiu, ainda assim, uma interessante e significativa aprendizagem.
No desfecho, parece-me extraordinário, - mas nem é propriamente uma surpresa, - o facto de a comunicação social omitir, quase não mencionando, a notável vitória do CDS que, com poucos meios e uma "gestão moderada das expectativas", conseguiu isto: passar de uma para cinco câmaras. E todas com maioria absoluta. Sem cartazes, nem panfletos, nem canetas, ou t-shirts, ou sacos de plástico e todo esse folclore. Apenas falando com as pessoas, ouvindo-as, estando perto delas. É certo que perdemos algumas juntas de freguesia em Lisboa, das quais destaco três: Alvalade, Arroios e Beato, cujas campanhas acompanhei de muito perto e sei, por isso, que a dedicação e o trabalho desenvolvido pelos candidatos merecia bem mais e melhor do que os resultados obtidos. Mas estas coisas são assim mesmo. E é, justamente, esse exemplo de entrega e de perseverança a melhor lição que retiro destes dias. É a paixão com que vi o Diogo Moura, o Júlio Sequeira, e tantos outros, trabalharem por aquilo em que acreditam, com sacrifício da(s) suas(s) vida(s) pessoais, dando o melhor de si pelo bem de todos que me faz considerar que, apesar de tudo, o esforço valeu a pena.
Têm a mania de tentar minimizar o CDS, mas o CDS persiste, firme, na defesa daquilo em que acredita, como é próprio de quem é grande. E, com a mesma sensatez e humildade com que fizemos esta campanha, havemos de continuar a demonstrar que o CDS faz falta a Portugal.
Hoje, o que domina as notícias é a vitória socialista, que a cidade recebe envolta em nevoeiro.
Mas há outros vencedores. Paulo Portas e o CDS têm motivos para estar de cabeça erguida e, com um novo alento e a mesma paixão, continuar... sempre!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Diana


Há dezasseis anos, eu também estava em Paris, naquele dia 31 de Agosto de 1997. Regressei de noite. E foi já em Lisboa que soube da notícia; e que acompanhei, chocada como o resto do mundo, o que se lhe seguiu.
Cinco anos antes, em Londres, tinha podido vê-la, completamente por acaso. E esse encontro fortuito impressionou-me deveras. Era muito mais alta, bonita e elegante do que em qualquer imagem, ou fotografia. Grande parte do seu encanto e singularidade residiam na peculiar mistura de timidez, sedução, fragilidade e ousadia, que faziam dela uma personalidade controversa, como eu tanto gosto. E profundamente só, também, um pouco perdida, como se andasse sempre à procura  de si e de um sentido para a vida, o que a tornava menos "princesa" e mais mulher. E lhe dava aquela aura de mistério que, associada a uma morte trágica e prematura, potenciou o mito.
Como quase toda a gente, não lhe sou imune. Nem indiferente. Foi talvez um pouco de tudo isso que me fez ir ao cinema. E Naomi Watts, claro, de quem também gosto muito, que faz o que pode para interpretar Diana o melhor possível. É uma ingrata tarefa. E que não é de todo conseguida, na minha opinião. Porque Diana era inimitável; e porque está ainda muito presente nas nossas memórias.
O filme, que se centra nos dois últimos anos da sua vida, explora a suposta relação amorosa com o médico paquistanês que se diz ter sido o seu grande amor, em tom telenovelesco e mais ou menos "lamechas" com  ne me quitte pas em fundo e uns apontamentos da sua faceta humanitária, para lhe dar maior veracidade.
Se aquela história de amor é verdade ou mentira não é de modo algum relevante. Mas, a ter sido verdade, não terá de certeza sido nada assim. Enfim, tudo no filme soa a ficção, fazendo-se passar por uma espécie de documentário e o resultado é muito pobrezinho e até confrangedoramente entediante. Fazer um filme sobre Diana não será fácil. Mas ela, ainda assim, merecia melhor. E, já agora, Brel também.
Este é, pois, um filme que eu não recomendo...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Com o Outono à porta



Agora sim, não há dúvida, o  Outono está aí, pujante e manifesto. E eu adoro as primeiras chuvas e a beleza nostálgica da sua chegada.
Nestes dias, lembro-me sempre de Paul Verlaine e desta sonoridade, dolente, arrastada. Porque o Outono também é isto:

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Um amor imenso



Uma das coisas boas desta campanha, entre outras menos boas, é a possibilidade que me dá de viver intensamente a minha cidade em pleno dia, com tempo e de olhos limpos, na agitação das horas que se vivem a correr, na azáfama da sua rotina urbana, numa pressa não se sabe de quê e para quê, numa  vida que se vai tornando mais lenta à medida que nos aproximamos do rio, como se a tranquilidade silenciosa e quieta do Tejo fosse sintoma de uma felicidade antecipada e conforto de um colo que é berço e pertença e essência de mim.
Ontem, depois do debate, depois de durante duas horas ouvir falar dela, precisei de sentir-lhe o pulsar, como dois corações que batem encostados um ao outro. E fiz aquilo de que eu tanto gosto: caminhar pelas ruas sem destino certo e a observar tudo devagar: as pessoas, os lugares,  os recantos únicos e meio escondidos, o pitoresco e o banal. Lisboa é uma cidade com alma, sedutora e misteriosa como qualquer mulher. E ao vê-la assim, em todos os seus cambiantes, na sua romântica beleza, não posso deixar de sentir uma satisfação imensa por lhe pertencer e ela pertencer-me também; e vivermos este namoro tão antigo, que se me cola à pele e se me entranha no corpo e me faz sentir bem.
E então é como se a visse pela primeira vez. E volto  a apaixonar-me por ela. E comovo-me, como sempre, com a mágica doçura do seu entardecer.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Morreu mais um poeta...



Foi pela blogosfera que soube da notícia. Nunca consigo evitá-lo: quando morre um poeta, penso sempre que ficamos todos um pouco mais pobres. Hoje, foi António Ramos Rosa. Tinha 88 anos. Como a minha mãe.
Os poetas falam-nos de amor. Da vida. E parece-me que não pode haver melhor forma de homenagear um poeta do que fazer perdurar as suas palavras.
Não Posso Adiar o Amor         

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração

domingo, 22 de setembro de 2013

Livre-nos Deus...

Com papas e bolos...


Paulatinamente, Sócrates vai regressando à vida política. Apoiado pelos seus esbirros e beneficiado pela inépcia arrepiante de Seguro, aí está ele, pezinhos de lã, pedindo um «encore». Ele é o tempo de antena na RTP, ele é os «estudos» em Paris, ele é as fotos manipuladas ao milímetro, ele é a bonomia cúmplice dos «socratistas» de serviço, ele é, mais recentemente, o livro sobre a tortura (um tema criteriosamente adequado), com a apresentação de Lula e sob a égide (o Expresso não explica bem esta égide, mas o livro é «sob a égide», pronto) da Fundação Mário Soares. A tortura parece ser o tema do mestrado de um homem que há bem poucos meses apresentava sinais iniludíveis de trapaça da grossa na obtenção da sua licenciatura. Mas isso agora não interessa nada, diria a Teresa Guilherme.
Neste país particular onde se misturam as elites que recalcitram com o facto de os portugueses votarem mal, com as massas que, se calhar, dão razão às elites, tudo se passa como as correntes eternas dos cursos de água que acabam sempre por levar água aos moinhos que precisam dela. Relativamente a Sócrates, e no que me diz respeito, já me choca menos o percurso fáctico de um inescrupuloso primeiro-ministro que conduziu este país à conhecida tragédia em que vivemos, do que a facilidade com que as pessoas vão tolerando a possibilidade muito forte de virmos a ter esta criatura, de má memória, nos destinos do nosso país. Faz-me uma grande confusão como é que há gente que não quer, ou não consegue, admitir que este homem foi a causa próxima da situação trágica em que nos encontramos. Porque os outros, a plateia do costume, mormente ao nível da comunicação social, dá para perceber. É, enfim, o tempo das papas e bolos. Para os tolos que todos nós insistimos em ser.
post não é meu, é indecentemente "roubado" a um blogue que eu gosto de ler: Espumadamente, de Nelson Reprezas. Mas achei-o tão brilhante, que não pude deixar de o partilhar. 
De resto, este é mais um blogue que eu recomendo. O Nelson tem um humor inteligente e corrosivo e um olhar crítico, irónico e até por vezes satírico relativamente ao que se vai passando. O blogue tem nove anos de existência, quase cinco mil posts e vale a pena lê-lo, concordando ou não com o que lá se diz. Por isso, para quem não o conhece ainda, sugiro uma visita...

sábado, 21 de setembro de 2013

Despedida do Verão






http://www.youtube.com/watch?v=sfQ21qn11e0

Amanhã já é Outono, ainda que o Verão tarde em despedir-se, numa demorada casmurrice de querer adiar a inevitável e iminente partida. Não é de todo a minha estação preferida, embora goste dos dias luminosos e quentes que parecem não ter fim, das horas que passam mais lentas, da brisa da tarde junto ao rio e da quietude das noites de lua cheia, enorme e cintilante. O Verão é o tempo da preguiça.
E o meu termina como começou: entre sol, mar e gaivotas, alternando a solidão e a companhia, no silêncio de uma praia semi-deserta, onde mesmo as ondas mal se ouvem e tudo parece mais sossegado, harmonioso e perfeito que nunca. É em dias assim que me viro para dentro e desço ao mais fundo de mim, enquanto o meu olhar se detém na tranquilidade azul do horizonte, muito nítido ainda. E deixo o pensamento voar. Eu sou da água, que é o meu elemento, que me atrai tanto quanto me assusta, metáfora perfeita da vida, na sua quase imperceptível evanescência.
Daqui a pouco, eu sei, o sol enfraquece e fica muito mais baço, vem o vento e a chuva, o mar enfurece-se e os dias são ora azuis ora cinzentos, num tempo que subtilmente se vai já anunciando, na aragem mais fresca da manhã e do fim do dia.
O Outono é para mim uma estação muito mais citadina, mais interior, de emoções mais contidas e estados de alma menos exaltados, mas não menos autênticos, com a doce nostalgia que lhe está associada, nos tons dourados das folhas que caem das árvores e enchem o chão, e em tudo o que faz desejar mais recato e aconchego e protecção.
Os dias que aí vêm podem não ter a alegria efusiva da Primavera, nem o abandono indolente do Verão, ou a beleza que se pode encontrar  na tristeza sombria do Inverno, mas é única a magia do espectáculo de todas as cores  misturadas. Poético, até. E, no fundo, as estações vão rodando e cada uma tem o seu encanto. E dão-nos a possibilidade de ir  traçando  novos caminhos, na certeza de que daqui a algum tempo, de novo, un jour viendra couleur d'orange...

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Praxes



Felizmente, na altura em que andei na universidade não havia gente vestida com aquele ridículo traje preto, não se benziam fitas, nem havia as praxes e toda a palhaçada degradante, sem sentido e sem graça sequer, que lhe está associada. Agora é ao contrário. Essa espécie de "carnaval" fora de horas vulgarizou-se no pior sentido do termo e os que tentam evitá-lo são até considerados um pouco estranhos. Ou sem sentido de humor. Ou qualquer coisa neste género.
A este respeito, José Manuel Pureza escreve hoje um artigo de opinião no DN com o qual concordo em grande parte, apesar de politicamente termos ideias muito diferentes. Aqui ficam algumas passagens. 
O artigo inteiro pode ler-se aqui.
Agora são os dias em que se vêem e ouvem nas ruas da minha cidade - e de muitas outras cidades do País - grupos que invadem o espaço público gritando alarvidades, macaqueando encenações que misturam militarismo e deboche ou exibindo em cortejos e em performances localizadas rituais de humilhação coletiva e de rebaixamento.
Chamam-lhe praxe. E em nome desse nome, a minha cidade - e muitas outras cidades do País - tolera o intolerável: a indignidade.
(...) A praxe é a carnavalização pimba da desesperança que hoje habita a universidade. (...) Uma sociedade sem direitos humanos nem pensamento crítico - eis a sociedade que a praxe revela. (...)
Se a praxe é uma grotesca fotografia, são as realidades que ela retrata que precisam de ser mudadas. Mudar a universidade, desde logo, assumindo-a como lugar de conhecimento e de ciência e, por isso, de culto da permanente insatisfação (...) Uma universidade assim, em que tecnologias e humanidades dão as mãos no desenvolvimento de um pensamento crítico,(...) forma, sim, cidadãos inquietos e exigentes(...)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Esta coisa da política


Não sou daquelas pessoas que dizem não querer saber de política, ou que os políticos são todos uns senhores feios e maus. Nem sou sequer apartidária, como é tão comum ouvir-se dizer hoje. E jamais votaria em branco.
Na política, como em tudo, há bom e mau, pessoas extraordinárias e verdadeiros estafermos. Mas gostava que fosse um bocadinho menos feira de vaidades e menos egos, menos intriga e  má-língua, e engonha, e desorganização, e tudo o mais.
Não, não é do "meu" CDS que falo. É de tudo. Porque, infelizmente, acaba por dar-se demasiada importância ao que nos separa e por esquecer-se o que deveria unir-nos.
Ainda assim, continuo a achar que participar é  um dever. É até mais que isso: é uma obrigação...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Crepúsculo



Quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco
nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés
a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio
sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada
por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.
        
                  (Vasco Graça Moura,  Insinceridade )
É à hora em que a claridade diminui e o azul do dia se vai fazendo mais escuro até o negro da noite se impor, implacável e definitivo, que todos os desejos se tornam mais prementes e se anseiam novos mundos, com urgência e intensidade, na volúpia apressada que confunde os sinais, mistura de tanta coisa que de repente se quer. E tudo é  só intuição e instinto. São cheiros e sabores e peles que se tocam, é a sede dos corpos de que se sente a falta ainda antes de os ter, no sossego inquieto de uma entrega sem pressa,  de uma frase interrompida por um beijo ardente e arrebatado, que antecipa o prazer, entre vontades e medos, sobrepostos ou alternados, que a  lua testemunha e silencia. E entre o sonho e a realidade, o pensamento voa,  vacilando entre o que se quer e não quer, o que se tem e já não tem, ou não se alcançou ainda, nessa hora indistinta, entre o dia e a noite, com tantos mistérios e as mais loucas ilusões por cumprir. E, num suspiro que acalma, que dissipa a melancolia e apaga o fogo que cresce no peito, aceita-se o que a vida traz, no sobressalto curioso do que está por vir, querendo tudo e nada ao mesmo tempo, na plácida certeza de que daí a nada o dia nasce outra vez cheio de luz.
(Fotografia, magnífica, de Paulo Abreu e Lima)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Escolha(s)



Mesmo com a imensidão do mundo por caminho, ainda é no silêncio dos teus olhos que me abrigo. Porque há dias em que, no fundo dos teus olhos, tudo volta a ser verdade...

(Fotografia do blogue Pé-de-Meia, de mfc)

domingo, 15 de setembro de 2013

Um Óscar para Cate Blanchett




Woody Allen é um daqueles realizadores de que se gosta muito, ou não se gosta nada. Pertenço ao primeiro grupo. E acho mesmo que, para quem gosta de cinema, é um autor incontornável. Vi quase todos os filmes e gostei de alguns mais do que de outros, naturalmente. Assim de repente lembro-me de uns muito antigos, Annie Hall, ou Interiors, por exemplo, e de outros  mais recentes, como Match Point, ou o fabuloso Midnight in Paris, que eu adorei, e não só por se passar em Paris.  Creio, aliás, que o filme ganhou o Óscar do Melhor Argumento Original.
 Blue Jasmine, o seu último filme, é também magnífico. É um filme no feminino, construído à volta de Cate Blanchett,  inesquecível e genial como Jasmine, mas brilhantemente secundada por Sally Hawkins, no papel da irmã, Ginger, enternecedora na sua quase ingénua simplicidade.
O que há de extraordinário nestas personagens é a sua humanidade. É isso, de resto que as torna credíveis, a ponto de nos perturbarmos com o drama de Jasmine, cujo delírio, sempre a pisar a linha de fronteira da insanidade, desperta a nossa compaixão. E são tão autênticos os seus monólogos, é tão genuinamente verdadeiro o seu olhar vago, que  nos comovemos com a tragédia do seu infortúnio e a acompanhamos perdida em si mesma, a caminho da loucura; e quase nos sentimos à deriva com ela, na procura da redenção.
Este é, sem dúvida, um dos filmes do ano, que dará provavelmente a Cate Blanchett um Óscar mais do que merecido. E nem que fosse apenas por isto, já valeria a pena vê-lo. Porque ela enche o filme todo, embora o filme seja mais que isso: é também a sua brilhante construção, que vai alternando passado e presente, tudo docemente embalado pela cadência do jazz e dos blues. A não perder...


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Regresso às aulas



Contrariamente ao que se passa com muita gente, em especial nesta altura do ano, nunca me custam as segundas-feiras, nem o pós-férias, ou o começo de um novo ano.
Na verdade, não sofro desse desalento do (re)começo, nem consigo compreender bem a nostalgia do ócio, que se manifesta nas mais diversas formas de abatimento e afecta de maneira mais contida, ou mais ostensiva, pessoas de todas as idades. Eu regresso sempre cheia de força. E depois, lá mais adiante, é que me apetece parar de novo. Porque o que me sabe mesmo bem é que à azáfama do quotidiano, à rotina carregadinha de horários rígidos e de obrigações a cumprir, se sucedam os períodos de puro prazer, em que me posso deixar guiar pela vontade de cada momento e em que o tempo é todo meu, numa cadência alternada, tal como depois da noite surge o dia, e depois da escuridão vem a luz, ou depois da tempestade a bonança.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Hoje, o dia é do Paulo!...



Faz 51 anos e  eu gosto muito dele. E apesar de tudo o que ouço e leio por aí, na habitual maledicência que enaltece a mediocridade dominante e não tolera quem se destaca, eu acredito nele. E ouço-o, naquela postura séria que é  exemplo de força, de persistência e de determinação e não posso deixar de confiar. E admiro-lhe a inteligência, a vontade e a coragem. E, num país em que há tão pouca gente capaz, agradeço-lhe tudo o que tem feito e espero que não desista de nós. Porque Portugal precisa de políticos assim.
É por tudo isto e pelos valores que temos em comum que o Paulo é uma daquelas pessoas de quem me sinto imensamente perto. E, como hoje é um dia de festa para todos os que gostam dele como eu,  associo-me  à alegria da celebração da vida e  deixo-lhe aqui um enorme abraço de parabéns, mesmo assim, apenas virtual, mas com enorme  respeito e estima.
(Fotografia de Isabel Santiago Henriques)

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Impossível esquecer


Há doze anos estava em casa a esta hora, a preparar as primeiras aulas de um ano lectivo que começava daí a dois ou três dias. Na sala tinha a televisão ligada no telediario espanhol, como de costume, que ia ouvindo de maneira mais ou menos desatenta. E, de súbito, no fim do jornal, uma notícia de última hora chamou-me a atenção: um avião tinha acabado de chocar com as torres, em Nova Iorque. Fui até à sala e assisti em directo ao segundo embate. Aquilo que se pensara primeiro ser um acidente, era afinal muito mais que isso. Durante o resto da tarde, e da noite, já não saí da frente da televisão. E assisti em estado de choque, com o resto do mundo, aos relatos imprecisos e emocionados do que se estava a passar num dia de horror que havia de mudar o mundo para sempre.
Este Verão li um livro sobre esse 11 de Setembro de 2001. Chama-se A Manhã do Mundo e é um livro que incomoda. Porque apesar de ser uma obra de ficção, é impossível não sentir cada um daqueles dramas, não reviver a confusão de sentimentos, a dor daquele dia e dos que se lhe seguiram. O livro foi escrito pelo Pedro Guilherme-Moreira do blogue Ignorância. Hoje, doze anos depois, o Pedro escreveu isto no Facebook:
Há doze anos o 11 de Setembro marcou-nos a todos. Eu fui dos que segui a voragem noticiosa no centro da dor de todo o mundo (morreu o mundo inteiro naquelas torres)(...) Depois fui mais fundo e mais fundo, quis entrar nas torres e contar a história dos suicidas da torre norte, heróis dos tempos modernos, por corporizarem cada um de nós, a qualquer momento, nas nossas cidades, no nosso escritório, a asfixiar, a arder, a perder a esperança, a ter de tomar a última decisão. (...) Sei que nunca mais me curarei e cuidei que ninguém mais se curasse ao escrever "A manhã do mundo", que a Dom Quixote deu à estampa em Maio de 2011, sob edição da Maria Do Rosário Pedreira. Talvez seja difícil explicar porque é que este dia é tão duro para mim. Porque é que sinto sempre que tenho uma tonelada sobre o peito. Mas o bombeiro luso-americano Arthur Sanhudo, que fez parte desse dia, a Taciana de Aguiar, irmã do João Aguiar, português morto na torre sul, e até o ilustre poeta João Luís Barreto Guimarães, em Nova Iorque nesse dia e com um relato público assombroso, feito em directo no seu blogue nos dias subsequentes, sabem desse luto e dessa dor que todos partilhamos. E os leitores do livro sabem que vestir a pele dos heróis lhes tira a indiferença em que corremos sempre o perigo de cair, se nos esquecermos. E não nos podemos esquecer.
Hoje Nova Iorque continuará a ser a capital do mundo, um lugar fascinante, a cidade que nunca dorme, mas é impossível falar dela sem lembrar esta data, como uma ferida indelével em infinita laceração.
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Inquietação

 
Há na aparente tranquilidade dos dias uma subtil oscilação entre a indolência de se deixar ir na fluidez do tempo, as incertezas e fragilidades que retraem os passos, tornando-os hesitantes ou receosos, no temor de novos desencantos e fracassos, e o sobressalto do que incessantemente se procura, na crença desassombrada e audaz de um lugar utópico onde todos os sonhos são possíveis, na certeza de que para lá do nevoeiro o caminho é luminoso e tem todas as cores do arco-íris, mesmo se não se sabe exactamente por onde ir, como chegar, ou onde se vai dar, guiado apenas por um coração desperto, desabrido e intrépido, que às vezes bate acelerado, e que não deixa de querer, nem de acreditar.

domingo, 8 de setembro de 2013

A melhor professora



 Como toda a gente, tive bons e maus professores. Relembro alguns que me marcaram profundamente, como a minha professora da primária, de que já falei aqui, ou o professor de Português do final do secundário, que contribuiu talvez para, depois de muito hesitar, me ter decidido pela literatura.
E, no entanto, hoje, posso dizer com a mais absoluta certeza que a melhor professora que tive foi Maria Alzira Seixo que, com o seu entusiasmo contagiante, não me ensinou apenas literatura francesa, mas o prazer de adquirir a compreensão reflectida das coisas de que ela falava ainda ontem, no Diário de Notícias. 
Durante dois anos foi minha professora de Literatura Francesa na Faculdade de Letras. E foi inesquecível. Porque o que aprendi com ela serviu-me para o resto da vida.
Era uma figura controversa, daquelas que não deixa ninguém indiferente, suscitando  amores e ódios mais ou menos intensos. Conhecida pela sua extrema exigência, pela frontalidade e pelo rigor com que tratava todas as questões, tantas vezes confundido com  "mau feitio", era temida por quase todos os alunos e circulavam sobre ela, nos corredores da faculdade, as histórias mais fantásticas. Por isso, eram muito poucos os que se inscreviam na(s) sua(s) turma(s). Eu fui. A medo, no início. Mas em muito boa hora. Enquanto outros professores tinham turmas de quarenta alunos, na aula da Maria Alzira eramos doze. E ela revelou-se uma pessoa extraordinária, muitíssimo competente, com espírito e com génio, capaz de fazer de cada aula um momento especial, em que se falava dos autores, dos livros e dos textos com paixão e com emoção. Com humor também. Lembro-me de a ouvir recitar poemas do barroco francês, por exemplo, que eu própria fixei  e sei de cor ainda agora. As notas que tive não foram excelentes, mas aprendi com ela muito mais do que com todos os outros professores do  curso. Na verdade, mais do que uma simples professora, foi para mim um exemplo e uma inspiração. E assim, quando passei a ser professora, sempre me pareceu que a melhor maneira de fazer os alunos gostar de ler e de escrever é mostrar-lhes como isso pode ser bom. E esquecer as fichas e os "contratos de leitura". É apenas um exemplo...
Entretanto nunca mais a vi, a não ser na televisão, em aparições esporádicas, onde me espantava o facto de a achar sempre igual, na aparência e nos modos. Como se o tempo não passasse por ela.
Muitos anos depois, reencontrei-a ao vivo no ciclo de conferências sobre o romance francês e sua influência no romance português do século XIX, e na cultura ocidental, em geral, uma excelente ideia de Vasco Graça Moura, a decorrer todos os Sábados deste mês e dois do próximo, no CCB. E foi como voltar ao passado.  É de novo a Maria Alzira Seixo que eu conheci, numa intemporalidade que não julguei possível, com a mesma exaltação, sem excessos, a mesma capacidade comunicativa,  o mesmo discurso apaixonado e emotivo, que seduz. E que torna possível ouvi-la durante horas, sem nunca nos cansarmos. Porque é sempre interessantíssimo o que diz e, sobretudo, o modo como o diz.
Ter sido aluna de Maria Alzira Seixo foi, na verdade, um privilégio enorme. Mas revê-la igual, tanto tempo depois, é como regressar a um tempo antigo, mas sem nostalgia, é um "rafraîchissement" cultural, um prazer para o qual não consigo encontrar as palavras certas, uma daquelas surpresas boas que valem a vida.
E no Sábado há mais...

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Amores antigos




A vida tinha-os afastado, mas quis o destino que vivessem perto um do outro. Quando ele passava de carro, agora grisalho e talvez mais bonito ainda, ela perturbava-se sempre um pouco. Mas nem se falavam. E, no fundo, apesar de isso lhe custar, a ponto de momentaneamente lhe sentir a falta e quase lhe doer, sabia que era melhor assim.
Já não faziam parte da vida um do outro. Esses eram os únicos momentos em que pensava nele. E em como naquela altura não soubera esperar, não o soubera entender, porque não tinham maturidade suficiente para saber lidar com fragilidades e diferenças e aceitar tudo o que os separava, guardando apenas o lado bom, que também era enorme. Afinal tinham tanto em comum... Era muito antiga aquela história, feita de desencontros e de felicidade, de caminhos sinuosos e de palavras e canções coladas à pele, na confusão dos vinte anos. 
Então lembrava o tempo em que o seu sorriso ou a sua voz lhe enchiam o coração, a afinidade intelectual que os fazia  perder-se em longas conversas, as horas esquecidas nas noites em que se deixavam ficar no Snob, no Foxtrot e no Pavilhão Chinês, às vezes  em silêncios que não precisavam de palavras, em instantes que se faziam eternos, alheados de tudo, suspensos no fundo dos olhos um do outro e no que nem precisava de ser dito, numa sedução demorada, feita de avanços e de recuos; e os passeios de descapotável, marginal fora, com Cascais no horizonte, o cabelo ao vento e mil sonhos e promessas por cumprir; e a maneira como ele deitava a cabeça no seu colo, devagar, nos momentos em  que só os sentidos contavam e o mundo inteiro começava e acabava  neles os dois; e os olhos dele que pareciam fazer beicinho quando se despediam, numa tristeza de quem está sempre a pedir mimo. E aquela sua personalidade intensa  e misteriosa, que a fascinava e entontecia; e tantos bocadinhos de paraíso que viveram juntos; e tantos gestos amor, puros, todos só sentimento e emoção.
E pensava, também, em todas as vezes em que depois de se terem separado haviam voltado a ceder à paixão, como uma inevitabilidade a que não se pode escapar. E de como, numa altura difícil da sua vida, ele a soubera entender e, esquecendo-se de si, a tomara de novo nos braços e lhe embalara a mágoa e a vulnerabilidade, repetindo-lhe ao ouvido pequenas coisas queridas. Depois dele vivera outros amores, talvez maiores, talvez melhores, ou mais perfeitos e agora aquele amor parecia já tão antigo que quando por casualidade se cruzavam fingiam não se ver, incapazes de ser amigos, ou sequer conhecidos, porque ambos sabiam que entre eles só podia ser tudo ou nada; e que o tempo não volta atrás.
E vinha a certeza  de que, para o bem e para o mal, a vida é assim mesmo: são todas as escolhas que vamos fazendo, todos os nãos e os sins, o que se diz e o que se cala para sempre, e se guarda no silêncio secreto de um lugar perdido no canto mais fundo e escuro do coração.
E que não vale a pena lamentar o que quase ia sendo, ou pensar no que poderia ter sido se tudo tivesse sido de outra maneira, porque só o presente importa e merece ser vivido em plenitude. Mas também é certo que há pessoas que nos marcam. E que não podemos esquecer...

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Adolfo


É novíssimo, muito dinâmico e absolutamente brilhante nas suas intervenções públicas. Adolfo Mesquita Nunes, Secretário de Estado do Turismo, pôs isto no Facebook:
Pequeno comentário ao crescimento do turismo. Este Governo não fica, nem quer ficar, com méritos alheios: são as empresas do sector que devem colher os principais louros. Por isso mesmo, vamos passar a tê-las institucionalmente envolvidas na promoção externa do país.
Para quem não percebeu bem quando eu dizia outro dia que o meu partido faz a diferença, só mais uma achega: é claro que o Adolfo só podia ser do CDS.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

No país da burocracia


Infelizmente, há no nosso país muita coisa de que só podemos envergonhar-nos. Lembro-me do post da Ana Vidal, que li há dias no "Delito de Opinião" a propósito de um simulacro de incêndio comemorativo, a ter lugar ao mesmo tempo que bombeiros morrem sem ser a fingir e Portugal arde triste e realmente. É apenas  um exemplo. O que se passou comigo, hoje, apesar de muito diferente, é outro. A história, que mais parece um odisseia, é esta: para poder participar na campanha eleitoral, preciso de um comprovativo de que consto das listas e, para tal, soube que teria de me deslocar ao Palácio de Justiça, onde foram entregues e estão afixadas.
Na sexta-feira passada fui até lá, mas como cheguei às quatro horas e dois minutos já não me atenderam. Além de ser extraordinário este horário de funcionamento (das nove às doze e trinta e das treze e trinta às dezasseis, o que significa que as pessoas que trabalham normalmente têm sérias dificuldades em dirigir-se-lhes quando necessário e só o fazem com prejuízo do seu próprio trabalho), deixaram-me, ainda assim, consultar o número de processo e fizeram-me saber que teria de apresentar um requerimento. Mas isso noutro dia, porque os serviços estavam encerrados há dois minutos.
Voltei hoje, já de requerimento feito e a correr, esforçando-me por estar lá às nove em ponto, de modo a poder tratar do assunto e chegar ainda a horas decentes à Praça de Alvalade. Perguntei onde devia dirigir-me e mandaram-me ao 7º Juízo, no 8º andar, onde dois funcionários conversavam animadamente. Um minuto depois, olharam para mim e, de onde estavam, perguntaram-me o que era, sem sequer se levantarem. Eu disse. Pois, que não era ali, mas sim no piso térreo, junto aos elevadores. Voltei a descer. Entreguei então o meu requerimento e, naturalmente, perguntei quando o poderia ir buscar. Resposta do funcionário: "Ah, isso não sei! Eu só recebo os requerimentos". "Mas dê-me uma ideia!",insisti. "Não faço ideia.", retorquiu. "Depois telefona a perguntar isso". "E onde o devo ir levantar?" ainda perguntei. "Não faço ideia!", foi de novo a resposta.
Ainda aparvalhada perante a evidência de haver um funcionário cuja função é apenas receber requerimentos e pôr-lhes o carimbo, sem ser capaz de prestar qualquer informação adicional, dirigi-me à saída, onde tentei saber qual o número para onde deveria ligar. Sem exagero, a funcionária esteve durante cinco minutos com uma lista de telefones na mão, folheando-a para trás e para a frente, sem conseguir encontrar o número. "Dê-me o número geral", pedi eu já em desespero e a ver o tempo passar. Bom, deu, mas teve que telefonar para não sei quem a pedi-lo. Extraordinário!
Porém, a história ainda não acaba aqui. Chegada ao meu local de trabalho, liguei para o número que me tinham dado. Fui atendida por uma senhora, que me passou para outra, do 7º Juízo, que me passou para o colega que se ocupa do processo, (e claro que tive que explicar a cada um o assunto e a informação que pretendia) o qual me atendeu com muito maus modos (uma chatice estar a incomodá-lo!) e me disse à bruta: "Depois é notificada!" Eu, que sou nova nestas andanças, perguntei: "Notificada como?". Irritou-se. Repetiu: "Depois é notificada". Insisti na pergunta. Respondeu-me já aos berros: "Através do mandatário!". Ainda assim perguntei quantos dias demoraria, mais ou menos. Resposta: "Isso depende do que eu tiver para fazer!..."
Chocada com este modo de funcionamento e com a "gentileza" na forma de tratamento, ainda ousei perguntar onde deveria depois ir levantar o papel.  "Deve ser na Secretaria Geral!" foi a resposta.
Se não fosse a triste imagem real do país em que vivemos, esta história poderia ser anedótica, ou hilariante. Afinal, se o meu nome está lá afixado, à vista de todos, não bastaria simplesmente apresentar a identificação e passarem-me o papel logo ali?
Haja paciência! No mínimo... De tudo isto fica-me a certeza de que há de facto funcionários públicos que merecem ser despedidos; e a amarga sensação de que este país nunca vai conseguir  endireitar-se.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A escola azul



Tem o nome pomposo, com dois "tês" e tudo, de uma das mais ilustres figuras das letras e da política portuguesa, mas aqui na zona é sobretudo pela cor que se distingue; porque é como "escola azul" que é conhecida e que todos, ou quase todos, se lhe referem. Eu vou ainda mais longe: digo sempre "a escola" ou "a minha escola". É que este é um daqueles lugares a que ficou agarrada uma parte enorme da minha vida e que, tal como os grandes amores, que mesmo quando acabam deixam em nós uma marca que nunca poderemos apagar, esta escola está ligada a mim para sempre.
Talvez isso explique em parte o friozinho na barriga e o coração apertado com que passo o portão e desço as escadas de cada vez que volto. É como se, em cada regresso, numa estranha indistinção de saudade e de mágoa, de fascínio e desencanto, de indiferença e de amargura, que nem consigo explicar, se misturassem todas as recordações dos vinte e dois anos em que aquele era o meu mundo e quase a minha casa.
Olho à minha volta e tudo é o mesmo, aparentemente igual e, ao mesmo tempo, está  já muito diferente. Vejo o cacifo fechado onde ainda está o meu nome e imagino-o outra vez cheio de livros, de cadernos, de fotocópias e de testes. E volto a sentir o cheiro forte da cera na abertura do ano lectivo e a ouvir o barulho de fundo dos alunos no pátio; e voltam as saudades das aulas e do nervoso miudinho do primeiro dia do ano; e passam-me pela cabeça todas as memórias, boas e más, divertidas ou dramáticas, tensas, doces, ternurentas, curiosas, inesquecíveis  e inenarráveis de tantas histórias que ali passei, de tanto que aprendi e ensinei, e de tanta coisa tão diferente que fui vivendo e que fez de mim, também, muito do que sou. Hoje,  a escola azul é este lugar assim, paradoxal, que me pertence e que já não é meu, onde eu quero e não quero voltar.

domingo, 1 de setembro de 2013

CDS



Sempre foi assim: para mim é muito mais em Setembro do que em Janeiro que começa um novo ano. Esta é, por isso, uma época de projectos, de intenções e  de esperanças. E, no entanto, este início foi diferente de todos os outros, porque  não começou com uma ida à escola, mesmo fugaz, como nos últimos três anos. Desta vez a minha rentrée começou na política. Uma novidade que, certamente, marcará o meu ano.
Tenho orgulho de pertencer ao CDS, que é o partido com que me identifico e onde me sinto cada vez mais "em casa". E emociono-me com aquele mar de bandeiras azuis e brancas que se agitam no ar, com o hino nacional cantado em coro, com as palavras claras, sabedoras e sensatas de Paulo Portas, mas também com o discurso apaixonado e emotivo de Adolfo Mesquita Nunes, ou a eloquência de Telmo Correia.
Como em tudo na vida, há no CDS coisas boas e más, pessoas extraordinárias, dinâmicas, trabalhadoras e capazes e outras que não interessam nada e são para esquecer. Mas este é, em geral, um partido que sabe o que está certo e o defende com convicção. E que se preocupa com as pessoas, pois  como diz o Papa Francisco participar activamente na política é uma obrigação para um cristão. Sobretudo em tempos difíceis, como os que vivemos. 
Talvez também por tudo isto me vejo envolvida nas eleições deste mês como nunca até aqui. Com realismo, mas com força, eu acredito que o CDS faz a diferença e faz falta a Portugal. E que, por muito pequenos que sejam, todos os contributos são necessários.
Na rentrée de ontem aconteceu-me o que me acontecia há anos, quando tinha orgulho em fazer  parte da minha escola e em ajudar a levar para a frente, todos os dias, um projecto em que acreditava profundamente. E me sentava, no início de cada ano, para ouvir com atenção as palavras de incentivo e de ânimo do director.  Tal como então, o que ouvi ontem não foram palavras de circunstância, vazias de sentido, mas palavras de significado profundo, de quem sabe o que quer e para onde vai. E ama o que faz. Porque é assim que são os verdadeiros leaders: capazes de nos encher a alma  e de nos puxar pelo empenho e pelo querer, de modo a darmos também o melhor de nós para o bem comum, conseguindo acima de tudo misturar com naturalidade o que tem de ser feito com o prazer da sua  realização.
Ninguém diz que vai se fácil, mas tenhamos esperança que este seja um ano bom.