Sempre me fez um pouco de confusão aquela ideia que, com dia e hora marcada, tenhamos que estar muito contentes e divertirmo-nos de qualquer maneira, (ou fingir, pelo menos), em festas públicas ou privadas, que acontecem por todo o lado de forma indistinta e generalizada, nas quais toda a gente, invariavelmente vestida de preto, dourado ou prateado, come, bebe e dança de modo excessivo e ostentando uma alegria forçada, com um ar meio pateta, a fazer comboiozinhos, ou outras coisas desse género; e onde é obrigatório cumprir estranhos rituais à meia-noite, como se, no segundo seguinte, ou até nas horas e dias por vir, as vidas das pessoas se alterassem de maneira significativa.
É a este tipo de festejos que eu e a minha irmã nos referimos há anos como as festas ri-pi-pi e tro-la-ró, um conceito que, provavelmente, só nós as duas entendemos, na imensa aversão e repugnância que nos causam. Pior que isto, só mesmo o "dia dos namorados"...
Não é mania de ser "do contra". Nem é, sequer, querer ser diferente. É mais uma questão de fazer ou não fazer sentido. É que, na verdade, a noite de passagem de ano não é para mim muito diferente de outra noite qualquer e não faço questão de a comemorar de nenhuma maneira especial. Se calhar porque é só mais uma noite. Ou, talvez, porque não gosto de despedidas.
Prefiro as festas sem razão aparente, aquelas que acontecem apenas porque estamos felizes ou temos vontade de estar juntos. E os brindes que não têm dia, nem hora, nem mês, ou estação do ano marcados no calendário. Gosto de comemorações repentinas e inesperadas, surpreendentes ou longamente esperadas. Das que acontecem porque sim. Sem nenhum tipo de obrigatoriedade, ou de imposição.
Agrada-me, no entanto, a ideia de ter mais um ano, com aquela carga de desconhecido que simultaneamente atrai e assusta, como tudo o que desejamos sem ter bem a certeza de como é. De mais 365 dias inteirinhos, com 8760 horas e mais minutos ainda para encher de ideias, de projectos e propósitos, de promessas, de felicidades adiadas, da vida que se vai construindo passo a passo, na lenta caminhada de cada dia, com a vontade de querer sempre mais e de lhe dar, também, uma dimensão nova.
Como toda a gente, no final do ano, faço uma espécie de balanço de tudo o que vivi nos dias que ficam para trás, relembro mágoas e alegrias, tristezas e emoções, muitos momentos e acontecimentos bons e maus, que me modificaram e que, inevitavelmente, me fizeram crescer em termos pessoais.
Para o novo ano tenho já muitos sonhos, planos e desejos, alguns verdadeiramente inconfessáveis, mas, acima de tudo, só quero duas coisas: ter saúde - que é a mais importante de todas - e ser feliz! E continuar a acreditar que só o amor importa...