quarta-feira, 31 de agosto de 2016
terça-feira, 30 de agosto de 2016
Na hora do regresso
Contrariamente à maior parte das pessoas, não sofro da nostalgia do fim de férias, nem sequer do síndroma da segunda-feira. Sabe-me bem o descanso, mas nunca me custa recomeçar. Algum tempo depois apetece-me então parar de novo, quebrar o ritmo acelerado e a rotina diária, espairecer, arejar.
E quando chega Setembro, encontro sempre uma magia qualquer na ideia de tudo ser outra vez igual e ao mesmo tempo diferente, um encantamento pueril nos novos cadernos e nas canetas por estrear, no cheiro dos livros, na expectativa do que está por vir, tudo docemente embrulhado em tons poéticos de Outono. Já é tempo de rentrée...
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Hesitação
Não será um dos meus preferidos, mas é um dos nomes fundamentais da música francesa, cantor, intérprete, letrista, actor, diseur. Aos 92 anos, este francês de origem arménia, continua a cantar.
E vem a Lisboa, em Dezembro. Nunca o vi ao vivo e a ocasião parece-me imperdível. Só um razão me faz hesitar: o preço dos bilhetes. Mas, provavelmente, não vou conseguir resistir...
sábado, 27 de agosto de 2016
Liberdade
Lembrei-me de uma canção antiga, porque a liberdade também é isto: um alinhamento especial dos astros, um momento sem limites de tempo e espaço, duas vontades em sintonia, e as tuas mãos, as tuas mãos, as tuas mãos...
Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos
(...)
não é o tempo
Nem é o tempo
que o faz
Vem que amor
É o momento
Em que me dou
Em que te dás
(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)
quinta-feira, 25 de agosto de 2016
Tempo
Li no DN que Léo Ferré teria feito ontem 100 anos. Apesar de o ter chegado a ver ao vivo, não está entre os meus preferidos da Chanson française. Ainda assim, é um nome incontornável juntamente com os de Brel, Brassens, Ferrat, Reggiani, Moustaki, uma figura marcante pela sua irreverência e combatividade, que revolucionou a música e a aproximou um pouco mais da poesia.
Avec le temps é talvez a sua canção mais conhecida e é também aquela de que eu mais gosto. Mas não admira. Sou relativamente obcecada com o tempo, o que explica em parte a minha enorme paixão por relógios e o deslumbramento pelo seu carácter passageiro, simbolicamente representado pela metáfora da corrente do rio, numa difusa efemeridade que torna cada momento único e irrepetível; e, simultaneamente, a noção clara disto que a vida me foi ensinando: que só o presente importa e que temos que aproveitar cada dia, não apenas como mais um dia, mas como uma dádiva da existência.
Aqui fica pois o Ferré, em jeito de homenagem, ou seja lá do que for...
Aqui fica pois o Ferré, em jeito de homenagem, ou seja lá do que for...
terça-feira, 23 de agosto de 2016
Deslumbramento e desilusão
Tinha as maiores expectativas em relação à cidade de Roma, que por motivos vários não pudera ainda conhecer. E o que me fica da minha recente visita é uma mistura de arrebatamento e decepção.
O que verdadeiramente nos toca é aquela exuberante manifestação do barroco, nas mais bonitas igrejas que já vi. E também as praças e fontes, com destaque para as magníficas praças Navona e Spagna, ou a impressionante Fontana de Trevi. Os italianos são simpáticos e calorosos, mais até que os espanhóis. Mas Roma é também uma cidade suja e desorganizada, onde faltam jardins cuidados, espaços verdes e mesmo, talvez, um pouco mais de alma.
O topo das minhas preferências mantém-se assim inalterado: Lisboa, Paris, Sevilha, por esta ordem. A primeira porque é a minha cidade da vida toda, onde nasci e onde moro, e pela qual me sinto permanentemente apaixonada. Paris é a cidade que trago no coração, que amei ainda antes de a visitar e que ocupa na minha existência um lugar que nenhuma outra pode destronar. E Sevilha, onde encontro tudo o que eu mais gosto de Espanha, e onde preciso de voltar muitas vezes para me encher de sol, de luz e de alegria.
Há outras cidades encantadoras, claro, como Amsterdão, por exemplo, ou Viana do Castelo, cada uma com as suas particularidades que a tornam única, singular, diferente das demais, tal e qual como as pessoas, mas estas três são ainda as que mais me seduzem.
Há outras cidades encantadoras, claro, como Amsterdão, por exemplo, ou Viana do Castelo, cada uma com as suas particularidades que a tornam única, singular, diferente das demais, tal e qual como as pessoas, mas estas três são ainda as que mais me seduzem.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Estou aqui, estou ali
Vive-se o prazer por antecipação, na incerteza de não saber o que se espera, na magia e no mistério do que se quer descobrir e não se sabe como é, e atrai e assusta, como uma possibilidade de amor. É bom deixar-se ir pelos caminhos do mundo, que mesmo frágil e imperfeito, é um lugar infinitamente belo. Os lugares mais perfeitos, para mim, são, definitivamente, as cidades, na sua imensa complexidade, na maneira própria de viver e respirar, de se revelarem pouco a pouco, de me seduzirem devagar. Por isso gosto de regressar. Mas um primeiro encontro tem sempre um sabor especial...
La chanson française
De todas as línguas que conheço, é a francesa que mais me encanta, porque tem uma sonoridade que me parece extremamente musical, sem o adocicado excessivo que tem o italiano e que a maior parte das pessoa prefere, assim como prefiro mil vezes o português de Portugal, mesmo com todos os esses e vogais fechadas, à lamechice do sotaque brasileiro.
Por isso, gosto muito da canção francesa, (Brel, Ferrat, Brassens, Moustaki, todos esses) que nunca me canso de ouvir, e inclui deliciosos textos e alguns verdadeiros poemas. Isto, por exemplo:
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
Em Roma, sê romano
Há na expectativa que antecede todos os começos uma mistura de curiosidade e desejo; e há momentos de vontades urgentes, vividas às ordens do corpo e do coração, no prazer da entrega total e na paz que vem depois, em emotivo silêncio, tal como há lugares que sentimos que nos pertencem ainda antes de os conhecermos, como vontades fortes e fundas das que revolvem entranhas e arrepiam a pele, e nos fazem bem porque nos enchem de beleza, tranquilidade, alegria.
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Zen
Quanto mais nos sentamos quietos e ficamos em ligação connosco próprios, mais o mundo inteiro se revela diante dos nossos olhos.
Zen e a Arte de Amar
(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)
domingo, 7 de agosto de 2016
Endless love
Pela Comunicação Social, descobri hoje que a Marianne da canção de Leonard Cohen, que tanto cantei na adolescência, afinal existiu. E foi, de certo modo, um amor da vida toda.
A notícia, tão triste quanto emocionante, dava conta da morte no fim do mês de Julho dessa norueguesa que Cohen conhecera nos anos 60, numa ilha grega, e a quem tinha ficado ligado para sempre.
Sabendo que Marianne, de 81 anos, vivia os seus últimos dias, Leonard Cohen escreveu-lhe esta carta, que chegou dois antes de ela partir. Diz-se que, quando a ouviu ler sorriu, e estendeu a mão, como se quisesse tocar a mão que ele lhe estendia.
São histórias comoventes, como esta, que nos fazem acreditar que não há nada mais grandioso que o amor. E que há muitas formas de amar. E amores que duram a vida inteira...
Well Marianne it's come to this time when we are really so old and our bodies are falling apart and I think I will follow you very soon. Know that I am so close behind you that if you stretch out your hand, I tink you can reach mine. And you know that I've always loved you for your beauty and your wisdom, but I don't need to say anything more about that because you know all about that. But now, I just want to wish you a very good journey. Goodbye old friend. Endless love, see you down the road...
sexta-feira, 5 de agosto de 2016
Andar de autocarro em Lisboa
Contrariamente à maior parte dos portugueses, eu não tenho carro. Utilizo por isso os transportes públicos com frequência, sem o mínimo problema. Sou, de resto, uma espécie de especialista na matéria: conheço quase todas as carreiras e sei as ligações e os percursos para chegar no mínimo tempo possível onde quero. Tenho, também, uma colecção de episódios divertidos, caricatos, incómodos ou absurdos vividos nessas viagens e que fazem parte do lado mais pitoresco do quotidiano de uma cidade.
Mas quem, como eu, anda muito de autocarro, sabe também do desespero que é o serviço da Carris, em particular no Verão. O número de autocarros é reduzido em cerca de cinquenta por cento, diria eu, o que faz com que seja habitual em Julho e Agosto (que está fresquinho) esperar numa paragem meia hora até que chegue finalmente um autocarro. Depois, podemos ter a sorte de ter o ar condicionado ligado, o que é um alívio, ou preparar-nos para uma sessão de sauna, apenas porque o motorista não quer, ou não se lembrou, de o ligar. Já me aconteceu pedir para ligar o ar condicionado e responderem-me:"não deve estar a funcionar; entregaram-me o autocarro assim..." E, perante a minha insistência, lá acedeu a experimentá-lo, com alguma má vontade; afinal funcionava.
A maior parte dos motoristas necessita de facto de formação urgente. Em civismo e boas maneiras, sobretudo. Há de tudo: os que vão percursos inteiros a falar ao telemóvel; os que vêem uma pessoa que vem a correr para apanhar o autocarro e arrancam antes que ela chegue; os que nas paragens de início de carreira deixam as pessoas na paragem ao calor, ao frio, ou à chuva, e não abrem a porta senão uns segundos antes da hora da partida; e uma esmagadora maioria que não responde aos bons dias e/ou boas tardes que eu e outros passageiros lhes dirigimos à entrada, em atitude de clara e incompreensível má educação.
Há também a questão da rendição do motorista que, inexplicavelmente, se faz a meio dos percursos e nunca nas paragens de início ou fim de carreira, que me parecia ser o lógico. Nestas circunstâncias, o motorista que deixa o serviço dá dois dedos de conversa com o que então o inicia (isto quando não tem que esperar que ele chegue, ou se aproxime tão lentamente quanto possível) e depois toda a gente tem de esperar o tempo que for necessário para que o novo motorista se acomode, ajeite o banco, arrume as sua coisinhas, faça umas anotações. Tudo isto demora, no mínimo, uns cinco a dez minutos. Cumprir horários também é assunto que desconhecem, mesmo aos fins de semana, em que não há a desculpa do "trânsito".
Nem de propósito, hoje, num dos autocarros em que andei, estava afixada à frente do meu nariz a "carta do cliente da Carris", na qual se podiam ler estas pérolas: Para a CARRIS a Qualidade é um desafio diário, assumido como um ponto de partida para a satisfação das necessidades e expectativas dos Clientes, e para o bem-estar social.(...) Assim, os nossos compromissos são:
• Desenvolver a Rede, de modo a que qualquer ponto da Cidade tenha uma paragem a uma distância aceitável, tendo em consideração as condições e especificidades locais, assim como as necessidades dos Clientes, especialmente os que apresentam mobilidade reduzida;
• Definir os horários de forma ajustada à procura, adoptando rapidamente as medidas correctivas que se revelem necessárias;
• Disponibilizar uma informação clara e correta;
• Promover acções que garantam a segurança dos Clientes;
• Adoptar medidas que assegurem a regularidade, em colaboração com as entidades gestoras da via pública;
• Desenvolver a rede de vendas e concretizar as melhores formas para facilitar a aquisição de títulos de transporte;
• Manter as viaturas em bom estado de conservação e limpeza;
• Assegurar a qualidade dos Recursos Humanos da Empresa;
• Cumprir os requisitos legais quanto a emissões poluentes, contribuindo para a protecção do meio ambiente;
• Avaliar periodicamente, através de inquérito específico, o nível de satisfação dos Clientes;
• Atender às reclamações e sugestões dos Clientes como fonte de informação para a melhoria contínua do serviço.
Será caso para dizer: "está bem, abelha..." Faz lembrar um diploma publicado há cerca de dois anos no Diário da República, que previa aplicação de coimas entre 50 e 250 euros a quem perturbasse os outros passageiros, entrasse ou saísse com lotação esgotada, ou projectasse objectos para o exterior, etc. Tudo muito bonito, mas apenas para que conste e para ficar no papel. Porque, de então para cá, não houve qualquer alteração neste sentido. E basta um grunho ter vontade de ouvir música aos berros para não haver quem ouse impedi-lo.
Não é que eu seja muito viajada, mas ainda assim, as capitais e cidades europeias que conheço têm de facto um bom serviço de transportes; e isso faz toda a diferença. Mas nesta, como decerto noutras matérias, somos ainda, claramente, do quinto mundo...
Nem de propósito, hoje, num dos autocarros em que andei, estava afixada à frente do meu nariz a "carta do cliente da Carris", na qual se podiam ler estas pérolas: Para a CARRIS a Qualidade é um desafio diário, assumido como um ponto de partida para a satisfação das necessidades e expectativas dos Clientes, e para o bem-estar social.(...) Assim, os nossos compromissos são:
• Desenvolver a Rede, de modo a que qualquer ponto da Cidade tenha uma paragem a uma distância aceitável, tendo em consideração as condições e especificidades locais, assim como as necessidades dos Clientes, especialmente os que apresentam mobilidade reduzida;
• Definir os horários de forma ajustada à procura, adoptando rapidamente as medidas correctivas que se revelem necessárias;
• Disponibilizar uma informação clara e correta;
• Promover acções que garantam a segurança dos Clientes;
• Adoptar medidas que assegurem a regularidade, em colaboração com as entidades gestoras da via pública;
• Desenvolver a rede de vendas e concretizar as melhores formas para facilitar a aquisição de títulos de transporte;
• Manter as viaturas em bom estado de conservação e limpeza;
• Assegurar a qualidade dos Recursos Humanos da Empresa;
• Cumprir os requisitos legais quanto a emissões poluentes, contribuindo para a protecção do meio ambiente;
• Avaliar periodicamente, através de inquérito específico, o nível de satisfação dos Clientes;
• Atender às reclamações e sugestões dos Clientes como fonte de informação para a melhoria contínua do serviço.
Será caso para dizer: "está bem, abelha..." Faz lembrar um diploma publicado há cerca de dois anos no Diário da República, que previa aplicação de coimas entre 50 e 250 euros a quem perturbasse os outros passageiros, entrasse ou saísse com lotação esgotada, ou projectasse objectos para o exterior, etc. Tudo muito bonito, mas apenas para que conste e para ficar no papel. Porque, de então para cá, não houve qualquer alteração neste sentido. E basta um grunho ter vontade de ouvir música aos berros para não haver quem ouse impedi-lo.
Não é que eu seja muito viajada, mas ainda assim, as capitais e cidades europeias que conheço têm de facto um bom serviço de transportes; e isso faz toda a diferença. Mas nesta, como decerto noutras matérias, somos ainda, claramente, do quinto mundo...
terça-feira, 2 de agosto de 2016
Histórias de Lisboa (II)
É o coração de Lisboa e por isso fervilha de gente e de vida, ainda mais agora, que a cidade está na moda e para os turistas é ponto de passagem obrigatório.
A mim, sabe-me sempre de algum modo a infância, ao tempo em que ir à Baixa significava visita à casa dos avós, ou a excitação das compras, - onde nunca faltava uma voltinha nas escadas rolantes do Grandella, - o cheiro peculiar das lojas de tecidos, ou o sabor inigualável dos batidos de morango da Ferrari.
Houve depois, nos anos 80, aquele terrível Agosto em que acordámos em sobressalto com o barulho das sirenes dos bombeiros e a notícia do Chiado em chamas. Nessa manhã, fui até ao Miradouro da Senhora do Monte e, mesmo só ao longe, ao vê-lo assim, a ser destruído por aquele fogo que parecia imparável, chorei. Parecia que uma parte da história da nossa vida se apagava também, no incêndio. E de facto, durante anos, o Chiado manteve-se lúgubre, triste e quase morto, mas renasceu das cinzas e readquiriu uma nova pujança.
A Baixa-Chiado é agora uma outra Lisboa, mais moderna e cosmopolita, mas não menos encantadora. Continuam a seduzir-me as ruas estreitas, o Tejo a espreitar em cada volta de esquina, a boémia e a tradição, como se em cada recanto houvesse ainda ecos dos pregões das varinas e a todo o momento pudesse começar a ouvir-se um fado à desgarrada.
Hoje, há o Santini e a Vida Portuguesa, as esplanadas e os terraços, um certo ar de férias. Hoje, por motivos diferentes, ou talvez não - no fundo são quase os mesmos - continuo a gostar de ir passear à Baixa, de caminhar sem destino na preguiça e na alegria de quem descobre a cidade como se a visse pela primeira vez.
E em Agosto, apesar dos turistas, ela parece um pouco mais lenta do que no resto do ano, espreguiçando-se languidamente no calor das tardes, embalada ao de leve na brisa do fim do dia, entre gaivotas e maresia, sob o olhar plácido e enamorado do rio, com quem vive de mão dada.
Lisboa, sabes...
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,
um vento súbito e claro
nos cabelos,
alguma rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus
e degraus até ao rio.
Eugénio de Andrade
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
A gosto
É sobejamente conhecida a minha aversão pelo mês que agora começa - aquele de que menos gosto - e o meu desgosto por não poder ter férias numa época mais apetecível, sem moscas, suor e excessos de banhas e outras misérias corporais despudoradamente à mostra.
Mas, como tudo tem também um lado bom, o que me sabe bem agora é ter tempo e poder usá-lo segundo a vontade de cada momento, poder entregar-me a pequenos prazeres com vagar, dormir, dormir, dormir, apanhar sol e ter a cidade um pouco mais liberta de todos os que rumaram a sul, para onde não ia nem que me pagassem. Por aqui, o calor abrandou, corre agora uma agradável aragem e estou, como dizem os espanhóis, "muy a gustito"...
Subscrever:
Mensagens (Atom)