Depois de Lisboa, é Paris a cidade que trago no coração. O que nos liga é um amor intenso e muito antigo. Conheci-a nos livros, nas fotografias, nas canções, nos filmes, antes de a conhecer na realidade; idealizei-a ao sabor da minha imaginação, deixando-me encantar pelo romantismo e a boémia que lhe estão associados, num tempo em que a cultura francesa era ainda a cultura dominante, embora já em fase de declínio.
Quando a visitei pela primeira vez, devia ter uns dezanove anos. E foi uma enorme emoção. Sonhara com esse encontro vezes sem conta. Ainda me lembro como se fosse hoje da minha entrada inicial em Paris, de madrugada, na excitação de tudo o que se quer muito e acontece pela primeira vez, na alegria desassombrada de poder por fim estar num lugar que nunca vira antes e que, no entanto, já me pertencia. E da comoção de tudo ser tão real e palpável, daquele mundo, até aí sonhado e imaginário, subitamente tornado verdade para os meus sentidos; e daquela primeira impressão de grandiosidade, de que tudo era afinal imenso, ou, pelo menos, muito maior do que eu imaginara.
Quando a visitei pela primeira vez, devia ter uns dezanove anos. E foi uma enorme emoção. Sonhara com esse encontro vezes sem conta. Ainda me lembro como se fosse hoje da minha entrada inicial em Paris, de madrugada, na excitação de tudo o que se quer muito e acontece pela primeira vez, na alegria desassombrada de poder por fim estar num lugar que nunca vira antes e que, no entanto, já me pertencia. E da comoção de tudo ser tão real e palpável, daquele mundo, até aí sonhado e imaginário, subitamente tornado verdade para os meus sentidos; e daquela primeira impressão de grandiosidade, de que tudo era afinal imenso, ou, pelo menos, muito maior do que eu imaginara.
Hoje, já não sei quantas vezes lá voltei. Conheço Paris em quase todas as estações do ano: sei do sol abrasador nas tardes de Verão do Quartier Latin - que eu adoro -, do frio cortante que se sente ao caminhar nas Tuileries, em manhãs gélidas de Inverno, do encanto da cidade tão justamente apelidada cidade luz (ville lumière) intensificado pelo brilho das iluminações na época de Natal, da doce tranquilidade das manhãs na Place des Vosges, do sol de Primavera amenizando o silêncio e a quietude dos cais do Sena, luminoso, reflectido no rio, ou fazendo brilhar os típicos telhados, na deslumbrante vista da cidade desde Montmartre. Falta-me apenas Paris no Outono; e imagino como devem ser fantásticos os fins de tarde no Jardin du Luxembourg, - que é um dos meus locais preferidos -, com as árvores e os extensos relvados cobertos de folhas douradas.
Gosto de tudo em Paris: dos monumentos e dos edifícios, das ruas e dos cafés, das praças, dos jardins, da cidade construída à volta do rio, da dissemelhança das suas inúmeras pontes, dos bateaux-mouche, passeando de cá para lá no Sena, da arte em cada esquina, do requinte de cada detalhe, do ar em que se respira cultura e sofisticação, da atmosfera simultaneamente retro e avant-garde.
Paris é uma cidade apaixonante, um daqueles lugares com alma, onde o amor apetece. Há nesta cidade uma magia qualquer, uma luz especial, um magnetismo insondável, que me faz querer sempre voltar. Porque, para mim, regressar a Paris é como regressar aos braços de um amor antigo, que se conhece de cor e ainda assim nos surpreende e entontece, que guarda inesgotáveis segredos por revelar. Entre nós há uma cumplicidade que não consigo explicar. Talvez só em Baudelaire, na sua Invitation au Voyage, encontro algo que se aproxima vagamente do que Paris me faz sentir, no dístico que se repete como um estribilho: Là, tout n'est qu'ordre, beauté, luxe, calme et volupté.
Paris é um dos meus grandes amores. Um amor sem porquê. Mas, não são todos os amores inexplicáveis, avessos a definições, irredutíveis às palavras?