Nem sempre começa por ser uma opção. Muitas vezes é fruto de um acaso qualquer, ou de um conjunto das mais variadas circunstâncias. A verdade é que quem experimenta acaba, quase sempre, por não querer outra coisa. Porque se aprende a ser independente e a gostar disso. Mesmo que no ínício possa até não ser fácil.
Na maior parte dos casos é um percurso lento, feito de altos e baixos, de avanços e de retrocessos, de arrojo e de arrependimento. Do deslumbramento ante a ideia romântica de se ser dono da sua vida e de momentos em que só se deseja um colo onde repousar a cabeça, ou o calor reconfortante de uns braços que acolham uma fragilidade repentina.
E depois, é preciso saber lidar com a opinião dos outros: dos que olham com desconfiança para quem gosta de viver sozinho, vendo nisso o sinal de uma anormalidade qualquer e lançando olhares apiedados de quem não acredita que isso não signifique uma enorme solidão; dos que no fundo invejam essa vida, mesmo não ousando confessá-lo, e apenas o deixam transparecer em sorrisos admirados e reprovadores, ansiando secretamente a liberdade de gerir também o tempo com autonomia plena, mas incapazes de se libertar de uma conjugalidade muito mais solitária, mantida a pretextos vários. E, ainda, dos detentores de uma mentalidade retrógrada, mas persistente, que vê em cada pessoa que vive só (e pior se for uma mulher) um libertino em potência, ou um pinga-amor, disposto a quase tudo por um pouco de companhia. Nada mais irritante, nem mais errado! Mas, como li no outro dia, a verdade é que "à medida que vamos ficando mais velhos, vamo-nos tornando mais sábios e mais imunes às censuras alheias."
Quem escolhe viver só sabe o valor de fazer o que lhe apetece do seu tempo e do seu espaço e a importância do silêncio de poder estar a sós consigo. Conhece o prazer de dormir demais, ou de se deitar às horas mais impróprias, de chorar e de rir desalmadamente sem ter que justificar tristezas e alegrias, de comer no sofá, à frente da televisão, ou de deixar coisas por arrumar.
E de como tudo isso é fundamental para o seu equilíbrio e o seu bem-estar físico e emocional, que permite que estar acompanhado seja vivido de uma forma muito mais plena, que a cumplicidade e a partilha possam ser ainda mais verdadeiras, porque genuinamente desejadas.
E redescobrir, assim, a importância do amor verdadeiro e da companhia, de abraçar quem se gosta com força, na felicidade de instantes vividos na serenidade e na paz de duas vontades em sintonia.
Não é menos amor; pode até ser uma forma de intensificar laços e ligações, de aumentar a intimidade, vivida sem plano prévio, de experimentar a sensualidade do corpo sem a rotina dos gestos maquinais, feitos quase só por obrigação, do sexo com horas e dias marcados, como o cumprimento de uma tarefa mais e não como uma prova de amor; e da recusa da vida a dois transformada num inferno quotidiano, que se acredita poder vir ainda a superar, em nome de um passado que um dia já foi feliz.
Haverá sempre quem não entenda que este não é um caminho de solidão e que viver só não é viver isolado. É escolher ser mais feliz.
E que, nestas como noutras coisas, cada um sabe de si...