segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Mães e filhas



Era improvável ir ver este filme, mas ainda bem que aconteceu. O título, Mon bébé, não me seduzia particularmente e, com excepção de Sandrine Kimberlain, a protagonista, nem o restante elenco, nem a realizadora, Lisa Azuelos, me diziam alguma coisa.
A história retrata a relação cúmplice de uma mãe e de uma filha em fim de adolescência, prestes a "fazer-se à vida". E aquilo que poderia ser uma imensa xaropada, com todos os ingredientes lamechas e dramáticos que conseguimos imaginar, revela-se afinal uma hilariante comédia, simultaneamente divertida e tocante, sobre a qual cada um de nós tem a sua própria história e pode pois rever-se em algumas passagens.
Nota muito alta para o excelente papel de Sandrine Kimberlain em mãe simultaneamente preocupada, compreensiva e ternurenta, cheia de defeitos e qualidades, e para a verosímil cumplicidade que consegue estabelecer com Thais Alessandrin, a filha, que é, de resto, filha da própria realizadora na vida real.
Na verdade, ao contrário das minhas baixas expectativas iniciais, gostei bastante do filme. Mas talvez este seja um assunto que me diz muito, por estar numa fase da vida em que "mãe" é sinónimo de amor sem fim, de colo e de porto de abrigo, como sempre foi, mas também de preocupação constante, de fragilidade, de mimos vários, de amparo em fim de caminho.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Mini-férias


Daqui a pouco mais de hora e meia começam as minhas mini-férias. Durante cinco dias, o mundo é todo meu! E nem é preciso sair daqui, pois prefiro as alturas menos concorridas. Mas o simples facto de mudar de rotinas e de poder usar o tempo como muito bem entender, fazendo só o que me apetece, quando me apetece, com quem me apetece, já é uma sensação de liberdade e de bem-estar magnífica.
Por estes dias, com o fim do ano a chegar e perante uma nova década, fazem-se balanços, traçam-se metas e projectos, enumeram-se vontades, tudo só boas intenções e resoluções que raramente se cumprem.
Para mim, escolho o que me faz mais feliz: a companhia de quem mais gosto, e todos os afectos, amores, amizades, laços vários, que me fazem rir e que me aconchegam a vida.
Parece pouco, mas é muito. É que, para além da saúde, que é o mais precioso de todos os bens, é o amor em todas as suas vertentes, modos e maneiras que vale a pena.
O resto, todas as promessas e vontades, esperas e desejos, avanços e recuos, luzes ou sombras, vão-se construindo e vivendo, caminho fora.
Enfim, seja como for, onde for, ou com quem for, férias são férias. E, neste momento, é isso que me anima.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Regressar ao passado?


Depois de Monsieur et Madame Adelman, em 2017, Nicolas Bedos, o filho de Guy Bedos, regressa ao tema das relações amorosas e dos "estragos" do tempo, com um elenco de peso que inclui Daniel Auteuil, Fanny Ardant, Guillame Canet, Pierre Arditi e uma magnífica Doria Tillier, que já conhecíamos do filme anterior.
Apresentado fora de competição no Festival de Cannes de 2019, onde foi muito aclamado pela crítica, La Belle Époque é de facto um daqueles filmes que toca num qualquer ponto da nossa sensibilidade, e não apenas pelo brilhantismo das interpretações. Há uma mistura de comédia e drama, de passado e presente, de verdade e de mentira,  de veracidade dos sentimentos, de sarcasmo e de emoção, de nostalgia, também, tudo feito com originalidade, humor, planos rápidos, que conferem energia à narrativa, e deliciosos diálogos.
Centrado num possível regresso ficcional ao passado, que neste caso são os anos 70 e tudo o que lhes está associado, sem esquecer detalhes como a música ou a indumentária, por exemplo, o filme coloca o dedo na ferida sobre o saudosismo que deixa em nós a passagem do tempo, a vontade de reviver alguns instantes que marcaram a nossa vida e a ideia de que a lembrança de um dia feliz de um tempo que já não volta pode talvez ser a ocasião para aproveitar melhor o momento presente. 
A ver, pois claro!...

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Aquele abraço


Já não era o tempo de morrer de amor. E no entanto, nada lhes parecia mais perfeito do que os momentos de intimidade em que não havia nada a não ser eles os dois, e a vontade urgente de se terem um ao outro e de ficarem assim, agarrados para sempre, no calor de um abraço que lhes sabia a paraíso e a eternidade.
Eram esses momentos só deles, vividos entre aconchegos e afagos, tudo só pele, toque, emoção e sensualidade pura; era aquele amor desmedido, que lhes acontecera sem esperas nem anúncios prévios, como um destino a que não se pode escapar, e que durante tantos anos fora prisão e liberdade, desconcerto e calmaria, desatino e redenção; era tudo isso, bom e mau, incompreensível e insensato, que fazia a vida valer a pena.
Às vezes era até um pouco assustadora a força com que se queriam, a urgência de se perderem no corpo um do outro, a vontade de se descobrirem e se terem para lá de tudo o que já era deles e mais ninguém conhecia.
Tinham aprendido a entender-se em silêncio, a conhecer-se nos risos e nos olhos, em todos os humores, manias, ânsias e formas de ser, a sentir-se perto mesmo quando estavam longe, a aceitar-se em tudo, a saber-se fragéis e imperfeitos, como os demais.
E tinham a certeza que, para lá de tudo o que ia acontecendo nos dias e anos das suas vidas, não havia prazer maior que o dos seus corpos confundidos, nem melhor abraço ou companhia; e que, por isso, fosse como fosse, haveriam de continuar a tomar conta um do outro para sempre. 

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Presunção e água benta...


Há pessoas que acham que o simples facto de aparecer na televisão ou em qualquer outro espaço público, de ser minimamente "conhecidas", as torna uma espécie de vedetas, distintas das demais, como se de uma casta superior se tratasse. E desfilam então a sua vaidade vã, de ego inchado por onde quer que passem, como se fossem "alguém que vem de algures", sem paciência nem apreço pelo comum dos mortais. Mas essa altivez e petulância não é senão  uma forma, como outra qualquer, de mascarar fragilidades...
Felizmente, há também quem não seja assim; quem, para lá das capacidades, qualidades ou destaque(s) que possa ter  se mantém sempre a natural, acessível, simpático e genuíno, por uma questão de educação, pela sua maneira de ser, ou ambas as coisas. E essas são, sem dúvida, as pessoas mais encantadoras e cativantes. Para mim, pelo menos...

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Um extraordinário talento


De Richard Linklater, o realizador, vi e gostei muito de Boyhood (2015) e mais ainda da trilogia Before (Sunrise, Sunset, Midnight) que faz parte dos filmes da minha vida. Em todos eles assume particular relevância o tempo (Boyhood foi filmado durante doze anos e há nove anos a separar cada um dos títulos da trilogia, fazendo assim coincidir o tempo da história e o tempo da  narração).
Sabendo que Where'd you go Bernadette ("Onde estás Bernadette", em português) era mais um título de Linklater em cartaz, pareceu-me logo razão mais que suficiente para ver o filme. E como se isso não bastasse, havia ainda Cate Blanchett, uma das minha actrizes preferidas. Tudo isto tornava-o para mim imperdível.
Baseado num romance de Maria Koegh Semple com o mesmo nome, Where'd you go Bernadette é o retrato de uma mulher complexa, mãe e mulher atípica, anti-social e isolada do mundo, apesar de, segundo os clichés, "ter tudo para ser feliz"; é a história de um renascimento, artístico e pessoal, contada com algum humor, muita ironia e um olhar crítico sobre o mundo. Filme simultaneamente simples e complexo, que aborda diversos temas da vida de todos os dias, com as suas alegrias, tristezas e contradições.
E, no entanto, diria que desta vez Linklater desilude de certo modo ou, pelo menos, talvez tenha gostado um pouco menos deste filme do que dos que já vira dele. 
De facto, a sua grandeza está inteiramente, creio, no excepcional talento de Cate Blanchett, charmosa e irreverente, mas sempre intensa, a fazer lembrar Jasmine de Woody Allen, que lhe valeu o Óscar de Melhor Actriz em 2014. É ela que torna convincente esta Bernadette, na sua misantropia e riqueza humana, na sua decadência profissional e pessoal, no reencontro consigo mesma através da criatividade e da fuga ao quotidiano, na complexidade dos vários relacionamentos com as restantes personagens. O filme é todo ela, é ela que o "salva", e só para a ver e apreciar o seu imenso talento vale muito a pena ir ao cinema.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Os dias não



Acho que acontece a toda a gente. Há dias luminosos e outros mais sombrios. Há os dias em que nos sentimos bem na nossa pele; e há outros que nem por isso. Não é preciso haver uma razão que o justifique, ou ela pode ser o mais fútil e insensata possível. Todos nós já gostámos e não gostámos do que vemos no espelho. Já achámos que estávamos bem ou que estávamos um pouco mais gordos, ou mais velhos, ou seja lá o que for. E, muitas vezes, basta esse mau humor, essa sensação difusa de que nem tudo é o que gostaríamos que fosse, para que o dia corra um pouco menos bem.
Falo de humores passageiros e não de "maus feitios". Nem vale a pena tentar entender como, porquê ou de onde chega essa sensação inexplicável de desconforto, que se nos instala a contragosto no corpo e no coração e nos ocupa o dia e a vida.
Sempre que isso me acontece, não consigo deixar de sentir algum remorso por saber que não há no fundo nenhuma razão que justifique o modo como me sinto. Resta-me o consolo de saber que a maior parte dos dias não são assim; e que os que são, logo passam. Então, nada melhor do que aceitar que é tudo muito natural, que também não há pachorra para quem está sempre muito contentinho e que, mesmo sem motivo, ficar melancólico, impaciente ou um pouco mais desconsolado não tem, afinal, mal nenhum.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Advento


Longe vai o tempo em que o Natal era muito mais "Menino Jesus" do que "Pai Natal" e em que a sua essência era muito mais emotiva e e espiritual do que a superficialidade exageradamente consumista em que se tornou nos dias de hoje.
Por isso, muita gente, por estes dias, espera que passem as festas, com todos os seus excessos e obrigações e que tudo retome o habitual sossego e normalidade.
Também a mim me apetece cada vez mais fugir para longe deste azáfama parva e sem sentido que é agora o Natal, embora saiba que isso não é possível. Tento, ainda assim, passar o mais imune possível aos estragos da época; e vivê-la "à minha maneira", como faço com tudo o resto.
Ontem, dia em que começou o Advento, encontrei no  FB da Isabel G Neto o seguinte texto:

Rezar o Desejo do Natal de Deus - D. José Tolentino de Mendonça, 25-11-2019

O Natal do comércio chega de um dia para o outro. Fácil, tilintante, confuso, pré-fabricado. É um Natal visual. Um amontoado de símbolos.Um ar do tempo.
Dentro de nós, porém, sabemos que não é assim. Para ser verdade, o Natal não pode ser só isto. Não poder servir apenas para uma emoção social, para um corrupio de compensações, compras e trocas. Para ser verdade, o Natal tem de ser profundo, tem de ser rezado, essencial, interpelador, mais espiritual do que material, mais solidário do que egocêntrico. Caminhar para o Natal é preparar com verdade o seu coração para Aquele que vem. Deus vem ao nosso encontro para que possamos ir ao encontro de Deus. Deus humaniza-se para que a nossa vida se divinize, para que cada um de nós receba com mais intensidade o sopro do Espírito. A Maria, o Anjo diz na Anunciação:"O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. (Lc1:35). Que Maria, a Senhora do Advento, acorde em nós o desejo do Natal."

E este texto lembrou-me um outro, com a mesma autoria:

Para haver Natal este Natal
talvez seja preciso recordar
Que as vidas começam e recomeçam
E tudo isso é nascimento (logo, Natal)
Que as esperanças ganham sentido
Quando se tornam caminhos e passos.
Que para lá das janelas cerradas
Há estrelas que luzem
E há a imensidão do Céu.
Talvez nos bastem coisas
afinal tão simples:
O alento dos reencontros
autênticos;
A oração como confiança 
soletrada;
a certeza de que Jesus nasce 
em cada ano,
Para que o nosso Natal alguma vez,
esta vez,
seja Natal.

Era bom que todos conseguíssemos virar-nos um pouco mais para dentro e, em silêncio e paz, vivêssemos a essência e a plenitude do que o Natal significa: apenas simplicidade e amor.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Bicharada e fundamentalismos


Quem me conhece sabe que para além de ter uma inexplicável fobia a cães (não são todas as fobias inexplicáveis?) não sou particularmente dada à bicharada. Ou seja, não maltrato os animais nem lhes desejo mal algum, mas gosto de guardar uma certa distância, que significa: eles na vida deles e eu na minha.
Apesar disto, ou talvez por isto, não consigo entender que se trate os animais como se fossem pessoas, que se durma com eles na cama e quase  se coma do mesmo prato, que eles vão com os seus donos aos restaurantes, que andem nos transportes públicos, e todas as particularidades a que se vai assistindo de uma forma cada vez mais exagerada e até descabida que, para mim, é uma verdadeira aberração.
Acho que a maior parte destes donos revela um total desrespeito pelo que é a natureza animal e, ao contrário do que apregoa, age numa perspectiva profundamente egoísta. Ter um animal fechado num apartamento, por exemplo, parece-me que serve muito mais os donos do que o próprio bichinho, que tanto defendem.
Enfim, cada um que faça o  que entender, desde que respeite quem pensa e /ou vive de outra maneira, e que se preocupe em que o seu "amor pelos animais" não incomode os outros, o que, infelizmente, é raro acontecer.
Nisto, dou razão a um amigo meu, que dizia com muita graça que tinha feito este acordo com a sua cadela: "Ela não entra em minha casa; eu não entro na casota dela".  E é assim que sempre deveria ser.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Pelo mundo fora





Há uns anos, já não me lembro bem quantos, durante um mês ou dois, tive que substituir uma colega que tinha sido operada de urgência, e calhou-me em sorte uma turma de francês, da qual fazia parte a Marta Durán. Tinha, já na altura, o olhar vivo, o sorriso rasgado e um espírito positivo cheio de uma energia boa, contagiante.
Quando passei pela sua sala de aula, teria uns catorze ou quinze anos. Entretanto cresceu, licenciou-se em Ciências da Comunicação, fez voluntariado e essa experiência mudou-lhe a vida. Hoje, com vinte e quatro anos, em vez de optar pelo caminho mais comum, a Marta decidiu partir à descoberta do mundo, sozinha, com todos os riscos e perigos que isso implica, afrontando o medo, sempre com a enorme energia e boa disposição que a caracterizam. 
Deu aulas de Português no Nepal, trabalhou para a Unicef na Guiné, andou já por meio mundo, com um orçamento muito reduzido que consegue a guiar TukTuk em Lisboa. Viaja quase sempre à boleia e fazendo couchsurfing, ou acampando, e assim vai somando experiências, aventuras e conhecimento.
Eu, que não sou nada aventureira, tenho uma profunda admiração pela coragem e a audácia desta miúda, pela sua capacidade de acreditar nos outros, e de viver de forma tão destemida.
Acho que jamais seria capaz de fazer o que ela faz, mas tenho "viajado" muito com ela, porque vai contando todas as peripécias das suas viagens, a par e passo, no Instagram.
A última, que está agora a decorrer, é ir até à Guiné-Bissau em bicicleta. Ontem estava na Mauritânia, preparando-se para uma viagem de comboio de quinze horas; e dizia isto: "Não podemos deixar que o medo nos consuma. O medo é um impulsionador de cumprir sonhos."
Acho magnífica esta forma de viver a vida. Sobre a Marta, o nosso primeiro pensamento pode ser "grande maluca", mas rapidamente nos rendemos ao descobrir uma pessoa maravilhosa, de bem com  a vida, humilde e generosa, irradiante de luz e felicidade.
Para mim, é uma inspiração; e tem-me ensinado imensas coisas sobre o arrojo e a força do querer.
Vale muito a pena segui-la, ou, pelo menos, ir espreitar.


https://www.facebook.com/imguineabissau/videos/275970190002018/

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Outono deslumbrante



Partir. Ir e voltar. Procurar em novos lugares de que revigorar a alma e ganhar forças, vontades e ideias novas para enfrentar o quotidiano, sempre tão repetitivo e acelerado. Deixar-se levar pelos sentidos, pelo esplendoroso colorido quente e dourado de árvores e jardins, o cinzento do céu, os cheiros próprios da época. Respirar outros ares, ver outras gentes, outras vidas, conhecer novas cidades, renovar-se, sossegar. Viver mais lentamente. Soltar o olhar e poder observar tudo com o detalhe de quem se pode dar ao luxo de ir devagar. Caminhar sem destino certo. Maravilhar-se diante da beleza do mundo. Dar valor ao que se tem. E perder-se a sonhar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Menina do Mar



MAR

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.

                                                                        (Sophia de Mello Breyner)

Foi através deste livro de capa cor do mar que a conheci. Com ela aprendi a beleza, a poesia, a força das palavras, o amor do mar e da vida. 
Sophia nasceu há cem anos. Mas, em nós e no mundo, viverá para sempre. 

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Um dia de chuva em Nova Iorque


Nunca perco um filme de Woody Allen, um dos meus realizadores preferidos, polémicas à parte, que nesta como noutras questões não há que confundir a obra com a vida do autor. Goste-se  mais ou menos da sua filmografia, parece-me um autor fundamental para quem gosta de cinema. Mesmo se, como acontece até com os maiores, tem uma obra desigual. É por isso natural gostar-se de uns filmes mais do que de outros, embora considere que, ainda assim, vale sempre a pena vê-los.
Os filmes de Woody Allen são sempre divertidas e inteligentes histórias, muito bem contadas, que têm, em geral, o jazz como pano de fundo, belas imagens e uma mistura bem doseada de humor, neurose e melancolia.
Há um pouco de tudo isso em A rainy day in New York, cidade fétiche deste realizador, e o seu mais recente título. E, no entanto, apesar dos interessantes diálogos, dos hilariantes encontros e desencontros, do hino à cidade que o filme também é, como muitos outros com a sua assinatura, este soube-me a pouco e deixou-me com a sensação de "déjà vu".
Assim, ao contrário de outras opiniões que já fui lendo, este não é, para mim, um filme a não perder; é apenas mais um típico filme de Woody Allen, ao qual falta o fulgor e a criatividade que têm alguns dos seus mais brilhantes títulos. É um bom filme? Sim. Mas não nos empolga, nem marca, nem deslumbra.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O estado a que isto chegou



Parece-me absurdo um país onde um GNR ou um militar pode ir para casa aos 55 anos, recebendo o ordenado por inteiro, numa situação designada como "reserva", - seja lá isso o que for -, e um professor tem de trabalhar quase até aos 70 anos. 
Só quem já passou pela Escola e pela sala de aula sabe o desgaste físico e psicológico de receber de hora a hora cerca de trinta alunos diferentes, cada um com os seus problemas, necessidades e idiossincrasias, aos quais é preciso atender, sem um minuto de desatenção. E de como é preciso ser forte e corajoso para conseguir responder a todas as exigências e trabalho extra, que implica muitas horas "roubadas" ao direito de  descansar, de pensar  e de ter tempo para a vida pessoal. 
Por isso, não admira que hoje já pouca gente queira ainda ser professor e que mesmo os que sempre gostaram de o ser (como eu, por exemplo), optem, se tiverem essa possibilidade, por afastar-se e escolher um quotidiano que pode até ser menos desafiante, mas será, sem dúvida, mais calmo e compensador.
Conheço muitos professores. E todos, quase todos, escolheram essa profissão e gostam dela. Mas todos, também, estão fartos e cansados; e desistiriam, se pudessem. É triste que se tenha chegado aqui. Revoltante, até, de certo modo.
Há dias, houve um professor que agrediu um aluno, o que é, naturalmente condenável a todos os títulos, e provocou toda a espécie de reacções e alarmes na comunicação e redes sociais. Mas quem é professor, só quem é professor, hoje, sabe como é fácil uma pessoa "passar-se". Como os alunos são cada vez mais mal educados, insolentes e desrespeitadores, e os pais são, na maior parte dos casos, ainda piores que eles. E como todas as agressões, insultos e afrontas são sistematicamente ignorados ou branqueados; como cenas de violência física, psicológica e verbal, incluindo facas e afins, são muito mais comuns do que a generalidade das pessoas pode sequer imaginar e fazem parte do dia-a-dia da maior parte das escolas.
E, como se tudo isto fosse pouco, vem agora o governo falar em "criar um plano de não retenção no ensino básico, trabalhando de forma intensiva e diferenciada com os alunos que revelam mais dificuldades", em "autonomia reforçada para as escolas com piores resultados", que passa por "adequar a oferta curricular ao seu público específico reforçando, por exemplo, o ensino das línguas, das artes ou do desporto".
Quem trabalha na Escola sabe muito bem que isto é o habitual blábláblá, que na prática se traduz em coisa nenhuma e apenas justifica o caminho para o facilitismo, tão caro a governos socialistas, que faz com que a escola seja  hoje um lugar onde não se educa, se ensina pouco e se aprende ainda menos, onde ninguém se sente feliz, e onde a violência assume proporções inimagináveis, perante o encolher de ombros generalizado.
É pena que nestas coisas nunca se ouça quem conhece pelo lado de dentro o que há de melhor e de pior no desafio de ensinar, que sabe melhor que ninguém o que se ganha ou se perde em cada dia; e sente na pele como isso pode ser física e psicologicamente duro, e esgotante, mas gosta de o fazer, apesar de tudo, embora vá gostando cada vez menos, e sonhando com o dia em que possa, enfim, ir embora.
   

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Comédia(s) de Costumes


A dupla Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri já nos habituou a um olhar mordaz sobre a sociedade, em divertidas comédias feitas de humor inteligente e observação dos comportamentos humanos, desde o muito premiado Le goût des autres, de 2000.
É um pouco nesta linha que surge o último filme de Agnès Jaoui, de 2018, mas só agora estreado entre nós, Place Publique, cujo argumento foi de novo escrito a dois, e que ambos protagonizam juntamente com Léa Drucker e um conjunto de outros actores, que contribuem em grande parte para o (bom) resultado conseguido.
Há quem considere que este filme fica aquém do primeiro filme da realizadora, já mencionado, e considerado por muitos a sua obra-prima. Sem querer entrar nesse tipo de comparações, que não vêm ao caso, Place Publique faz-nos passar uns divertidos 98 minutos, com um olhar mordaz sobre (quase) todos os vícios da sociedade moderna, onde não falta a crítica ao desejo da eterna juventude, à sede da fama, ao olhar desencantado sobre o tempo que passa, aos Youtubers, à imigração, às preocupações humanitárias e ao desprezo de quem está mais próximo de nós, ao choque de classes sociais e de gerações, tudo em tom ligeiro e humorístico, que nos faz rir e pensar naquilo de que rimos, simultaneamente.
Não será uma obra maior, decerto, mas trata-se um interessante filme, que nos conta uma história que é, afinal, sobre todos nós. E, por isso, eu acho que vale a pena ver.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Take me as I am


Não acreditava muito no que se dizia dos signos, mas se houvesse nisso alguma verdade, então era de Peixes sem tirar nem pôr, aquele que se crê que tem as mulheres mais excessivas, desconcertantes e misteriosas, ostentando emoção e sensibilidade de forma desmedida.
Sabia muito bem o que não queria e, com o tempo, aprendera que amar também é soltar mais que prender. Continuava a ter dúvidas e incertezas sobre muitas coisas e perguntava-se se seria certo ir deixando a vida acontecer assim, ao sabor da vontade, ora deixando-se levar pelo coração, sem pensar, ora não querendo coisa nenhuma e caminhando  simplesmente, sem certezas nem quereres, confiando em si e na sua força, amando a sua liberdade, sonhando o impossível.
Achava que a felicidade não é um estado permanente mas momentos de plenitude total,  um turbilhão de emoções contidas que se soltam de repente e parecem existir fora da vida real, como no auge do prazer, corpos agarrados um contra o outro, em longos abraços, no doce embalo de que só o amor é capaz...
Gostava de beleza e sensualidade, de cinema, de música  e de literatura, de sol e de mar, tal como amava as cidades, os relógios e os livros; tinha nos afectos a sua maior força, aconchego e apoio; não tolerava a burrice, a má educação e a falta de nível e de bom gosto, por mais subjectivo que ele pudesse ser.
Dedicava-se ao que fazia com carinho e atenção, tinha um espírito e um corpo que alternavam entre a serenidade e a inquietação, gostava de gente e de solidão, era conservadora e arrojada, porque havia em si todas as contradições de qualquer ser humano.
E, mesmo nos  dias em que não havia nada que lhe apetecesse mais que um certo abraço muito apertado e  uma companhia serena que às vezes lhe sabia a pouco e outras vezes a paraíso total, tinha a convicção que vida é sempre para aproveitar como nos chega, que há certezas que se intuem e apenas se lêem no fundo dos olhos, e que todos os caminhos são uma possibilidade em aberto e se vão escolhendo e construindo devagar, com o impensável e o imprevisível da cada momento. 
Pensava nisto tudo, enquanto dentro da cabeça, repetidas, seguiam as palavras de uma velha modinha brasileira:
Eu nasci assim
Eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim..
(...)
Eu sou sempre igual, não desejo mal
Amo o natural
etcetera e tal...

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Acreditar na raça humana


Querendo ou não, tendemos a julgar pelas aparências, a deixar-nos levar por primeiras impressões e opiniões alheias, a separar, duvidar, temer.
Ninguém está imune. Mesmo quem não é desconfiado por natureza, como julgo que será o meu caso, não escapa a fazer juízos de valor e julgamentos apressados de forma sistemática e até leviana.
Mas depois, às vezes, por um imprevisto qualquer, nas voltas da vida, somos agradavelmente surpreendidos, por um gesto, um sinal ou uma acção que fica muito para lá das nossas melhores expectativas. E descobrimos, com alegria e espanto, que ainda há muita "gente boa"; e que a crença na humanidade pode ser redentora.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Imperdoável



Apesar de não ter conseguido ler todo o artigo, que é daqueles "premium" que tem que se ser assinante - e, por isso, pagar  - para conseguir ler na íntegra, concordo com o que pude ver do que diz João Marques de Almeida no artigo "Simplesmente ordinário" publicado hoje no "Observador": As imagens de António Costa a discutir com um eleitor não deixam qualquer dúvida: o PM é um homem ordinário, sem a educação adequada ao cargo que ocupa. Para ser o líder político de um país, sobretudo de uma democracia, não basta ser eleito. É necessário ser exemplo. As divergências ideológicas e confronto político são naturais. A dureza e a a frieza que a luta pelo poder exigem são aceitáveis. Mas a ordinarice em público não pode ser desculpada. (...)
Também a mim me parece que aquela atitude não tem justificação, e que os argumentos utilizados - aquela coisa do "também sou humano" e o eterno dito popular, que vai servindo para tudo e mais alguma coisa, "quem não se sente não é filho de bom gente" - não são suficientes. Não interessa, para o caso, se era verdade ou mentira o que disse o velhinho, nem se ele era ex-autarca do CDS, ou quais as suas motivações, ou intenções.
Nada, mesmo nada, legitima aquela reacção excessiva e desproporcionada. E depois, quem tem nível e classe tem-nos em todas as circunstâncias da vida. A quem não os tem, facilmente "estala o verniz"... Foi o caso. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A tirania do Inglês


Que os Portugueses, que são um povo subserviente e parolamente embasbacado por tudo o que é do "estrangeiro", se deixem dominar por esta tendência avassaladora de imposição da língua inglesa nos mais diversos domínios não me espanta. Não se trata apenas da intromissão de palavras inglesas na linguagem corrente, ou nas legendas pirosas das fotografias do Instagram e do Facebook, mas de uma onda mais vasta, e até preocupante, que faz com que em muitas universidades portuguesas as aulas já sejam dadas apenas em inglês, e se tente alargar agora a "moda" ao ensino secundário, pelo menos em alguns colégios "armados ao pingarelho".
A mim dá-me vontade de rir tanta preocupação com o domínio de uma língua que não é a nossa, quando a maior parte dos seus falantes tem um conhecimento incipiente ou medíocre da sua língua materna, não sendo por isso capaz de estruturar o pensamento e/ou ter uma consistente visão do mundo. 
Mas o que foi para mim verdadeiramente chocante, foi constatar que até França, considerado um país absolutamente patriota no bom e no mau sentido, com um povo demasiado orgulhoso da sua língua e civilização, se deixou levar por este irritante hábito, que nem a globalização justifica. 
Hoje, ao contrário do que se passava ainda há poucos anos, em qualquer lugar francês mais turístico as pessoas dirigem-se-nos à partida em inglês; e só quando percebem que falamos francês mudam para a sua língua, quando deveria ser exactamente o oposto. 
Questionado sobre esta novidade absurda, um francês disse-me que em cada dez pessoas que os visitam, oito não falam francês. A justificação não me convence. Na verdade, seja por bazófia ou por apatia, até eles acabam por acomodar-se  ao caminho mais fácil. E dá-me verdadeiro asco esta espécie de generalização que torna tudo tão maçador e bem mais desinteressante, pois é a diversidade de cada língua e a mundividência que lhe está subjacente que melhor contribuem para o enriquecimento próprio e alheio, e justificam, no limite, o prazer de conhecer o que é diferente.
Neste aspecto como em muitos outros, tiro o meu chapéu aos espanhóis, que continuam a defender a sua língua e a sua cultura com unhas e dentes, sem querer saber do que fazem os outros, que é como devia ser sempre!

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Modas e manias



Contrariamente à maior parte das mulheres, não tenho a mania dos sapatos, embora reconheça que o que calçamos, como o que vestimos, diz muito de nós. Não sou, por isso, uma "coleccionadora", o que talvez se explique pelo facto de para mim os pés serem uma das partes mais feias do corpo. Prefiro, pois, as malas aos sapatos, embora tanto num caso como noutro prefira a qualidade à quantidade, pelo que abomino as imitações de boas marcas. É um dos exemplos em que considero que vale mais menos e melhor que muito, mas de má qualidade.
Também não consigo aderir de modo algum às últimas tendências de unhas, com relevos, cores e texturas de toda a espécie, mais pirosas ou mais extravagantes e avant-garde, matéria na qual Rosalía, a cantora espanhola da moda, é uma autêntica especialista. São pouco práticas, antes de mais, e não têm nada a ver comigo, nem com o meu estilo ou gosto. Mantenho-me, então, no que é mais clássico - nada de unhas quadradas ou em bico, nem com três metros, mas antes arredondadas, em tons neutros ou nos eternos brancos, vermelhos, bordeaux, pretos, - que é o que é sempre bonito, acho eu.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Pessoas Inteligentes


Paulo Portas é das pessoas mais brilhantes e cultas que conheço. E tem, além disso, sentido de humor e sensibilidade, que também são coisas que muito prezo.
Amado e odiado em doses quase iguais, como é próprio de quem se destaca num país pequenininho e medíocre a todos os níveis, é uma pessoa que admiro e de quem gosto muito. Ainda por cima é filho da minha querida Helena Sacadura Cabral, a quem me ligam laços de profunda amizade, e que é uma daquelas pessoas especiais que, quando chega à nossa vida parece ter estado nela desde sempre. Dir-se-ia, neste caso, que "quem sai aos seus..."
Hoje, o Paulo faz 57 anos e estão ambos de parabéns, assim como todos os que, como eu, gostam muito deles e que, por isso, fazem deste dia uma festa.
Ah, como eu gosto de pessoas inteligentes...

(Fotografia de Isabel Santiago Henriques, acho eu)

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Ases do Volante II


Não sei se ando agora mais atenta ao trânsito, ou se é o regresso de férias que dita as autênticas barbaridades a que tenho assistido nos últimos dias. Já não falo da velocidade a que se conduz na cidade, nem dos que passam sinais vermelhos descaradamente. (O típico numa passadeira de peões é que quando o sinal fica verde para estes, passam ainda uns seis a dez carros antes que se possa atravessar em relativa segurança). 
E como se isto não fosse já surpreendente, assisti nos últimos dias a uma coisa ainda mais extraordinária: um carro que seguia na faixa da esquerda fez uma ultrapassagem pela direita, atravessando-se sem problema na frente de um autocarro para mudar de direcção. E este fenómeno inacreditável - até para mim que não tenho carta de condução (ou se calhar por isso mesmo) - aconteceu na mesma semana pelo menos duas vezes, que eu tenha dado por isso.
Não admira, pois, que o número de acidentes não pare de aumentar sobretudo nos dois últimos anos. Em 2018, ao que parece, houve 132 mil acidentes, com um número de mortos e feridos também a crescer. 
Mas, com o que tenho visto, o que me admira é que não haja ainda mais. Enfim, há cada vez mais gente muito apressada, que considera o seu tempo  e a sua vida muito mais importantes e urgentes que os de todas as outras pessoas. Ou não fosse este o país dos "chicos espertos"...

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Mais do mesmo

Entre hoje e Sexta-feira começa oficialmente mais um ano lectivo em todas as escolas do país. Por estes dias, andam todos os professores que conheço (e são muitos) em infindáveis reuniões que, como quase sempre acontece, não servem para coisa nenhuma. É um mau presságio. Mas é sempre assim...
É certo que o novo ano tem que ser minimamente preparado, mas também é verdade que se perde muito tempo e energia com o que não faz sentido nem é necessário, apenas porque sim; porque é "o costume".
São estas pequenas (e grandes) coisas que fazem com que mesmo quem gosta muito da Escola, como eu, e fez dela toda a sua vida, tenha vontade de se afastar. E não deixa de ser sintomático que, no início de mais um ano, que devia ser cheio de esperança, ilusão e novidade, ninguém tenha verdadeiramente vontade de regressar. 
Por isso, mais do que tomar medidas parvas, mais do que insistir no que já se sabe que não serve para nada a não ser acumular cansaços e esgotar-se em conversas estéreis e em reuniões tão longas quanto improdutivas, melhor seria procurar fazer da Escola um espaço onde se privilegiasse aquilo que referiu Miguel Tamen, o Director da Faculdade de Letras de Lisboa, no seu discurso de boas-vindas: ter todo o tempo para ler, escrever, pensar, aprender. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Dolor y Gloria - uma doce e emocionante melancolia



Por um feliz acaso, tive ontem a oportunidade de assistir à antestreia do último filme de Pedro Almodóvar, em cartaz em Espanha desde Março e cuja exibição já tardava entre nós. E não sei se é por poder ser considerada suspeita (trata-se de um dos meus realizadores preferidos), ou por estar ainda sob o impacto que me causou, mas considero que este é um dos seus melhores filmes.
Dolor y Goria é o mais autobiográfico de todos, mistura de verdade e de ficção, ou como diz o próprio Pedro Almodávar: "Não é uma autobiografia, mas um filme cuja personagem principal poderia ser eu." Claro que é impossível não pensar nele enquanto acompanhamos Salvador Mallo, um realizador em crise, numa viagem no tempo através de fantasmas e vícios, brilhantemente interpretado por António Banderas. Mas ver nele o alter ego de Pedro  Almodóvar é reduzi-lo ao que menos importa. É um filme que partindo do imaginário integra elementos pessoais; ou o inverso. E não é isso o que sempre acontece com a escrita, ou até com a arte? "La película no hay que tomarla en todo el literal (...) No hay que buscar quién es quién" diz-nos, também.
É um filme sobre o tempo e as relações humanas, sobre solidão e amargura, mas também sobre o perdão, a reconciliação e a salvação de si mesmo, sem nunca cair em ajustes de contas, ou assumir um tom de queixa demasiado confessional ou melodramático. E apesar da melancolia que atravessa toda a narrativa, há a elegância formal e a riqueza emocional que o tornam mais inteligentemente tocante, as cores vivas que são imagem de marca, e magníficas cenas como por exemplo a do reencontro de Salvador e Federico, ou a conversa do filho com a sua mãe no final de vida desta.
Depois, há também Penélope Cruz e a sua magistral capacidade de encher o écran, e Asier Flores num convincente e arrebatador papel de Salvador na infância. E como se tudo isto fosse pouco, há ainda Rosalía numa breve aparição na cena inicial, a fazer sua, como só ela sabe, a canção de 1962 "A tu vera".
Dolor y Gloria tem o brilho de quem sabe fazer muito bem o que faz que têm todos os filmes de Almodóvar, e é um daqueles belíssimos filmes dos quais se sai de "alma cheia", que nos fascina e ao mesmo tempo põe em causa e a pensar no nosso próprio caminho, porque enquanto o vemos fazemos também essa viagem introspectiva pelo nosso passado e presente, pelas nossas mágoas e os nossos fantasmas, pelas nossas dores e as nossas glórias, com tudo o que há nelas de vulnerável e de grandioso.
Não admira, pois, que António Banderas tenha recebido o prémio de melhor actor no Festival de Cannes, ou que o filme tenha sido o escolhido para representar Espanha nos Óscares do próximo ano.
Obra-prima ou não, este é um filme inesquecível, que não se pode perder. 
O bom cinema é muito isto. É sobretudo isto...

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Classe


Não tem a nada a ver com classe social nem beleza e muito menos com dinheiro, com fama, ou com poder. Ter classe é inato, como os dons com que se nasce. É aquele toque indescritível que traduz elegância, bom gosto e saber estar, sem ostentação alguma, que não se aprende de todo e, simplesmente, se tem desde sempre e para sempre, ou não se tem. E, nesse caso, não há volta a dar...

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Uma rentrée diferente



Chega Setembro e é todos os anos mais ou menos igual. Para mim, como julgo que será para quase todos os que levam a vida inteira ligados à escola, é no início de Setembro e não de Janeiro que começa um novo ano.
Setembro é assim, em cada ano, uma mistura de sentimentos: a melancolia do fim das férias de Verão e o entusiasmo de poder voltar ao princípio, as expectativas e boas intenções  diante de um novo (re)começo, com tudo o que isso tem de novidade, de esperança e de promessa de melhorias várias. Sempre gostei dos tons e dos cheiros do Outono, de regressar à escola, dos livros e dos cadernos novos, tudo pronto para estrear.
Mas este será um início de ano diferente dos outros, porque desta vez não volto à escola, embora continue perto dela. E às vezes faz-me falta, outras vezes não me faz falta nenhuma; e vou aproveitando esta tranquilidade, que também tem papéis e canetas e computadores e fotocópias, mas não tem vozes, nem gritos, nem campainhas, nem correrias, nem grelhas, nem testes, nem exames, nem reuniões, nem stress.
Por isso, este ano, na passagem de Agosto para Setembro, não há aquela vertigem da abertura do ano, o nervoso miudinho do novo horário e do primeiro dia, e de tudo o que é prazer e ansiedade, temor e novidade, expectativa e ilusão. Agora é tudo muito mais calmo, e a não ser no trânsito outra vez mais caótico e no movimento das ruas e dos lugares, quase não se dá pela rentrée que, nesta minha "nova" vida, perde sentido e impacto.
Mas não me queixo... Faltam dois dias para começar mais um ano e, daqui a nada, vou de férias outra vez.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

De boas intenções...


Que me perdoem os intelectuais que consideram que qualquer filme de autor é quase obrigatoriamente uma obra-prima. Pois eu não gostei nada do último filme de  Quentin Tarantino, "Once  upon a time in Hollywood", que nem Brad Pitt, Leonardo Dicaprio e Al Pacino conseguem, na minha opinião, salvar, ou tornar sequer minimamente interessante. Na verdade, destes três actores, apenas do último gosto deveras. 
Situado no universo de Hollywood do final dos anos 60, centrado num actor fictício, Rick Dalton, antiga estrela de séries televisivas, sem futuro promissor, e na inabalável amizade com o seu duplo, Cliff Booth, toda a acção decorre em tom de desencanto com alguns toques de humor, mistura realidade e ficção, e reinterpreta o assassinato de Sharon Tate de uma forma de certo modo singular e mesmo algo desconcertante. 
Mas, ainda assim, e pese embora os elogios que já ouvi sobre ele, o filme pareceu-me demasiado longo - cento e cinquenta e nove penosos minutos -, demasiado violento e, no geral, monótono e pouco conseguido. Enfim, uma seca...
Longe vão os tempos de Pulp Fiction (e já passaram 25 anos); poderá, até, ter tido muito boas intenções na ideia original; poderá ser muito conhecedor dos meandros do cinema, mas, desta vez, Quentin Tarantino não me convence.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Síndrome de Estocolmo


Ethan Hawke tem um nome que eu não consigo pronunciar, mas está há muito na lista dos meus actores preferidos, como já disse aqui, daqueles que fazem qualquer filme valer a pena. 
É um pouco o que se passa com "Síndrome de Estocolmo", o filme de Robert Budreau, que relata, com alguns contornos ficcionais, decerto, a história que deu origem ao conceito: o assalto ao Kreditbanken de Estocolmo, em Agosto de 1973, no qual as vítimas mostraram particular empatia com os agressores durante os seis dias em que decorreu o sequestro e mesmo posteriormente. 
Esta identificação afectiva e emocional entre "agressor" e "agredido" é, neste caso, muito conseguida pela performance dos principais protagonistas - Ethan Hawke e Noomi Rapace - que é o que valoriza o filme que, além disso, não surpreende nem entusiasma excessivamente, para além de ter Bob Dylan como música de fundo, o que é sempre agradável. 
E, a  mim, deu-me também vontade de ir visitar Estocolmo, que ainda não conheço.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Lisboa em Agosto



Este ano pude enfim "fugir" às tradicionais férias em Agosto, usufruindo da paz de outras épocas em que tudo é mais calmo e um pouco mais despovoado; mas não deixa de ser estranho estar a trabalhar quando toda a gente está "a banhos", ou passeando por aqui e ali...
Houve uma época em que Lisboa ficava praticamente deserta neste mês, tudo parava ou abrandava o ritmo de forma drástica, e era quase como se a própria vida se suspendesse durante alguns dias. Agora já não é bem assim. Entre os turistas cada vez mais numerosos e os que optam por ficar em vez de partir, Lisboa não fica vazia como outrora, mas é uma cidade mais lenta do que no resto do ano, onde  tudo se faz sem pressa, numa inevitável preguiça que a torna mais tranquila e apetecível, com menos trânsito e menos movimento nas ruas.
No metro, somos agora poucos os que todas as manhãs nos dirigimos ao trabalho, quase sempre os mesmos, rostos simultaneamente estranhos e familiares, que não me canso de observar e a quem tento adivinhar as existências a partir das indumentárias e dos comportamentos, no curto espaço de quatro estações que separa os meus lugares de origem e de destino: há a senhora sem cabelo, originado sabe-se lá por que mal, a que tem uma pulseira de conchas no tornozelo, possível reminiscência de umas férias junto ao mar, o rapaz alto, muito arrumado e penteadinho, todos de nariz enfiado no écran do telemóvel, de auscultadores nos ouvidos, rindo sozinhos ou trocando mensagens, cada vez mais alheios ao que se passa à sua volta.
A Lisboa de Agosto é uma outra Lisboa, sem o alvoroço do costume, mais exclusiva e silenciosa, mas não menos encantadora, onde é possível, sobretudo ao fim de semana, ouvir o canto dos pássaros e os nossos passos na calçada quase sem ninguém.
A partir do dia 15, que já está próximo, Lisboa voltará a encher-se pouco a pouco de veraneantes recém-chegados, até retomar a agitação e vivacidade habituais, com a chegada de Setembro, do Outono e da rentrée.
Quem me conhece, sabe da minha inegável e assolapada paixão pelas cidades, do fascínio que têm sobre mim a singularidade e a magia de cada uma delas, os ruídos e os silêncios, a luz, as cores e os cheiros,  o amanhecer e o entardecer, aquela espécie de "alma" que as torna únicas. E Lisboa, então, amo-a mais que qualquer outra, por ser berço, colo e casa;  por sabê-la de cor e continuar a encantar-me e a seduzir-me sempre, como se tivesse acabado de a conhecer; por querê-la seja lá como for, até nos seus defeitos e imperfeições. Como as pessoas...

terça-feira, 6 de agosto de 2019

O que permanece


Não havia volta a dar. Aquele era um amor que tinha vindo para ficar, imune à passagem do tempo, às desavenças e às desilusões e que, pelo contrário, se ia afincando e tornando mais cúmplice e imprescindível com os anos, mesmo se diferente, amadurecido ou até desgastado aqui e ali pela rotina.
Já nem sabia quantos anos tinham passado. Só tinha a certeza que nunca nenhum outro amor, de antes ou de depois, a marcara de forma tão profunda, para lá dos limites da vida real, para lá de todas as palavras e de todos os silêncios, como uma condenação que era redenção, prazer e mágoa, desilusão e felicidade, desejo imoderado e incerto, proximidade e distância, princípio e fim.
Parecia até uma "ironia do destino": nunca acreditara no "para sempre"; bastava-lhe o aqui e o agora  de todas as vezes que, sem querer, se haviam ido somando, de todos os momentos de partilhas de todo o tipo, de risos e de segredos vividos a dois, que mais ninguém sabia ou poderia entender, e que incluíam o sabor amargo de todos  os dias e noites de saudade sem tamanho, de distâncias e esperas, de dor e de lágrimas silenciosas, de mágoas e de desalentos, que também tinham construido aquela história, tão simples e bonita e,  ao mesmo tempo, tão incompreensível e surpreendente.
Com ela aprendera que há muita coisa que não se percebe nem explica; e que há amores que, mesmo se mudam, permanecem resistentes às contrariedades de ser e estar, e são luz, felicidade, e o mundo inteiro.
Era uma história muito antiga, feita de desencontros e de felicidade, de caminhos sinuosos, de palavras duras e de gestos ternos, muitos dias e anos depois do arrepio do primeiro instante que o tempo fora confirmando e alterando devagar,  excepto nos momentos em que, esquecidos de tudo, se entregavam e se demoravam no prazer de estar juntos, de se conhecerem de cor e de saber que se tinham um ao outro nas grandes e pequenas coisas, e se enterneciam com o laço tão forte que se lhes tinha atado ao peito e os impedia de soltar-se ou de esquecer-se.
E enquanto pensava tudo isso, na sua cabeça ia-se repetindo, vezes sem fim, aquela canção que ouvira recentemente e de que gostava tanto:

Si me das a elegir entre tú y la riqueza
Con esa grandeza que lleva consigo
Ay, amor, me quedo contigo

Me enamora'o
Y te quiero y te quiero
Solo deseo estar a tu la'o
Soñar con tus ojos
besarte los labios
Sentirme en tus brazos
Que soy muy feliz


quarta-feira, 31 de julho de 2019

Aprendizagens


O tempo ensinara-lhe muita coisa: a aceitar o que a vida traz de bom, quase sempre diferente do que havia imaginado, mas não necessariamente pior; a ser mais paciente e tranquila; a importar-se menos com opiniões alheias, ou com fazer tudo o que é "normal" sem se questionar sobre o sentido que essa suposta normalidade tem para cada pessoa; a experimentar a generosidade e o despojamento de que só os grandes amores são capazes, vivendo cada minuto em total plenitude, como se fosse o primeiro e o último, sem querer saber como será depois; a alimentar afectos e cumplicidades, aconchegos e mimos dos que se tem a certeza de serem para sempre, sem ciúmes parvos nem absurdos sentimentos de posse; a esquecer rapidamente inevitáveis erros nos mais diversos domínios, incluindo os erros de "casting"; a conhecer-se melhor; a aceitar-se com todos os seus defeitos, qualidades, talentos e fragilidades, conquistas e fracassos, atrevimentos e limitações, medos e valentias; a querer sempre mais e melhor na consciência de que a perfeição não existe e de que são as vulnerabilidades que nos tornam mais humanos e enternecedores; a gostar muito de estar a sós consigo; a precisar de solidão tanto como de companhia; a saber orgulhar-se, contentar-se e agradecer tudo o que se vai conquistando aos poucos e, por isso, sabe melhor...
E ainda há quem ache que só a juventude importa, ou vale a pena.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

As fosquinhas do Verão



Por estes dias, não há quem não fale nas voltas do tempo e por todo o lado se ouvem os protestos sobre um Verão "atípico", ou que tarda em chegar. 
Pois para mim está óptimo assim. E parece-me uma felicidade ter escapado até agora às ondas de calor que têm atingido quase toda a Europa, com muitas cidades a bater recordes máximos de temperatura, enquanto nós nos vamos mantendo por valores amenos que oscilam entre vinte e trinta graus, o que para mim, que abomino os excessos estivais - suor, moscas, bichos, desleixos vários - é o ideal. E mesmo que de vez em quando venha uma chuvinha, qual é o problema? Refresca, é maravilhoso o cheiro da terra molhada e logo passa, como tão bem diz a sabedoria popular: "chuva de Verão, chove agora e logo não."
Enfim, as temperaturas um pouco mais moderadas do que o habitual não impedem a leveza e a despreocupação que sempre associamos a esta estação e que é o que ela tem de melhor: as noites quietas e as bebidas frescas, a vida em ritmo mais lento, as conversas soltas noite dentro ou os passeios junto ao mar, a brisa fresca do fim da tarde, o mundo muito mais azul, os amores passageiros e inconsequentes, tudo em lume brando, feito de moleza e de preguiças desmedidas, como um enorme parêntesis.
Não é verdade que o que é muito previsível se torna mais enfadonho? Queixemo-nos menos, pois, e aproveitemos o mês e meio que nos resta deste magnífico e incerto Verão.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Egos



Fico sempre na dúvida sobre se as pessoas que se acham o máximo acreditam realmente na imagem que querem fazer passar, ou apenas pretendem convencer disso os outros, procurando desta maneira, de forma consciente ou até nem isso, ocultar alguns complexos de inferioridade.
As redes sociais vieram de certo modo potenciar a "feira de vaidades" na qual todos são excessivamente lindos, sedutores, inteligentes, cultos e todo um rol de atributos positivos que no fundo não serão bem a realidade.
E já nem falo dos casos patológicos que, escondidos por trás do anonimato de um écran, vão destilando ódios e "maus fígados" a torto e a direito, e cultivando toda a espécie  de "ódios de estimação". Porque dessa gente quero é distância; e fujo a sete pés...Enfim, haja paciência!
Por mim, continuo a apreciar pessoas controversas e carregadas de defeitos, das quais gosto apesar das suas limitações e fragilidades, ou, se calhar, precisamente por causa de serem assim, incompletas e imperfeitas.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Ases do volante I


Deve haver uma explicação psicológica qualquer para o facto de não haver português que não se considere um exímio condutor e, por isso, se permita tudo e mais alguma coisa, achando sempre que "tem direito".
Há exemplos para tudo: os que guiam dentro da cidade como se fossem ganhar uma corrida, os que não respeitam as passadeiras dos peões (são sobretudo mulheres, hélas...), os que ignoram o facto de o sinal ter ficado vermelho e continuam como se nada fosse, ou os que não assinalam uma mudança de direcção. 
Os casos mais óbvios e enervantes, no entanto, têm a ver com o estacionamento em segunda fila e o uso absolutamente abusivo dos "quatro piscas". Sem querer saber de interromper o trânsito, ou de bloquear carros que poderão porventura ficar impedidos de se mover, esta gente permite-se tudo: pôr ou tirar meninos de escolas, ir ao café, ao banco, ou o que que quer que seja relacionado com "fazer a sua vida", considerando sempre que o seu tempo  e afazeres são mais importantes que os dos demais. E se alguém diz alguma coisa, ainda se justificam com o implacável "mas eu liguei os quatro piscas...", como se esse gesto bastasse para valer tudo.
Dois casos sintomáticos: na minha rua, que é de sentido único, passam autocarros. A rua nem sequer é muito estreita, mas todas as manhãs os autocarros demoram mais do que o normal a percorrê-la, pois há sempre gente em segunda fila, com os "quatro piscas" ligados, pois claro... Na Praça de Alvalade, onde trabalho actualmente, é rara a manhã em que não há uma chinfrineira de buzinas, porque alguém estacionou indevidamente, impedindo a saída de quem está nos lugares marcados para o efeito. E o que dizer sobre o que se passa na porta das escolas, onde se pára em segunda e mesmo em terceira fila para largar ou recolher meninos, ocupando a rua toda e tornando-a completamente intransitável?
Enfim, a explicação mais lógica para isto tem a ver com a nossa insensibilidade e desrespeito pelos outros, que parece ir crescendo mais e mais, e é bem a prova da mais grosseira falta de civismo.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Campeones: divertido e tocante



De Javier Fesser, o realizador, confesso que nunca tinha ouvido falar. Também Javier Gutiérrez, o actor principal, não me dizia muito, embora possa já o ter visto alguma vez. Mas é sobretudo o grupo de actores amadores que contribui para o sucesso deste filme, a sensação do ano em Espanha, ganhador do Goya de Melhor Filme em 2019, e também do melhor actor revelação (JesúsVidal) e da Melhor Canção Original, e ainda nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, entre várias outras nomeações e prémios atribuídos. Sobre ele já tinha assistido a inúmeras entrevistas e reportagens e tinha, por isso, muita curiosidade, o que explica que me tenha apressado a vê-lo mal estreou entre nós.
Não me desiludiu. Trata-se de uma comédia, que nos faz simultaneamente rir às gargalhadas e emocionar-nos, porque é feita de sensibilidade,  e porque trata o tema da aceitação da diferença com humor e comoção, sem paternalismos nem receitas, mas antes de forma respeitadora e envolvente. E apesar de um final previsível, não deixa de ser um filme de superação e de humildade perante o que estranhamos.
Enfim, numa altura em que me incomodam cada vez mais as apresentações de filmes a que assisto, cheias de barulho e de todo o tipo de violência, tiros, pancadaria e efeitos especiais, confirmo, uma vez mais, que o cinema que vale a pena ver é sobre os sentimentos e as relações com os outros; e que tal como um bom livro, um bom filme é aquele que é capaz de fazer de nós melhores pessoas.