quarta-feira, 26 de junho de 2019

Postal de férias (II)



É conhecida a minha aversão ao Algarve, que para mim é pouco mais que o melhor caminho em direcção a Espanha, e em particular a maneira mais rápida de chegar à minha querida Andaluzia. Não consigo entender que se paguem verdadeiros balúrdios para passar meia-dúzia de dias numa praia (e há tantas igualmente maravilhosas pelo país inteiro) e, sobretudo, em lugares apinhados, onde está "toda a gente" e as férias serão tudo menos o que elas pretendem significar.
Mas, este ano, porque consegui enfim fazer férias fora de época, numa altura em que a praia não tem ainda insuportáveis enchentes, lá contrariei os meus princípios e fui rumo ao Sul, até para poder falar com conhecimento de causa.
Enfim, foi bom, cumpriram-se os objectivos e gostei do que vi (e não conhecia ainda), mas não voltei encantada. E confirma-se o que já suspeitava: o Algarve não está, definitivamente, na minha lista de favoritos.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Para toda a vida


Há sentimentos imunes à passagem do tempo, pessoas que estão na nossa vida desde sempre e para sempre, amizades e amores que valem a vida inteira...


sexta-feira, 21 de junho de 2019

Postal de férias (I)



Este é um dos lugares da minha vida, daqueles onde preciso de voltar frequentemente, onde me encontro comigo e me sinto em paz.
Tive a sorte e a felicidade, este ano, de poder regressar a este lugar de magia e de encantamento, e de a Romería ter coincidido com o início das minhas férias. Foi, sem dúvida, um bom começo...

(Fotografias de Maria Cristina Guerra)

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Paz e Sossego



Quem como eu em silêncio tece
Bailados, jardins e harmonias?
Quem como eu se perde e se dispersa
Nas coisas e nos dias ?

                                     (Sophia de Mello Breyner)

quinta-feira, 13 de junho de 2019

"Nous finirons ensemble", ou a força da amizade



Nove anos depois de Les Petits Mouchoirs, estupidamente traduzido por "Pequenas Mentiras entre Amigos" Guillaume Canet decidiu reunir de novo o elenco que inclui alguns dos nomes maiores do cinema francês (François Cluzet, Marion Cotillard, Gilles Lelouche, Laurent Laffite, por exemplo) e no mesmo cenário de Cap Ferret, continuar a história. A iniciativa era arriscada. Porque o filme de 2010 foi um sucesso de bilheteira, com 5 milhões de espectadores em França e meses a fio em cartaz em Lisboa; e porque tendemos a olhar com uma certa desconfiança para qualquer sequela, considerando quase sempre que "a primeira obra era melhor".
E, no entanto, trata-se de um desafio mais que conseguido. Tal como no anterior, o filme trata sobretudo de amizade, com todas as suas ambiguidades, conflitos, alegrias e desilusões. As personagens, que na ficção estiveram distantes durante três anos, reencontram-se amadurecidos e modificados pela passagem do tempo, como acontece com todos nós. E rapidamente percebem como o essencial se mantém, e como a apoio e o afecto dos que nos são queridos nos são fundamentais. Assim, para lá de todos os amuos, remorsos ou lamentos, é no belíssimo título original que encontramos a verdade que este filme encerra, a mensagem que quer (e consegue) fazer passar: nous finirons ensemble, para lá de todas as imperfeições, egocentrismos, cobardias e pequenos defeitos que têm os que amamos. Essa é, de resto a beleza e a grandeza do amor.
É esta dimensão humana das personagens que faz com que elas nos toquem tanto. Estes amigos são também os nossos amigos; qualquer um de nós podia pertencer àquele grupo; e para quem viu o primeiro filme, há nove anos, é como se tivéssemos amadurecido todos juntos. E por isso este filme, que não é moralista nem "cor-de-rosa", mas antes pleno de humor e de emoção, como a vida, é tão bom como o primeiro (ou melhor ainda...). A ver, pois claro.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Voltar ao Rocío



Quando chega o Pentecostes é sempre assim: uma emoção que se repete e que nunca é a mesma, a não ser no desejo de voltar, de fazer parte de uma festa única, que se vive em exuberância e interioridade, explosão de cor e de alegria, reencontro de amigos, celebração da fé e da vida.
Os dias prévios vivem-se na excitação dos preparativos, na antecipação do que já se conhece - o som dos sinos e das sevilhanas, do chiar das carroças, da flauta e do tamboril, da salve, dos vivas e olés - e do que em cada ano é sempre novidade e surpresa.
Viver esta Romaria é ficar impregnado dela para sempre, e querer sempre voltar, na ânsia de novas sensações e de reviver aquela magia única que ninguém pode explicar. O Rocío são cheiros, sabores e odores que se nos colam à pele e passam a fazer parte da nossa vida para sempre, como aqueles amores que nunca mais se esquecem. É o pó dos caminhos e a frescura do rebujito, o trote dos cavalos e, acima de tudo, o que está para lá das palavras e eu não consigo expressar.
Hoje, quase vinte anos depois da minha primeira Romaria, em 2000, sinto e sei que a Virgen del Rocío me acompanha e me protege, assim como a todos aqueles por quem lhe rezo.
Poder voltar ao Rocío é sempre uma alegria indizível e imensa, porque é naquele lugar que parece encantado, em silêncio diante da Virgem ou no alvoroço festivo das ruas, que eu me fortaleço por dentro.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Escapada(s)



Sinto, ciclicamente, necessidade de fazer pausas no quotidiano e afastar-me das todas as rotinas, partir para longe, ou mais ou menos perto, mas respirar outros ares, deixar que as horas passem vagarosas, poder ver e sentir tudo melhor, preencher o tempo como eu quiser, conhecer novas cidades ou voltar aos lugares que eu amo e sem os quais não posso passar, renovar-me, serenar. 
São, em geral, viagens de curta duração, em que três ou quatro dias me bastam para me deixar fascinar pela lenta descoberta de lugares e de pessoas, num encanto que cresce devagar e aos poucos se torna apego, reconforta o corpo e a alma, devolve a paz.
Este ano posso enfim fazer coincidir a maior parte do meu período de férias com o mês, para mim, ideal. Além de ser o mês de Lisboa, Junho é luz e ar fresco, promessa de Verão por vir, brisa de fim da tarde e a lânguida quietude de deixar os olhos e o pensamento à solta, a vaguear sem objectivo nem poiso certo, em deliciosa preguiça.
Gosto da companhia e da solidão, de cuidar de mim, de me demorar no banho e de me estender preguiçosamente ao sol ou no sofá, de ler ou de não pensar em nada, de dormir e de não ter horas nem obrigações, de me esquecer de tudo o que me limita ou condiciona. E sei que preciso muito de estar às vezes a sós comigo para depois me saber ainda melhor o tempo que dedico aos outros, que são todos os outros e, sobretudo, aqueles a quem eu quero bem.
Preciso de perder-me a sonhar, de caminhar sem rumo, de me maravilhar diante da beleza, de poder dar atenção a pequenos detalhes que me fascinam e de poder sentir que o mundo é um lugar magnífico e a vida é uma extraordinária dádiva de amor. E acreditar que tudo é grande e bom, que não há impossíveis, e que, na lógica do perpétuo movimento, o que há-de vir será sempre ainda melhor.
Só faltam dois dias para as (minhas) férias grandes...

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Sibila


São os espíritos superficiais que mais crêem nos êxitos retumbantes, nas fórmulas fáceis para vencer, pois isso lhes lisonjeia a incapacidade e a fraqueza de vontade. Os lances engenhosos, em que se torce a moral para obter um mais rápido efeito, conseguem grande público. Mas a vida, cujas leis são infinitamente mais sóbrias, mais puras que as dos homens, não as aceita.