segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Magia Pura


Este é o momento de que se fala, que marcou a cerimónia dos Óscares da última madrugada, e que é bem revelador do que fica para além das palavras, num lugar mágico em que há apenas emoção, sentimento e sintonia perfeitas. Lady Gaga a provar uma vez mais a sua genialidade e o seu carisma. Prémio mais do que merecido, mas, acima de tudo, um momento muito bonito e inspirador... Afinal, o que há de mais belo que o amor?


terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Todos Sabem - um filme a ver


Um filme com Penélope Cruz, com Javier Bardem, ou com Ricardo Darín, é para mim uma aposta segura, quer actuem separadamente ou todos juntos, como é aqui o caso. E, por isso, não podia deixar de ver Todos lo saben.
Do realizador iraniano AsgharFarhadi não me lembro de ter ouvido falar, mas já conhecia a canção Una de esas noches sin final, nomeada para os Goya 2019, cuja cerimónia acompanhei na íntegra e em directo.
O filme, que começa com uma festa de casamento numa qualquer aldeia espanhola, depressa muda de rumo com a constatação de um desaparecimento, que trará ao presente velhas feridas do passado. Trata-se pois de um drama, com elementos de suspense, mas que acima de tudo põe a nu os segredos e mentiras de cada uma e de todas as personagens, fazendo com que a determinada altura todas possam parecer sob suspeita. É neste clima tenso e cheio de mistério(s) que se desenrola toda a narrativa, e que mais do que resolver a trama procura mostrar o lado mais obscuro, incompreensível e comovente da alma humana.
Mas são as soberbas interpretações dos três actores principais que realmente nos prendem e nos tocam, com especial destaque para Penélope Cruz, magnífica a exprimir a angústia, a incerteza e o pânico. A não perder, enquanto aguardamos o último Almodovar.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O Dia da Piroseira Total



E aí está de novo o "Dia dos Namorados", a data mais parola de todas as que são comemoráveis, com dia marcado no calendário e "obrigações" inerentes.
Parece que a origem das celebrações vem do tempo de Roma antiga, e em particular da história de um bispo chamado Valentim, o qual contrariou as ordens do Imperador Cláudio II, que proibira os casamentos durante as guerras por acreditar que os solteiros eram melhores combatentes, facto que lhe valeu a condenação à morte, o que ocorreu no dia 14 de Fevereiro. Porém, ainda antes desse dia, apaixonou-se pela filha cega de um dos seus carcereiros, tendo-lhe devolvido a visão milagrosamente, pela força do seu amor, e despedido dela, antes de ser executado, num bilhete onde assinava "teu Valentim". Resta saber qual a veracidade deste relato, que tem tudo para parecer mais lenda que outra coisa.
A ideia de trocar mensagens e presentes simbólicos surge mais tarde, nos Estados Unidos, quando em 1840, Esther Howland conseguiu juntar uma avultada quantia na comercialização de cartões comemorativos do dia 14 de Fevereiro e, desde então, o costume alargou-se ao resto do mundo, em particular a partir da segunda metade do século XX.
Para mim, tudo isto é um enorme absurdo, sem sentido que não seja, de facto, o que está na origem da tradição: um apelo ao consumo desenfreado, sem porquê, e que a maior parte das pessoas faz apenas "porque sim". Um pouco como o Natal, mas em versão "azeiteiro".
O amor é, digo eu, do foro íntimo. E por muito que às vezes apeteça gritá-lo aos quatro ventos, rege-se por datas exclusivas e comemorações a dois, vividos no secretismo do que só nós é que sabemos. Que sentido têm pois os coraçõezinhos todos iguais, os peluches, as flores e os bombons estereotipados, as noites "especiais" e os menus afrodisíacos oferecidos por todos os hotéis e restaurantes em dia e hora marcados, tudo excessivamente formatado, sem surpresa nem vontade, como mais uma obrigação a cumprir, ou apenas para ostentar um felicidade fingida?
Este dia é, para mim, exactamente o avesso do que o amor deve ser. E, talvez por isso, me dá tamanho asco. Porque o amor nunca pode ter dia, nem hora... E, por isso, querer comemorar este dia de forma "especial", ou tratar alguém por "amor", ou pior ainda "mor", é para mim motivo mais que suficiente para "fugir a sete pés"...
Razão tinha Miguel Esteves Cardoso que, a propósito do amor, dizia isto, já há muitos anos:

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. (...) Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor. (...) O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental"(...) Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. (...)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Génios da música


Salvador Sobral é, para mim, um artista maior, um músico inquieto e até alvoroçado, cheio de talento e de bom gosto, capaz de inovar e de (nos) surpreender em cada actuação. Já o vi pelo menos cinco vezes ao vivo, em diferentes registos; e não só nunca desilude, como sempre surpreende.
Vem tudo isto a propósito do concerto a que assisti no último fim de semana, um espectáculo singular do grupo Alma Nuestra, que inclui Salvador Sobral, Victor Zamora, Nelson Cascais e André Sousa Machado, que nos apresentou alguns clássicos cubanos adornados por arranjos em tons de jazz, acompanhados pela orquestra La Remolacha, o que significou 20 músicos em palco e ainda dois bailarinos, que também ajudaram à "festa".
Trata-se, indiscutivelmente,  de um caso excepcional: Seja como Salvador Sobral, Alexander Search ou Alma Nuestra, o que nos toca não é apenas a magnífica voz que possui e a excepcionalidade das suas interpretações,  mas também a sua transformação em palco, que faz com que de repente se agigante diante dos nossos olhos; e a perfeita noção de que um espectáculo inclui muito mais que um simples e belo desempenho, e que é isso que faz a magia do momento, que torna único e especial cada encontro do músico com o público a que é capaz de emocionar e comover, até chegar àquele lugar onde já não há palavras.
Salvador Sobral é amado e odiado em proporções quase iguais, como de resto só costuma acontecer com quem é demasiado grande. Os seus detractores deveriam, no entanto, assistir à entrega de corpo e alma que dá a cada concerto um aura de luz e de magia, de ternura e de aconchego, que se instala no mais fundo de nós, que nos deixa plenos de satisfação, de felicidade, e de vontade de mais.
E é, de facto, essa diferença e a extraordinária capacidade da música de nos levar ao mais profundo dos nossos sonhos, acrescentando alguma coisa à nossa vida, que é a essência da arte, e de que só os grandes artistas são capazes.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Mistério(s)


Eu adoro dormir! E preciso de dormir imenso, isto é, preciso de, pelo menos, oito horas de sono para me sentir bem, o que nem sempre acontece, infelizmente, porque também não consigo nunca deitar-me cedo. Se pudesse não me levantaria antes das nove e meia ou dez, porque gosto de despertar devagar, de me deixar ficar um bocadinho na preguiça do meio-sono, acordando e voltando a adormecer até me decidir por fim a sair da cama com a sensação de já ter dormido tudo.
Em geral, lembro-me dos sonhos. Não os que se sonham acordado, mais próximos do devaneio, que nos permitem inventar lugares que não existem, antecipar vontades e cumprir as mais loucas fantasias, sem os limites que nos impõe a realidade, mas aqueles que não controlamos de forma consciente e que são quase sempre absurdos e, às vezes, até, incompreensíveis.
Quando eu era pequena, tinha medo do escuro e acordava muitas vezes durante a noite em estado de aflição, embora não consiga lembrar-me se isso corresponderia aos chamados "sonhos maus".
Hoje, continuo a não ser fã da escuridão, mas sei lidar com ela de outro modo; e é raro, felizmente, acordar sobressaltada pelo que estou a sonhar no momento. Tenho poucos, muito poucos, pesadelos, assim como é raro ter uma insónia. Não há preocupações, nem tristezas, ou desgostos, que sejam capazes de me tirar o sono; e sinto-me afortunada por isso...
Mas há nos sonhos um mistério que me parece indecifrável: por que motivo lembramos alguns sonhos e outros não? E por que, de entre os que lembramos ao acordar, há os que logo esquecemos e os que guardamos na memória, que nos marcam e perturbam, e relembramos repetidamente, quer sejam bons ou maus?
Não sei se a questão está estudada cientificamente. Para mim, porém, continua a ser do domínio daquelas nossas zonas secretas e inacessíveis de nós, que encerram muitos mistérios por desvendar.