Nos transportes públicos, nas ruas, nas escolas, nos restaurantes, nos espectáculos e um pouco por todo o lado é a isto que se assiste cada vez mais: as pessoas vão perdendo a capacidade de olhar à sua volta, de se relacionar para além das suas redes, das suas mensagens, dos seus auscultadores, sempre de cabeça baixa e alheadas de tudo o que as rodeia, sempre ausentes, numa "realidade virtual" que é pouco mais que um reflexo dos seus próprios umbigos.
Nas escolas, por exemplo, que é um universo que conheço muito bem, mesmo os alunos que conseguem durante o tempo da aula estar "longe" dos telemóveis, agarram-nos mal toca para o intervalo e nem querem sair das salas, ou, se são obrigados a fazê-lo, sentam-se no chão dos corredores para não ir mais longe e ali ficam virados para dentro, entre vídeos, jogos e mensagens, interagindo muito pouco entre si.
Eu, que apesar das redes e da invasão tecnológica a que é impossível escapar, continuo a gostar muito de observar as pessoas e os ambientes, perguntava-me hoje de manhã no metro, vendo noventa por cento dos passageiros de narizes enfiados em cima dos écrans e de phones nos ouvidos, que mundo é este em que, subtilmente, e a pretexto da evolução e da modernidade, seguimos caminhos que nos conduzem ao individualismo, ao isolamento e à solidão.