segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Bicharada e fundamentalismos


Quem me conhece sabe que para além de ter uma inexplicável fobia a cães (não são todas as fobias inexplicáveis?) não sou particularmente dada à bicharada. Ou seja, não maltrato os animais nem lhes desejo mal algum, mas gosto de guardar uma certa distância, que significa: eles na vida deles e eu na minha.
Apesar disto, ou talvez por isto, não consigo entender que se trate os animais como se fossem pessoas, que se durma com eles na cama e quase  se coma do mesmo prato, que eles vão com os seus donos aos restaurantes, que andem nos transportes públicos, e todas as particularidades a que se vai assistindo de uma forma cada vez mais exagerada e até descabida que, para mim, é uma verdadeira aberração.
Acho que a maior parte destes donos revela um total desrespeito pelo que é a natureza animal e, ao contrário do que apregoa, age numa perspectiva profundamente egoísta. Ter um animal fechado num apartamento, por exemplo, parece-me que serve muito mais os donos do que o próprio bichinho, que tanto defendem.
Enfim, cada um que faça o  que entender, desde que respeite quem pensa e /ou vive de outra maneira, e que se preocupe em que o seu "amor pelos animais" não incomode os outros, o que, infelizmente, é raro acontecer.
Nisto, dou razão a um amigo meu, que dizia com muita graça que tinha feito este acordo com a sua cadela: "Ela não entra em minha casa; eu não entro na casota dela".  E é assim que sempre deveria ser.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Pelo mundo fora





Há uns anos, já não me lembro bem quantos, durante um mês ou dois, tive que substituir uma colega que tinha sido operada de urgência, e calhou-me em sorte uma turma de francês, da qual fazia parte a Marta Durán. Tinha, já na altura, o olhar vivo, o sorriso rasgado e um espírito positivo cheio de uma energia boa, contagiante.
Quando passei pela sua sala de aula, teria uns catorze ou quinze anos. Entretanto cresceu, licenciou-se em Ciências da Comunicação, fez voluntariado e essa experiência mudou-lhe a vida. Hoje, com vinte e quatro anos, em vez de optar pelo caminho mais comum, a Marta decidiu partir à descoberta do mundo, sozinha, com todos os riscos e perigos que isso implica, afrontando o medo, sempre com a enorme energia e boa disposição que a caracterizam. 
Deu aulas de Português no Nepal, trabalhou para a Unicef na Guiné, andou já por meio mundo, com um orçamento muito reduzido que consegue a guiar TukTuk em Lisboa. Viaja quase sempre à boleia e fazendo couchsurfing, ou acampando, e assim vai somando experiências, aventuras e conhecimento.
Eu, que não sou nada aventureira, tenho uma profunda admiração pela coragem e a audácia desta miúda, pela sua capacidade de acreditar nos outros, e de viver de forma tão destemida.
Acho que jamais seria capaz de fazer o que ela faz, mas tenho "viajado" muito com ela, porque vai contando todas as peripécias das suas viagens, a par e passo, no Instagram.
A última, que está agora a decorrer, é ir até à Guiné-Bissau em bicicleta. Ontem estava na Mauritânia, preparando-se para uma viagem de comboio de quinze horas; e dizia isto: "Não podemos deixar que o medo nos consuma. O medo é um impulsionador de cumprir sonhos."
Acho magnífica esta forma de viver a vida. Sobre a Marta, o nosso primeiro pensamento pode ser "grande maluca", mas rapidamente nos rendemos ao descobrir uma pessoa maravilhosa, de bem com  a vida, humilde e generosa, irradiante de luz e felicidade.
Para mim, é uma inspiração; e tem-me ensinado imensas coisas sobre o arrojo e a força do querer.
Vale muito a pena segui-la, ou, pelo menos, ir espreitar.


https://www.facebook.com/imguineabissau/videos/275970190002018/

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Outono deslumbrante



Partir. Ir e voltar. Procurar em novos lugares de que revigorar a alma e ganhar forças, vontades e ideias novas para enfrentar o quotidiano, sempre tão repetitivo e acelerado. Deixar-se levar pelos sentidos, pelo esplendoroso colorido quente e dourado de árvores e jardins, o cinzento do céu, os cheiros próprios da época. Respirar outros ares, ver outras gentes, outras vidas, conhecer novas cidades, renovar-se, sossegar. Viver mais lentamente. Soltar o olhar e poder observar tudo com o detalhe de quem se pode dar ao luxo de ir devagar. Caminhar sem destino certo. Maravilhar-se diante da beleza do mundo. Dar valor ao que se tem. E perder-se a sonhar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Menina do Mar



MAR

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.

                                                                        (Sophia de Mello Breyner)

Foi através deste livro de capa cor do mar que a conheci. Com ela aprendi a beleza, a poesia, a força das palavras, o amor do mar e da vida. 
Sophia nasceu há cem anos. Mas, em nós e no mundo, viverá para sempre. 

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Um dia de chuva em Nova Iorque


Nunca perco um filme de Woody Allen, um dos meus realizadores preferidos, polémicas à parte, que nesta como noutras questões não há que confundir a obra com a vida do autor. Goste-se  mais ou menos da sua filmografia, parece-me um autor fundamental para quem gosta de cinema. Mesmo se, como acontece até com os maiores, tem uma obra desigual. É por isso natural gostar-se de uns filmes mais do que de outros, embora considere que, ainda assim, vale sempre a pena vê-los.
Os filmes de Woody Allen são sempre divertidas e inteligentes histórias, muito bem contadas, que têm, em geral, o jazz como pano de fundo, belas imagens e uma mistura bem doseada de humor, neurose e melancolia.
Há um pouco de tudo isso em A rainy day in New York, cidade fétiche deste realizador, e o seu mais recente título. E, no entanto, apesar dos interessantes diálogos, dos hilariantes encontros e desencontros, do hino à cidade que o filme também é, como muitos outros com a sua assinatura, este soube-me a pouco e deixou-me com a sensação de "déjà vu".
Assim, ao contrário de outras opiniões que já fui lendo, este não é, para mim, um filme a não perder; é apenas mais um típico filme de Woody Allen, ao qual falta o fulgor e a criatividade que têm alguns dos seus mais brilhantes títulos. É um bom filme? Sim. Mas não nos empolga, nem marca, nem deslumbra.