quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Modas e manias



Contrariamente à maior parte das mulheres, não tenho a mania dos sapatos, embora reconheça que o que calçamos, como o que vestimos, diz muito de nós. Não sou, por isso, uma "coleccionadora", o que talvez se explique pelo facto de para mim os pés serem uma das partes mais feias do corpo. Prefiro, pois, as malas aos sapatos, embora tanto num caso como noutro prefira a qualidade à quantidade, pelo que abomino as imitações de boas marcas. É um dos exemplos em que considero que vale mais menos e melhor que muito, mas de má qualidade.
Também não consigo aderir de modo algum às últimas tendências de unhas, com relevos, cores e texturas de toda a espécie, mais pirosas ou mais extravagantes e avant-garde, matéria na qual Rosalía, a cantora espanhola da moda, é uma autêntica especialista. São pouco práticas, antes de mais, e não têm nada a ver comigo, nem com o meu estilo ou gosto. Mantenho-me, então, no que é mais clássico - nada de unhas quadradas ou em bico, nem com três metros, mas antes arredondadas, em tons neutros ou nos eternos brancos, vermelhos, bordeaux, pretos, - que é o que é sempre bonito, acho eu.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Pessoas Inteligentes


Paulo Portas é das pessoas mais brilhantes e cultas que conheço. E tem, além disso, sentido de humor e sensibilidade, que também são coisas que muito prezo.
Amado e odiado em doses quase iguais, como é próprio de quem se destaca num país pequenininho e medíocre a todos os níveis, é uma pessoa que admiro e de quem gosto muito. Ainda por cima é filho da minha querida Helena Sacadura Cabral, a quem me ligam laços de profunda amizade, e que é uma daquelas pessoas especiais que, quando chega à nossa vida parece ter estado nela desde sempre. Dir-se-ia, neste caso, que "quem sai aos seus..."
Hoje, o Paulo faz 57 anos e estão ambos de parabéns, assim como todos os que, como eu, gostam muito deles e que, por isso, fazem deste dia uma festa.
Ah, como eu gosto de pessoas inteligentes...

(Fotografia de Isabel Santiago Henriques, acho eu)

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Ases do Volante II


Não sei se ando agora mais atenta ao trânsito, ou se é o regresso de férias que dita as autênticas barbaridades a que tenho assistido nos últimos dias. Já não falo da velocidade a que se conduz na cidade, nem dos que passam sinais vermelhos descaradamente. (O típico numa passadeira de peões é que quando o sinal fica verde para estes, passam ainda uns seis a dez carros antes que se possa atravessar em relativa segurança). 
E como se isto não fosse já surpreendente, assisti nos últimos dias a uma coisa ainda mais extraordinária: um carro que seguia na faixa da esquerda fez uma ultrapassagem pela direita, atravessando-se sem problema na frente de um autocarro para mudar de direcção. E este fenómeno inacreditável - até para mim que não tenho carta de condução (ou se calhar por isso mesmo) - aconteceu na mesma semana pelo menos duas vezes, que eu tenha dado por isso.
Não admira, pois, que o número de acidentes não pare de aumentar sobretudo nos dois últimos anos. Em 2018, ao que parece, houve 132 mil acidentes, com um número de mortos e feridos também a crescer. 
Mas, com o que tenho visto, o que me admira é que não haja ainda mais. Enfim, há cada vez mais gente muito apressada, que considera o seu tempo  e a sua vida muito mais importantes e urgentes que os de todas as outras pessoas. Ou não fosse este o país dos "chicos espertos"...

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Mais do mesmo

Entre hoje e Sexta-feira começa oficialmente mais um ano lectivo em todas as escolas do país. Por estes dias, andam todos os professores que conheço (e são muitos) em infindáveis reuniões que, como quase sempre acontece, não servem para coisa nenhuma. É um mau presságio. Mas é sempre assim...
É certo que o novo ano tem que ser minimamente preparado, mas também é verdade que se perde muito tempo e energia com o que não faz sentido nem é necessário, apenas porque sim; porque é "o costume".
São estas pequenas (e grandes) coisas que fazem com que mesmo quem gosta muito da Escola, como eu, e fez dela toda a sua vida, tenha vontade de se afastar. E não deixa de ser sintomático que, no início de mais um ano, que devia ser cheio de esperança, ilusão e novidade, ninguém tenha verdadeiramente vontade de regressar. 
Por isso, mais do que tomar medidas parvas, mais do que insistir no que já se sabe que não serve para nada a não ser acumular cansaços e esgotar-se em conversas estéreis e em reuniões tão longas quanto improdutivas, melhor seria procurar fazer da Escola um espaço onde se privilegiasse aquilo que referiu Miguel Tamen, o Director da Faculdade de Letras de Lisboa, no seu discurso de boas-vindas: ter todo o tempo para ler, escrever, pensar, aprender. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Dolor y Gloria - uma doce e emocionante melancolia



Por um feliz acaso, tive ontem a oportunidade de assistir à antestreia do último filme de Pedro Almodóvar, em cartaz em Espanha desde Março e cuja exibição já tardava entre nós. E não sei se é por poder ser considerada suspeita (trata-se de um dos meus realizadores preferidos), ou por estar ainda sob o impacto que me causou, mas considero que este é um dos seus melhores filmes.
Dolor y Goria é o mais autobiográfico de todos, mistura de verdade e de ficção, ou como diz o próprio Pedro Almodávar: "Não é uma autobiografia, mas um filme cuja personagem principal poderia ser eu." Claro que é impossível não pensar nele enquanto acompanhamos Salvador Mallo, um realizador em crise, numa viagem no tempo através de fantasmas e vícios, brilhantemente interpretado por António Banderas. Mas ver nele o alter ego de Pedro  Almodóvar é reduzi-lo ao que menos importa. É um filme que partindo do imaginário integra elementos pessoais; ou o inverso. E não é isso o que sempre acontece com a escrita, ou até com a arte? "La película no hay que tomarla en todo el literal (...) No hay que buscar quién es quién" diz-nos, também.
É um filme sobre o tempo e as relações humanas, sobre solidão e amargura, mas também sobre o perdão, a reconciliação e a salvação de si mesmo, sem nunca cair em ajustes de contas, ou assumir um tom de queixa demasiado confessional ou melodramático. E apesar da melancolia que atravessa toda a narrativa, há a elegância formal e a riqueza emocional que o tornam mais inteligentemente tocante, as cores vivas que são imagem de marca, e magníficas cenas como por exemplo a do reencontro de Salvador e Federico, ou a conversa do filho com a sua mãe no final de vida desta.
Depois, há também Penélope Cruz e a sua magistral capacidade de encher o écran, e Asier Flores num convincente e arrebatador papel de Salvador na infância. E como se tudo isto fosse pouco, há ainda Rosalía numa breve aparição na cena inicial, a fazer sua, como só ela sabe, a canção de 1962 "A tu vera".
Dolor y Gloria tem o brilho de quem sabe fazer muito bem o que faz que têm todos os filmes de Almodóvar, e é um daqueles belíssimos filmes dos quais se sai de "alma cheia", que nos fascina e ao mesmo tempo põe em causa e a pensar no nosso próprio caminho, porque enquanto o vemos fazemos também essa viagem introspectiva pelo nosso passado e presente, pelas nossas mágoas e os nossos fantasmas, pelas nossas dores e as nossas glórias, com tudo o que há nelas de vulnerável e de grandioso.
Não admira, pois, que António Banderas tenha recebido o prémio de melhor actor no Festival de Cannes, ou que o filme tenha sido o escolhido para representar Espanha nos Óscares do próximo ano.
Obra-prima ou não, este é um filme inesquecível, que não se pode perder. 
O bom cinema é muito isto. É sobretudo isto...

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Classe


Não tem a nada a ver com classe social nem beleza e muito menos com dinheiro, com fama, ou com poder. Ter classe é inato, como os dons com que se nasce. É aquele toque indescritível que traduz elegância, bom gosto e saber estar, sem ostentação alguma, que não se aprende de todo e, simplesmente, se tem desde sempre e para sempre, ou não se tem. E, nesse caso, não há volta a dar...