sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
No último dia do ano
segunda-feira, 13 de dezembro de 2021
"Madres paralelas": o talento de um contador de histórias
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
O verdadeiro artista
quarta-feira, 3 de novembro de 2021
Um interminável e acalmante silêncio
É sempre em silêncio e em solidão que se "curam" os desgostos, que se saram as feridas, que se vai gerindo a dor, deixando que ela se agudize ou se atenue, consoante os dias, os momentos, as circunstâncias de todo o tipo.
E mesmo quem, como eu, não tem o culto dos mortos no sentido mais tradicional, quem não se revê em visitas a cemitérios, missas "em memória de", ou gestos similares, e acha que é nas recordações que nos enchem o pensamento e o coração que melhor vivem os que já não temos fisicamente connosco, pode em instantes fugazes encontrar nesse silêncio infinito uma apaziguante serenidade.
Que complexo é afinal o processo de luto, até quando ele se vive em aparente tranquilidade. A mim sempre me impressionaram todos os rituais associados ao fim da vida, sempre me incomodaram os cemitérios, lugares tristes e um pouco sinistros, metáforas maiores da efemeridade e da finitude. Não é, definitivamente, nestes espaços que me sinto mais próxima de quem já não está, porque sempre achei que é em vida que se dão todos os mimos possíveis e que a melhor homenagem que se pode fazer é lembrar com ternura e emoção todas as histórias e risos, abraços e olhares, palavras e gestos que nos chegam do fundo da memória, através de um cheiro ou de um objecto, de um lugar, de uma palavra, de uma ideia, de uma canção.
Mas se um dia, de repente, contrariando tudo aquilo em que acreditamos, nos apetece sem qualquer razão concreta ir a um desses lugares, então há que ir, mesmo que seja só porque sim, deixar-se envolver pelo silêncio e apenas estar. É que quando a saudade aperta, por mais que nos congratulemos com o tempo que tivemos para estar juntos, todas as hipóteses são legítimas para os continuar a sentir perto de nós e com isso sermos, também, mais fortes e mais capazes de "seguir caminho".
(...) Sentados nele descansamos, escapamos por momentos do frenesim confuso, abrimo-nos ao silêncio e à contemplação ou simplesmente espreguiçamo-nos ao sol, de olhos fechados, a sentir o odor de um tempo reencontrado. Visto de um banco de jardim, o mundo parece ganhar uma fisionomia diferente. Abraçamos margens esquecidas da vida, escutamos zonas periféricas, mas necessárias, olhamos o colorido de outras vozes. E percebemos que a alegria se aproxima de nós como uma folha trazida pelo vento.
(José Tolentino de Mendonça, O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas)
sexta-feira, 29 de outubro de 2021
Regresso à "normalidade"
Retomar o trabalho presencial ao fim de um ano não deixa de ser uma estranha sensação, em muito semelhante à do primeiro dia de aulas. É de novo o toque do despertador quando ainda está escuro lá fora e o Outono já vai fazendo notar a sua presença, são os transportes ainda não muito cheios, é um sem fim de rotinas e de gestos recuperados depois de uma longa interrupção.
Quase tudo "normal", ou talvez nem por isso. Para mim, que sou uma grande defensora do teletrabalho, este sistema que mistura os dois mundos, é a maneira suave de voltar à vida de antes, e dá-me a possibilidade de ir aproveitando o que há de bom nas duas maneiras de funcionar.
Com Outubro a chegar ao fim e a mudança para a hora de Inverno de amanhã, chegam novos tempos de roupas mais quentes, dias mais sombrios e vontade de aconchego. Tudo no seu sítio, claramente.
quarta-feira, 29 de setembro de 2021
O poder da música
terça-feira, 14 de setembro de 2021
Virar a página e seguir
segunda-feira, 9 de agosto de 2021
O inconcebível mundo das traduções
quarta-feira, 4 de agosto de 2021
(Re)centrar-se
terça-feira, 6 de julho de 2021
Uma cidade ao pé do mar
sábado, 26 de junho de 2021
Uma Rainha (republicação)
segunda-feira, 17 de maio de 2021
De volta ao cinema
sexta-feira, 7 de maio de 2021
9 anos
domingo, 2 de maio de 2021
Amor maior
segunda-feira, 26 de abril de 2021
Férias férias férias
quarta-feira, 14 de abril de 2021
Tempo(s) de contenção
Vivemos, hoje, um tempo em que olhamos desconfiados uns para os outros. Tememos a proximidade, mesmo quando a desejamos mais que tudo, e hesitamos entre ceder à vontade do toque ou refrear vontades, guardando-as para tempos mais propícios e isentos de medos e limitações; reduzimos anseios ao mais imediato, sem saber o que esperar do que vem já a seguir; moderamos os gestos e os movimentos, na prudência e na sensatez de quem tem que aprender a viver de outra maneira, por força das circunstâncias. E assim vamos deixando passar os dias, esperando poder enfim voltar ao que era dantes, como quem acorda e descobre que afinal foi só um pesadelo, desejosos de retomar a vida no ponto em que a deixámos quando eramos felizes sem o saber, quando os afectos se viviam sem apreensão, na sua espontânea irracionalidade, em todas as vezes que sentimos que é no toque da pele que melhor nos entendemos, que compreendemos que é nos instantes em que os corpos se encontram e os sentidos se confundem que tudo faz verdadeiramente sentido, e é emoção pura, sem precisar de palavras...
Vivemos agora na incerteza, na ansiedade e no desânimo, mas não podemos deixar que eles nos vençam. Há, ainda, no coração indomado e inquieto, a intuição e o desejo secreto de que o que quer que venha a ser o que virá será bom, marcado, como sempre, pelo afecto e a cumplicidade, que se destapa a espaços na emergência do corpo que se deixa levar pelo amor, no despropósito do que às vezes se faz presença real e proximidade total, sem querer saber de depois, para logo voltar à realidade, e se ocultar, e reprimir, agora sim, agora não, num turbilhão das sensações imoderadas e sensatas de querer prender e soltar, de ser tudo e não ser nada, simultaneamente.
Ensinam-nos tudo sobre o corpo e a cabeça, mas não sabemos nada sobre a emoção, o sentimento e o desejo. Não apenas o desejo concupiscente, que é ao que ele é por norma reduzido, mas o desejo lato sensu, que é muito mais vasto que isso, que domina a nossa vida de maneira diversa e muito, muito, abrangente. E, ainda assim, apesar das todas as dificuldades que nos limitam e condicionam, há que saber quem nos importa e o que nos faz falta, readaptarmo-nos, e aproveitar o que a vida tem de bom, assumir vontades, não se escusar nunca ao prazer, nem ao que nos faz mesmo felizes.
quarta-feira, 31 de março de 2021
Abatimento e inquietação
Era uma angústia que lhe apertava o coração, era a vontade de se virar para dentro em silêncio e solidão e, ao mesmo tempo, impedir que aquele desconsolo se estendesse em tempo e espaço; era a indecisão entre desatar as lágrimas e não precisar sequer de chegar a elas, uma consumição sem razão aparente, que tornava certos dias mais baços e difíceis de levar.
E, apesar dos pesos na consciência, do remorso e das voltas que desse à cabeça pensando que, não havendo na verdade motivo para se sentir assim, podia isso ser considerado desfaçatez ou ingratidão, havia que permitir-se, também, de vez em quando, viver um desgosto sem porquê, porque a vida não é só risos, felicidade e alegria, vai antes alternando entre luz e sombra, claro e escuro, dia e noite.
sábado, 20 de março de 2021
Enfim, a Primavera
Quando chega a Primavera, muda tudo: a minha disposição, desde logo, a cor e o cheiro dos dias, sempre a crescer em mais horas de sol, a vontade de andar na rua com roupas mais leves e coloridas, de passear pelo mundo inteiro, a temperatura que fica mais amena e agradável, o regresso da alegria e da felicidade.
Nesta altura, lembro-me sempre daquela maravilhosa descrição da chegada da Primavera vestida de luz, de cores e de alegria, olorosa de perfumes sutis, desabrochando as flores e vestindo as árvores de roupagens verdes" na história de Jorge Amado "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá": quando a Primavera entrou pelo parque adentro, num espalhafato de cores, de aromas, de melodias. Cores alegres, aromas de entontecer, sonoras melodias. O Gato Malhado dormia quando a Primavera irrompeu, repentina e poderosa. Mas sua presença era tão insistente e forte que ele despertou do seu sono sem sonhos, abriu os olhos pardos e estirou os braços.
É mais ou menos isto que eu sinto que a Primavera me faz. É uma espécie de renascer, como se tudo começasse de novo outra vez. A partir de hoje, são três meses bons, de possibilidades infinitas, em que melhora a disposição e tudo se anima e brilha mais, e cresce a vontade de fazer imensas coisas, na luz do sol sem excessos, na claridade dos dias cheios de cores e perfumes fortes, de sorrisos radiosos e de momentos perfeitos de puro prazer. Por mim, podia ser Primavera o ano inteiro.
domingo, 14 de março de 2021
Voltar às minhas cidades
domingo, 7 de março de 2021
Primeira(s) vez(es)
segunda-feira, 1 de março de 2021
O bom tempo, a Primavera e tudo
terça-feira, 16 de fevereiro de 2021
Dia de Carnaval
domingo, 7 de fevereiro de 2021
Capitão Von Trapp
Para a minha geração, para muitas outras, decerto, Cristopher Plummer, será para sempre o Capitão Von Trapp. Pode ter, ao que parece, ganhado um Óscar, já tardio, ter tido uma carreira cheia de prémios e sucessos, mas a personagem do filme de Robert Wise, de 1965, colou-se-lhe à pele como uma tatuagem, perseguiu-o a vida toda e será por ela que sempre será lembrado.
Goste-se ou não, para quem tem mais ou menos a minha idade, o filme The sound of music ("Música no Coração", em português) marcou a nossa infância e até um pouco para além dela, nem que fosse porque passava repetidas vezes na televisão, especialmente na tarde do dia de Natal. Lembro-me muito bem de o ter visto pela primeira vez, teria uns cinco ou seis anos, no cinema Tivoli, e de essa ser uma das minhas mais antigas memórias cinematográficas.
Como esquecer, pois, aquele capitão austríaco, tão austero, que se revela depois sensível e apaixonado pelo poder transformador do amor e da música. Como esquecer Julie Andrews e o seu grito The ills are alive with the sound of music, objecto de inúmeras piadas e tantas private jokes que nos acompanham desde sempre. Como esquecer as canções daquele filme mítico que faz parte das nossas vidas?
Cristopher Plumer morreu esta semana. Mas o Capitão Von Trapp permanecerá inesquecível para mim, para nós, e seguirá no nosso imaginário, a cantar de forma doce, quase pueril, Edelweiss:
domingo, 31 de janeiro de 2021
Para lá do imediato
E se lhe parecia às vezes que tudo era só inquietação e desamparo, se prevalecia a nostalgia, a tristeza e o desencanto incerto dos dias e horas por viver, se muitas saudades lhe doíam no peito, não podia deixar de pensar no privilégio de uma vida ainda assim segura e tranquila, quando tantos sofriam e se afligiam muito mais e por tantas razões de peso; e logo procurava mil afazeres e ocupações na esperança de ignorar ou esquecer as perguntas e preocupações que lhe atravessavam a alma durante as horas tão imensamente vagarosas daqueles dias.
(Fotografia de Luísa Correia, do Blogue "À Esquina da Tecla")
domingo, 24 de janeiro de 2021
Entrincheirados
sábado, 16 de janeiro de 2021
Abstenção?
quarta-feira, 6 de janeiro de 2021
Fim das Festas
Tenho pena que em Portugal não se celebre o Dia de Reis como acontece em Espanha e em França, por exemplo, e que este dia, que é afinal o que assinala o fim das festas seja, entre nós, um dia como outro qualquer.
Em Espanha, a ideia de fazer coincidir a troca de presentes com o Dia de Reis confere a este dia uma magia e encantamento que, para mim, se aproxima muito mais do que se celebra nestas festas. E mesmo se, por causa da pandemia, não há este ano a "Cabalgata de Reyes", a que costumo sempre assistir pela televisão, este é um dia que permite viver a emoção de regressar ao mundo de ilusão da infância e de, por momentos, voltar a acreditar num mundo melhor.
A comemoração do Dia de Reis, de tradição cristã, baseia-se numa passagem do evangelho de S. Mateus, (capítulo 2, versículos 1 a 12), a qual terá dado origem à criação da lenda dos três reis magos e, impôs, posteriormente, o costume dos presentes no Natal. Pouco importa a veracidade da história, tantas vezes posta em causa, por não haver, em Mateus, nenhuma informação que permita concluir sobre a realeza das personagens; e o mesmo quanto ao seu número e aos nomes de Belchior, Gaspar e Baltazar, com que nos habituámos a designá-los, desde aquele longínquo momento da infância em que a ouvimos contar pela primeira vez.
De acordo com a tradição católica, 6 de Janeiro é o dia da Epifania, uma das celebrações litúrgicas mais antigas, que se refere à revelação do Menino Jesus ao mundo pagão, representado pelos Reis Magos. E há qualquer coisa de verdadeiramente poético na ideia daquela viagem solitária e demorada, em camelo, através do deserto, apenas guiados por uma estrela, que os iluminava e lhes indicava o caminho.
Amanhã, já se sabe, é dia de arrumar os presépios e todas as decorações natalícias e de deixar o ano retomar o seu curso habitual, esperando que os dias que aí vêm decorram sem sobressaltos e sejam bons de verdade.