quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Deliciosamente terno


Um filme que se chama no original Le Temps des Secrets e cujo título título em português se transforma  em "O Meu Verão na Provença" já faz prever uma tradução desastrosa. De facto, para quem, como eu, ouve o original, mas vai passando os olhos nas legendas depara-se com pérolas destas: gibier aparece traduzido como "jogos", quando na realidade deveria ser "caça", que não tem nada a ver e nem no contexto faria sentido, pois tratava-se de montar armadilhas para caçar pássaros. Ou a expressão sauve-toi!, traduzida por "salva-te!", quando na verdade deveria ser "pira-te!" ou "desaparece"! Uma anedota total, pois, e todo um espectáculo de ignorância e de incompetência, que me parece totalmente inadmissível.
O filme, realizado por Christophe Barretier (o mesmo de Les Choristes, 2004) é a adaptação da obra homónima de Marcel Pagnol, terceiro volume das suas recordações de infância e adolescência, situado em termos de espaço e tempo no ambiente campestre das férias de Verão na Provence, nos anos 1905-1906. Trata-se de um retrato doce e melancólico, delicioso e divertido, que nos leva também até às nossas memórias mais remotas, tudo embrulhado de ingenuidade, ternura, cuidado e emoção, que nos faz sentir implicados na narrativa simples e despreocupada  e sonhar diante de magníficas paisagens luminosas e soalheiras e das casas com portadas cor d'azur, tão típicas da Provence.
Não é um filme imperdível, mas mesmo sendo um pouco suspeita, porque França me apaixona e gosto muito de cinema francês, acho que vale a pena vê-lo (ignorando as legendas, naturalmente...)

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

A voz

Impossível deixar passar esta data. Mesmo se o entusiasmo bloguístico esmoreceu muito nos últimos tempos; mesmo se já escrevi inúmeros textos,  - mais de dez -, sobre o assunto, e em particular sobre este dia "histórico" de 4 de agosto.

Mas há coisas que não podem explicar-se.  Por isso não encontro as palavras certas para dizer o efeito que esta voz tem em mim desde que, há muitos anos, a ouvi pela primeira vez. E na vida só encontrei, bem mais recentemente, outra voz capaz de me enamorar, de me embalar e de me emocionar tanto, companhia  de todos os dias, sejam eles mais felizes ou mais sombrios, como uma luz  capaz de chegar ao mais fundo de mim, de aproximar pessoas e de unir corações, de curar desgostos e de sarar feridas, dizendo daquela maneira doce que só a magia da música conhece, o que não conseguimos expressar de nenhum modo.

Nas suas redes sociais Luís Represas veio hoje relembrar-nos a efeméride: "Faz hoje 46 anos que a Música tomou conta de mim. 16 anos de Trovante e mais 30 a Solo. E o caminho continua." Pois para mim é um pouco menos. Não são 46, mas também são muitos: são 39 anos ao longo quais esta voz me acompanha e me seduz, me fascina e arrebata. Imoderadamente. 

Que continue a ser assim por muito tempo. E que bom é haver artistas e vozes que trazem leveza e harmonia aos nossos dias e que nos fazem sentir mais felizes.

Parabéns Luís Represas

(Fotografia de Manuela Santos Silva)