sexta-feira, 24 de maio de 2019

O meu candidato


Tenho com o CDS uma relação como tenho com as pessoas de quem gosto. Há coisas com as quais eu não concordo, ou que me desiludem, mas no essencial é mais o que nos une que o que nos separa e por isso nos mantemos juntos.
Nunca fui uma incondicional, não sou de seguidismos, nem fundamentalista em nenhuma matéria, e vivo a política sempre um pouco "à minha maneira", como faço com a religião, os amores, e quase tudo na vida.
Um partido, qualquer partido, tem, como é natural, coisas boas e más, pessoas excepcionais e outras verdadeiramente execráveis. Ainda assim, é com o CDS que me identifico, porque é onde encontro valores e ideias que também são as minhas.
Toda a gente sabe como eu admiro Paulo Portas, e como gostaria que houvesse mais políticos como ele, com inteligência, capacidade de comunicação e de trabalho, garra e vontade. Quando ele deixou o CDS, eu tinha dois nomes que me pareciam óbvios para substituir a sua marca fortíssima: Adolfo Mesquita Nunes e Nuno Melo. Embora de estilos muito diferentes, são ambos detentores de grande capacidade política e comunicativa, combatividade, determinação, saber estar e saber fazer, com muitas provas dadas.
Nuno Melo preferiu continuar na Europa, o que também me parece justo e adequado. E, por isso, volta a ser, uma vez mais, o MEU candidato, aquele em que eu votarei no próximo Domingo, com prazer e com honra, porque estou certa que defenderá Portugal na União Europeia, porque não tem qualquer problema em reconhecer ser de direita, porque tem conhecimentos e experiência acumulada que lhe permitem continuar um trabalho já iniciado sabendo que rumo tomar, e porque tem sentido político e de estado mais que suficientes para pôr Portugal à frente de interesses pessoais ou partidários.
Na opinião pública e na comunicação social há, desde sempre, o hábito de tentar minimizar o CDS, de ignorar as vitórias e de lhe apontar a dedo as derrotas ou as mínimas falhas, ignorando a importância do seu contributo para a democracia e a pluralidade.
No entanto, a persistência e os exemplos de entrega e de perseverança a que assisto mais ou menos quotidianamente por parte dos que, sem ser figura de cartaz possibilitam campanhas como esta que agora acaba, são para mim de certo modo comovedores e fazem-me acreditar que vale a pena lutar por aquilo em que se acredita, dando o melhor de si pelo bem de todos, com firmeza e convicção.
É por isso que eu continuo a achar que o CDS faz falta a Portugal e o Nuno Melo faz falta para representar-nos na Europa. E que, seja qual for o resultado, há motivos para manter a cabeça erguida e continuar com a mesma paixão.
Vamos lá apoiar Nuno Melo!...

(Fotografia de Isabel Santiago Henriques)


(Já agora, vale a pena ler o artigo de hoje, no DN, que diz isto, por exemplo: 
(...) sem sinais de desgaste, chega entusiasmado, a distribuir bons dias e abraços pela dezena de simpatizantes que o aguarda, com um ar de quem está nas suas sete quintas. E está.
Ou isto:
O eurodeputado, pela terceira vez consecutiva cabeça de lista do CDS às eleições europeias, reforça sem hesitar que o anterior presidente do partido é a sua "grande referência política em Portugal". Manifestamente. Reconheço-lhe uma inteligência invulgar, uma capacidade social muito rara, uma grande eficácia na junção de diferenças de que os partidos são feitos, e o CDS é feito de muitas diferenças. Digamos que ele foi sempre o denominador comum", justifica Nuno Melo. (...) Foi a pessoa com quem eu fiz a maior parte do trajecto político, a pessoa que me deu as maiores oportunidades; e eu sou, além de combativo, uma pessoa leal", acrescenta. 
(...)
Em todos os diferentes cenários, o candidato do CDS distribui simpatia, sorrisos, um olhar nos olhos e uma palavra interessada aos interlocutores. O "feroz combatente"político transforma-se, em acções de campanha, numa espécie de sedutor natural. Nuno Melo consegue gerar empatia nas ruas. "Eu gosto de estar com as pessoas. Para mim não é penoso estar numa feira ou num mercado. Faço porque gosto. Gosto de estar com pessoas. É um exercício natural."(...)).

terça-feira, 14 de maio de 2019

Escrever não é para todos



Tenho particular aversão pela quantidade crescente  de gente que "escreve", muitas vezes sem saber construir uma frase com sujeito, predicado e complementos. Já o disse muitas vezes. Pode-se aprender a escrever, mas nem todos saberão fazê-lo bem, pois esse é privilégio de quem já nasce com o dom, como acontece com todas as outras artes. E está para lá de toda a técnica e da prática, por maior que ela seja. (É por isso que abomino os chamados "cursos de escrita criativa", que pressupõem sempre uma espécie de receita). O equívoco reside no facto de a escrita (a literatura) usar como matéria-prima a palavra, que tem também valor utilitário, comunicacional.
Escrever bem não é pois alinhar palavras mais ou menos obtusas e criar um sentido que muitas vezes não é sentido nenhum. Escrever pressupõe sempre ler. Ler muito - antes, durante e depois. E se há livros e textos que nos tocam de maneira especial, é porque quem os escreve consegue aquele suplemento de alma que faz a diferença, um fulguração, uma conjugação feliz de sonoridade e ritmo, que produz um sentido e um encanto capazes de emocionar-nos.
A propósito deste assunto, li hoje um excelente texto de Pedro Correia no "Delito de Opinião", que diz muito do que eu penso. Isto, por exemplo:
Saber escrever, saber captar a atenção de quem nos lê - eis o desafio supremo, ao alcance de poucos. Aprendamos com os mestres da palavra a trabalhá-la. Como se fosse terra fértil lavrada por um camponês, como se fosse pedra esculpida por um escultor, como se fosse filigrana nas mãos de um ourives. 
Escrever é muito mais que alinhar palavras. Como durante anos ensinei aos meus estagiários em jornalismo, para escrever bem nada melhor do que ler muito. Enquanto leitores, aprendamos com quem sabe. Com Camus, que nos introduz no reino mágico da ficção - "a mentira através da qual se diz a verdade". Com Simenon, que em apenas três palavras nos transmite  uma das melhores lições: "Escrever é cortar."
É apelar à sensibilidade  e ao intelecto. Em simultâneo, o que não está ao alcance de qualquer um. Como Agustina bem demonstra na obra que nos foi legando. "Há qualquer coisa de premonitório neste romance. Pelos costumes das pessoas, pelos sentimentos, pelas relações entre parentes e familiares, percebe-se que já muita coisa mudou ou está em mudança antes mesmo de a revolução acontecer", observa António Barreto no prefácio à novíssima reedição d'As Pessoas Felizes.
Há muitas coisas belas na terra. E algumas experiências sem substituição possível, como o prazer único que só a leitura nos proporciona. Ao rasgar-nos horizontes e ao elevar-nos vários palmos acima do chão.

terça-feira, 7 de maio de 2019

7 anos, 0 meses e 0 dias


Faz hoje exactamente 7 anos que, numa segunda-feira, em Maio de 2012, dia mais ou menos tristonho e chuvoso, como este,  decidi experimentar ter um blogue. O meu primeiro texto era sobre a poesia e a chuva. Chamava-se "Chove em Lisboa"; e dizia assim:

Da janela do meu 8º andar na Praça de Alvalade, olho a chuva lá fora, num tempo que devia ser de sol, e lembro-me de um poema de José Gomes Ferreira:

"Chove...
Mas isso que importa!
Se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu

(...)
Chove
Mas é do destino
De quem ama
Ouvir um violino
Até na lama"

O que seria de nós sem os nossos poetas?

Sete  anos depois, estou de novo na Praça de Alvalade, desta vez no 1º andar, deixando o olhar e o pensamento vaguear entre o computador que tenho à  minha frente e a vida lá de fora, que frequentemente me distrai e alicia. E, no entanto, nada é igual ao que era nessa altura, porque em sete anos muda muita coisa, no mundo e em mim, como é natural.
Escrever sempre foi uma paixão, momento de dor de prazer e de libertação, de encontro comigo e com as palavras, que me acompanha a existência desde que, há muito tempo, aprendi a ler e a escrever. Escrever é não saber para saber.  Mas (...) o que se encontra é ainda a procura, diz Vergílio Ferreira, o meu autor português preferido.
Tenho levado a vida a escrever, embora de forma irregular, sem nenhuma obrigação e apenas pelo gosto de arrumar as ideias e de (me) pensar. O blogue trouxe-me um mundo novo que me era até então totalmente desconhecido e, com o tempo, fui-me afeiçoando a ele, sentindo-o como uma parte de mim, lugar de interioridade e de partilhas, mas também de abertura  e de exposição, com todos os riscos que isso comporta. Ainda assim, sete anos depois, continuo por aqui, mesmo se o entusiasmo inicial esmoreceu um pouco, e se o tempo e as voltas que a vida dá nem sempre me permitem dedicar-lhe tanta atenção como gostaria. O que dizer então do "meu mais novo", criado quase quatro anos depois, com uma vertente mais dirigida à língua portuguesa que eu tanto prezo, mas que ainda só tem 23 textos, um número bem diferente dos 1200 do seu "irmão mais velho"...
Enfim, com tudo o que de bom e mau me trouxe esta experiência, continua a ser positivo o balanço que faço deste tempo em que a data coincide com o número de anos (sete anos no dia sete, que é também o meu dia)  - esta magia numérica tem de ser assinalada - e por isso, enquanto me apetecer, com maior ou menor presença, vou estando por cá...
 E, porque foi com e por causa dos poetas que tudo começou:

Levam as frases sentido 
que uma cadência lhes dá
É justo, injusto - o escolhido?
Como quereis que, vivido,
ele não seja o que será?

                                          (Jorge de Sena)

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar se esquece.
Chove. Nada apetece...

                                           (Fernando Pessoa)

Ou se tem chuva e não se tem sol
Ou se tem sol e não se tem chuva!
(...)
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

                                        (Cecília Meireles)

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Old friends





Às vezes acontece-nos serem tão fortes as emoções, tão marcante o que vivemos, que não encontramos palavras para o dizer. E precisamos deixar passar um dia ou dois para arrumar os sentimentos e os transformar em ideias. Isto mesmo, sobre a falta de palavras, disse Luís Represas, na terça-feira, no concerto em que comemorava os seus 43 anos de carreira, a propósito do que sente cada vez que pisa o palco do Coliseu. Também para mim esta é a melhor sala de espectáculos de Lisboa, a que me traz as mais inesquecíveis recordações, pelo que nela já vivi, mas também pelo seu carácter aconchegante, talvez decorrente da estrutura circular, que faz com que a magia do que nela se passa se receba como um abraço. Ah, que falta (me) faz o Pedro Rolo Duarte, com quem partilhava tantos gostos musicais, e que tinha a rara sensibilidade de encontrar sempre a maneira certa de dizer o que eu também sentia... Mas, sei que, mesmo de outra maneira, também ele esteve esta noite no Coliseu.
Quem me conhece bem, sabe como eu gosto do Luís Represas de uma forma toda especial; e como a sua música é sem dúvida a banda sonora da minha vida, como a acompanho e me acompanha desde aquele magnífico concerto do Trovante em Maio de 1983 na Aula Magna (há 36 anos, meu Deus!), e depois, todos os que se lhe seguiram (e foram tantos, a vida toda...). Por isso, hoje, um concerto do Luís é para mim como um jantar de amigos, daqueles que sentimos como "casa", por força do ambiente descontraído de conversas e de risos à solta, falando sobre tudo de  olhos nos olhos e, acima de tudo, saboreando o prazer de estar juntos e de sentir como são bons e apertados os laços que nos unem...
Acho que nunca saberei agradecer devidamente ao Luís Represas por tanta emoção, por ter embalado os meus sonhos com a sua música, por ter contribuído (talvez sem o saber) para tornar a minha vida mais bonita; e por ser um motivo (entre muitos outros) para eu me sentir privilegiada; e ainda mais feliz.
Por tudo isto, mais do que um "velho" amigo, o Luís é para mim um "compagnon de route", uma pessoa que faz parte da minha vida, por quem tenho admiração, afecto e apreço, em doses desmedidas.
Hoje, com uns inacreditáveis 43 anos de carreira,  o Luís tem "muchas tablas", como diriam os espanhóis. E, no entanto, consegue manter o rumo e a coerência e simultaneamente ir inovando, como só os grandes artistas são capazes. Não se acomodou com o tempo, mas antes fez do caminho percorrido uma viagem bonita, à qual ainda haverá muito que acrescentar; e consegue fazer de cada concerto um momento único, tocante e inesquecível, daqueles que queremos guardar para sempre na memória e no coração. Consegue, com a sua voz excepcional, chegar-nos ao fundo da alma e emocionar-nos até à comoção. E fazer o tempo parar, como só acontece nos momentos em que o amor e a entrega se sobrepõem a tudo.
O que se passou na terça-feira no Coliseu está muito para além das palavras, e apenas se pode viver pelo lado de dentro, em transbordante sentimentalidade. Quem não esteve lá, por mais vídeos e fotografias que possa ver entretanto, não faz ideia do que perdeu; e nunca poderá chegar perto daquela imensa  cumplicidade, que só quem viveu pode conhecer, que se nos cola à pele, e e se leva vida fora, e enche o coração de bem-estar, harmonia, encantamento e felicidade.
Dizer "obrigada" ou dizer "parabéns" será, neste caso, poucochinho. Socorro-me então das palavras do próprio Luís, que diz numa das sua mais belas canções: "Encontrar quem és/ caminhar de pé/ É tocar a estrela mais alta do céu..."; e ainda parafraseando-o, eu diria que oxalá "a vida continue a tomar bem conta de ti..."

(Fotografias e vídeo de Manuela Santos Silva)