terça-feira, 14 de setembro de 2021

Virar a página e seguir

 

Foram três meses de dias atarefados e intensos, cheios de emoções e de papéis, de assuntos a tratar e de sentimentos  por gerir,  na surpresa absurda do que fica para lá do fim e na certeza de que o tempo não pára e que a vida segue sempre o seu caminho, inexoravelmente.
E, no entanto, não houve um só dia em que uma imagem, uma palavra, um pensamento ou uma canção não me levassem de volta ao tempo de estarmos juntas, às nossas conversas e risos, a tantas cumplicidades tão nossas. Nem houve nenhum passo ou decisão que tenha tomado sem pensar primeiro no que diria, ou na forma de a fazer sentir-se orgulhosa de mim.
Mas, como diz uma amiga minha "não tenho vocação para o martírio"; e, por isso, talvez, valorizo mais o que vivemos juntas, a alegria de nos podermos ter tido durante tantos anos, que guardo comigo para sempre, do que a inevitável saudade, ou a dor da perda. 
Há, naturalmente, risos, e olhos, e colos que não se esquecem, e é essa a glória  da imortalidade: o que dos nossos sonhos e anseios, de tudo o que fomos e quisemos, perdura nos outros, para além de nós. E há, também, a tranquilidade de saber que fiz sempre tudo o que esteve ao meu alcance, multiplicando cuidados e carinhos para que se sentisse aconchegada, amparada e feliz, sobretudo nos últimos anos e nos momentos de maior fragilidade, em que lhe segurei a mão e lhe devolvi em amor e mimos grande parte do que me deu, a vida toda.
Há quem diga que se sai sempre melhor de uma dor, ou de um desgosto. Pode, talvez, ser verdade. Depois do silêncio, de um tempo em que parece que todas as palavras fogem ou deixam de fazer grande sentido, começa o tempo da aceitação.  Porque aceitar que a morte faz parte da vida é, provavelmente, a mais difícil e dolorosa aprendizagem com que vamos sendo confrontados. 
Dos que partem ficam as recordações, as ideias, as acções, os ensinamentos e tudo o que de bom e mau fomos vivendo ao longo do tempo, fica a marca fortíssima e indelével que deixam em nós. É com ela que vivo. E julgo  que essa será a mais bonita e singela forma de a continuar a ter pertinho de mim, no pensamento e no coração. É bom saber que, entre nós, pode o amor modificar-se, mas será sempre, sempre, infinito. E ir aprendendo a viver com esta nova realidade, que não é melhor nem pior; é só diferente.

4 comentários:

  1. É um amor eterno, sem dúvida.
    Um abraço, Isabel.

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    1. É sim e só agora o sei realmente. Muito obrigada, Luísa. Outro para si.

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  2. Partilha maravilhosa. Texto cheio de emoção, no qual me revi.
    O meu lema é estar presente em VIDA para recordar mais tarde serenamente os belos momentos vividos, sem a mágoa de não ter feito mais.
    Muito obrigada, acredite que absorvi com prazer cada uma das palavras do seu texto.

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