sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

No último dia do ano


Quem me conhece já sabe que não sou dada às festividades obrigatórias (com excepção do meu dia de anos) e que, por isso, não ligo nenhuma a este último dia do ano e às comemorações mais ou menos ruidosas que lhe estão associadas.
Tempo de balanços e de bons propósitos para os dias vindouros, a verdade é que é apenas mais um novo dia a juntar a tantos outros que, todos juntos, vão fazendo a nossa vida.
2021 não deixa muitas saudades. Marcado pela continuação da pandemia em termos globais, foi, ainda assim, um ano de mudanças e de desafios, como sempre, de dolorosas e irreparáveis perdas, de regressos e de conhecimento, de reencontros e de despedidas, de laços consolidados, de amores e amizades da vida inteira, de vacinas e de teletrabalho, de lazer e de viagens (foram nove, apesar das máscaras e dos constrangimentos) e de tantas preocupações e alegrias, emoções, sentimentos e momentos, coisas pequenas e grandes, que me marcaram e modificaram.
Não vivo este último dia do ano em euforia, guardo as alegrias e os festejos para momentos de celebração só meus, mas não posso deixar de fazer como toda a gente e de desejar o melhor (saúde, felicidade, paz e amor) para o novo ano, que começa já amanhã. Que seja bom para todos!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

"Madres paralelas": o talento de um contador de histórias

Sou suspeita: Almodóvar é um dos meus realizadores favoritos e não perco nunca os seus filmes, embora, naturalmente, não goste de todos de igual modo. Não podia, pois, deixar de ver "Madres paralelas", a sua mais recente obra, que valeu a Penélope Cruz um merecidíssimo reconhecimento de "Melhor Actriz" no último Festival de Veneza.
Como quase sempre, as mulheres estão no centro da narrativa, com as consagradas Penélope Cruz e Rossy de Palma, presenças expectáveis e até obrigatórias, muito bem acompanhadas por Milena Smit nos papéis de Janis, Elena e Ana, respectivamente, a representar a maturidade nos dois primeiros casos e a geração millenial, no último.
"Madres Paralelas" é um drama sentimental e histórico, pleno de peripécias dramáticas e de perturbadoras coincidências, mas também da estética fortemente colorida a que nos habituou Almodóvar, que concilia o universo feminino atual nas suas angústias, fortalezas, medos e vulnerabilidades, com os fantasmas do passado franquista e as feridas da Guerra Civil ainda por sarar. E fá-lo com o brilhantismo de que só os grandes contadores de histórias são capazes, tornando-o um filme simultaneamente doce e amargo, simples e complexo, intenso e perturbador, que nos fascina e emociona, como sempre acontece com as obras de arte, sem nunca cair na lamechice pateta, ou no melodrama excessivo. 
Não será o Almodóvar de que eu mais gostei, mas é sempre uma aposta segura e um filme a sugerir vivamente. Recomenda-se muito, pois claro!