Um filme que se chama no original Le Temps des Secrets e cujo título título em português se transforma em "O Meu Verão na Provença" já faz prever uma tradução desastrosa. De facto, para quem, como eu, ouve o original, mas vai passando os olhos nas legendas depara-se com pérolas destas: gibier aparece traduzido como "jogos", quando na realidade deveria ser "caça", que não tem nada a ver e nem no contexto faria sentido, pois tratava-se de montar armadilhas para caçar pássaros. Ou a expressão sauve-toi!, traduzida por "salva-te!", quando na verdade deveria ser "pira-te!" ou "desaparece"! Uma anedota total, pois, e todo um espectáculo de ignorância e de incompetência, que me parece totalmente inadmissível.
O filme, realizado por Christophe Barretier (o mesmo de Les Choristes, 2004) é a adaptação da obra homónima de Marcel Pagnol, terceiro volume das suas recordações de infância e adolescência, situado em termos de espaço e tempo no ambiente campestre das férias de Verão na Provence, nos anos 1905-1906. Trata-se de um retrato doce e melancólico, delicioso e divertido, que nos leva também até às nossas memórias mais remotas, tudo embrulhado de ingenuidade, ternura, cuidado e emoção, que nos faz sentir implicados na narrativa simples e despreocupada e sonhar diante de magníficas paisagens luminosas e soalheiras e das casas com portadas cor d'azur, tão típicas da Provence.
Não é um filme imperdível, mas mesmo sendo um pouco suspeita, porque França me apaixona e gosto muito de cinema francês, acho que vale a pena vê-lo (ignorando as legendas, naturalmente...)
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