quinta-feira, 28 de maio de 2015
terça-feira, 26 de maio de 2015
Vozes do Mundo
Conheci-a pela primeira vez num programa da RTP2 que nem sei se ainda existe, chamado "Bairro Alto". Gostei do seu modo de ser comunicativo e das coisas que então a ouvi dizer. Estávamos em 2008, julgo eu, e María Beresarte, de origem basca, acabava de publicar o seu primeiro disco que, curiosamente, era um disco de fado.
Uma espanhola a cantar fado parece uma ideia estranha. Mas se o ouvirmos não é. Pelo contrário: achei que ele era bem a prova que o fado e o flamenco são muito mais próximos do que parecem, que há mesmo o que pode considerar-se uma sonoridade ibérica, com especificidades próprias que têm a ver com as nossas distintas maneiras de ser. E deixei-me encantar por esta voz, poderosa, enfeitiçante e arrebatadora. Mas acabei por não guardar o disco, "Todas las horas son viejas", considerado pelo crítica como o melhor álbum de fado por uma voz estrangeira, pois ofereci-o a uns amigos espanhóis que gostam muito da canção de Lisboa.
Anos mais tarde, em 2012, tive a oportunidade de finalmente a ouvir ao vivo num concerto do "Quinteto de Lisboa", um interessante projecto musical que inclui também João Gil, José Peixoto, Hélder Moutinho e João Monge (tudo nomes de peso, pois claro). Foi um espectáculo marcante e inesquecível, pela sua qualidade e carácter inovador. Foi também, para mim, a confirmação de María Beresarte como uma artista extraordinária, que além da excepcional voz que tem é ainda elegante e sensual; e canta com o corpo inteiro.
Desde então tenho acompanhado mais ou menos o seu percurso artístico. Sei, por exemplo, que faz muito sucesso em França, e não só, que se vai tornando "um caso sério", e provando cada vez mais que é, acima de tudo, uma voz do mundo.
María Beresarte acaba de lançar o seu segundo disco, chamado "Súbita" que, pela amostra, parece valer a pena ouvir com atenção.
domingo, 24 de maio de 2015
Canções da minha vida (XIV)
Com a saída da Virgen del Rocío, hoje de madrugada, acaba a Romaria deste ano. O momento exacto, que nunca se sabe a que hora tem lugar, pode ver-se em directo no Canal Sur, numa emissão que começa à meia-noite e um quarto (uma hora antes para nós).
Tudo isto significa muito para mim, já se sabe. Nesta série não podiam por isso faltar algumas canções rocieras.
E, até ao próximo ano, não volto ao assunto; fica prometido!...
sábado, 23 de maio de 2015
A los amigos del alma
Esta noite, e a próxima, o Rocío vive os seus momentos mais significativos. Mesmo não estando lá, é impossível não pensar nos amigos e "hermanos rocieros" com quem se vivem momentos de partilha tão especiais. E lembrá-los com a ternura própria das emoções mais fortes.
El Rocío deja huella, pero para eso hay que vivirlo, ouvi dizer por estes dias. É quase um lugar-comum, mas é de facto impossível traduzi-lo em palavras. Porque só quem passa por lá pode sentir no peito e na pele a magia e o encantamento das rodas de amigos que podem ser festa, música, alegria de viver, mas também serenidade e devoção; e que nos aproxima imensamente dos corações que sentem connosco a mesma comoção. E nos une para sempre. E nos fortalece por dentro. E marca a nossa vida.
É por tudo isto que este post leva dedicatória: é para todos os amigos, portugueses e espanhóis, que sempre vivem o Rocío comigo. Para a Rita, a Joana, a Bu e o Miguel Souza, que me acompanham em todas as horas e em muitos caminhos, e também para a Rosa, o Salvador, o Gonzalo, a Maria, o Raúl, a Ana, a Paca, o Rufino, a Paulina, a Inma, a Marta, a Teresa, o Sílvio, a Rocío, a Patrícia, e tantos outros, cujos nomes podem momentaneamente estar a faltar-me.
Mas, de uma forma ainda mais especial, para um amigo muito querido, que eu conheci no Rocío e a quem me une um afecto profundo, inexplicável, abençoado e genuíno, que o tempo e a distância não podem apagar, com quem já partilhei o mais fundo da minha alma e tantas outras pequenas e grandes coisas que só nós sabemos, com quem me entendo sem precisar de muitas palavras, com quem estou sempre em sintonia, e de quem tenho às vezes saudades, apesar de o saber sempre perto. Um dia, tenho a certeza, voltaremos a estar juntos no Rocío. Miguel, esto va para ti!...
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Onde eu devia estar...
Nada a fazer! Hoje, amanhã, depois, e até segunda de manhã, fica-me esta sensação - sempre igual em todos os anos em que não vou -, que não estou onde devia estar.
Eu fico aqui, mas o meu pensamento e o meu coração estão no Rocío...
terça-feira, 19 de maio de 2015
Canções da minha vida (XIII)
Há anos, quando as noites duravam quase até ser dia, e ainda antes do Xafarix, era no Happening que gostava de estar, entre copos e amigos, deliciada, a ouvir a voz maravilhosa de Luís Represas, através da qual conheci o melhor da música brasileira. Aqui está um bom exemplo...
segunda-feira, 18 de maio de 2015
Uma sociedade (in)decente
Soube pela Helena que o Observador faz amanhã um ano. Não fazia ideia. Mas já me habituei a passar por lá; e hoje, uma vez mais, gostei do artigo de José Manuel Fernandes, como muitas vezes acontece. Diz isto:
Há coisas que me cansam. Mesmo
Uma sociedade decente é uma sociedade com regras, onde as crianças e os jovens crescem sabendo que há limites e deveres de civilidade. E onde a polícia não confunde firmeza com brutalidade gratuita.
Há coisas que me cansam. Uma delas são as vagas de indignação que percorrem o espaço público sempre que uma notícia nos choca. A outra é a nossa cíclica incapacidade para nos ficarmos pela indignação e pela proclamação do choque – no dia seguinte já esquecemos tudo e passamos a outra indignação diferente e manifestamo-nos chocados com outro tema qualquer.
A forma como, no nosso país, nas nossas redes sociais, nos nossos espaços públicos de debate, habitualmente se trata qualquer nova indignação ou qualquer novo choque tem, por regra, três características altamente negativas. A primeira é pensar que os problemas que alguns dos eventos chocantes revelam se resolvem através de uma qualquer mudança nas leis, mesmo sabendo nós que as sociedades não se mudam por decreto. A segunda é a tendência para ficar sempre pela superfície quando se discutem os problemas. A terceira é apontarmos preferencialmente o dedo a outrem e nunca nos interrogarmos sobre o que podemos fazer para, digamos assim, nos indignarmos menos vezes – por termos menos motivos para isso.
Vem tudo isto a propósito das sucessivas cenas de violência com que fomos confrontados nos últimos dias. Primeiro foi o vídeo do bullying da Figueira da Foz. A seguir veio o assassinato brutal de um adolescente por um rapaz pouco mais velho. Logo depois a noite de violência em que degenerou a festa do Benfica no Marquês de Pombal. Por fim, verdadeira cereja em cima do bolo, as imagens de polícias a espancarem dois adeptos do Benfica enquanto uma criança, filha de um deles, se urinava de aflição.
É fácil, não tem custos e alivia a bílis ir para as redes sociais tratar todos por energúmenos e selvagens os protagonistas destas violências – e muitos deles, sobretudo os mais responsáveis, são efectivamente energúmenos e selvagens. Quando se pretende ser um bocadinho mais sofisticado, procura-se uma qualquer explicação “social”, o que por estes dias acaba com demasiada frequência na “crise” e na “austeridade”. Raras vezes se assume o que é difícil assumir: primeiro, que a violência faz parte, infelizmente, da natureza humana; depois, que quando colectivamente se perdem as referências morais, não nos devia surpreender que se dilua a fronteira entre o tolerável e o intolerável, entre a simples estupidez e a crueldade, entre o bem e o mal.
Há pouco mais de um ano, aquando de uma outra comoção nacional – a “descoberta” de que muitas das praxes académicas eram claramente excessivas, uma discussão desencadeada depois da morte de seis jovens na Praia do Meco – lembrei que o exercício de humilhação do outro não era um exclusivo dessas praxes, tinha-se até tornado no desporto preferido dos talk-shows televisivos. Não deixa de ser significativo que, desta vez, estes eventos tenham ocorrido pouco depois um desses exercícios de humilhação levados ao limite do tolerável, na circunstância a ridicularização um jovem adolescente pela sua aparência física.
Não vou misturar todos estes casos – até porque a agressão gratuita protagonizada por um responsável da PSP de Guimarães não tem comparação com os outros – mas recordar aquilo que, de alguma forma, une todos os que foram protagonizados por adolescentes e por jovens.
O meu primeiro ponto é simples, apesar de ser muitas vezes esquecido: os seres humanos não nascem anjos que a sociedade estraga, bem pelo contrário, precisam de ser educados e de aprenderem a socializar para viverem pacificamente. Há mesmo períodos na vida dos jovens em que a facilidade de deslizar para a violência são especialmente grandes, como o tempo da passagem da adolescência à idade adulta (os rituais de iniciação, tão comuns em todo o tipo de sociedades, mais primitivas ou mais evoluídas, não surgiram do nada). O Padre Américo, que tantas crianças pobres e abandonadas tratou, costumava dizer que “não há rapazes maus”, mas para que tivesse razão esses rapazes tinham de ser enquadrados e educados – deixados a si mesmos, acabariam mal. Não vou aqui discutir Hobbes, Rousseau ou Locke, mas julgo que não necessitamos de seguir “A Guerra dos Tronos” (que nos mostra apenas um pouco da violência que era comum na Idade Média) para compreendermos que aquilo que nos permite viver pacificamente é aceitarmos um conjunto de regras e termos um mínimo de boa educação.
O segundo ponto é, de alguma forma, corolário deste primeiro: uma sociedade que aceita a alarvidade, que tolera a obscenidade (quando não faz gala dela), que não castiga mesmo o mais inocente dos vandalismos, antes se ri do atrevimento das crianças, uma sociedade que vê a boa educação como uma coisa antiquada e onde até o cavalheirismo é confundido com marialvismo, não é apenas uma sociedade que perdeu, ou está a perder, as suas referências morais: é uma sociedade onde a violência não deixará de estar sempre mais e mais presente.
O terceiro ponto é que não podemos continuar a viver nesta espécie de jogo do empurra em que um dia se responsabilizam as famílias, que despejam os filhos nas escolas ou os abandonam em frente a um ecrã de televisão, para no dia seguinte se culparem as escolas e, claro, a lei X ou a lei Y que está mal feita e a necessitar de reforma. Quando chegamos ao ponto de algumas famílias, com filhos pequenos, terem optado por já nem sequer terem televisões em casa durante a sua fase de formação, será que não temos nada a dizer sobre a responsabilidade dos operadores? Quando aceitamos que, todas as manhãs, as ruas do Bairro Alto e do Cais do Sodré, em Lisboa, ou da Ribeira, no Porto, sejam lixeiras para onde hordas de adolescentes e jovens atiraram copos de plástico e garrafas vazias, será que podemos ficar surpreendidos que alguns as atirem também aos polícias, como se estivessem à procura de uma batalha campal? Quando aceitamos, em nome da arte dos grafitti, que nenhuma parede está a salvo de um vandalismo muitas vezes totalmente gratuito, não estamos a aceitar que é possível viver numa sociedade sem regras, em nome de uma falsa ideia de “liberdade de expressão” que tantas vezes não é mais do que um carimbo de marcação de território?
Podia continuar por aqui adiante, e devo dizer que nada do que escrevi desculpa ou justifica os comportamentos que nos indignaram – pelo contrário: se nada acontecer, se encolhermos os ombros, se acharmos que, coitados, são apenas rapazes e raparigas desenquadrados, estaremos de novo a enviar a mensagem errada não apenas a quem prevaricou, mas a todos os estarão tentados a imitá-los.
Uma sociedade decente é uma sociedade com regras, uma sociedade onde se ensina às crianças e aos jovens quais os limites e onde moram as virtudes. Isto não é moralismo, é realismo, é humanismo. E se deve começar na casa de cada um, tem de prolongar-se no espaço público e nas instituições do Estado.
Mas às vezes parece que não somos uma sociedade decente.
A forma como, no nosso país, nas nossas redes sociais, nos nossos espaços públicos de debate, habitualmente se trata qualquer nova indignação ou qualquer novo choque tem, por regra, três características altamente negativas. A primeira é pensar que os problemas que alguns dos eventos chocantes revelam se resolvem através de uma qualquer mudança nas leis, mesmo sabendo nós que as sociedades não se mudam por decreto. A segunda é a tendência para ficar sempre pela superfície quando se discutem os problemas. A terceira é apontarmos preferencialmente o dedo a outrem e nunca nos interrogarmos sobre o que podemos fazer para, digamos assim, nos indignarmos menos vezes – por termos menos motivos para isso.
Vem tudo isto a propósito das sucessivas cenas de violência com que fomos confrontados nos últimos dias. Primeiro foi o vídeo do bullying da Figueira da Foz. A seguir veio o assassinato brutal de um adolescente por um rapaz pouco mais velho. Logo depois a noite de violência em que degenerou a festa do Benfica no Marquês de Pombal. Por fim, verdadeira cereja em cima do bolo, as imagens de polícias a espancarem dois adeptos do Benfica enquanto uma criança, filha de um deles, se urinava de aflição.
É fácil, não tem custos e alivia a bílis ir para as redes sociais tratar todos por energúmenos e selvagens os protagonistas destas violências – e muitos deles, sobretudo os mais responsáveis, são efectivamente energúmenos e selvagens. Quando se pretende ser um bocadinho mais sofisticado, procura-se uma qualquer explicação “social”, o que por estes dias acaba com demasiada frequência na “crise” e na “austeridade”. Raras vezes se assume o que é difícil assumir: primeiro, que a violência faz parte, infelizmente, da natureza humana; depois, que quando colectivamente se perdem as referências morais, não nos devia surpreender que se dilua a fronteira entre o tolerável e o intolerável, entre a simples estupidez e a crueldade, entre o bem e o mal.
Há pouco mais de um ano, aquando de uma outra comoção nacional – a “descoberta” de que muitas das praxes académicas eram claramente excessivas, uma discussão desencadeada depois da morte de seis jovens na Praia do Meco – lembrei que o exercício de humilhação do outro não era um exclusivo dessas praxes, tinha-se até tornado no desporto preferido dos talk-shows televisivos. Não deixa de ser significativo que, desta vez, estes eventos tenham ocorrido pouco depois um desses exercícios de humilhação levados ao limite do tolerável, na circunstância a ridicularização um jovem adolescente pela sua aparência física.
Não vou misturar todos estes casos – até porque a agressão gratuita protagonizada por um responsável da PSP de Guimarães não tem comparação com os outros – mas recordar aquilo que, de alguma forma, une todos os que foram protagonizados por adolescentes e por jovens.
O meu primeiro ponto é simples, apesar de ser muitas vezes esquecido: os seres humanos não nascem anjos que a sociedade estraga, bem pelo contrário, precisam de ser educados e de aprenderem a socializar para viverem pacificamente. Há mesmo períodos na vida dos jovens em que a facilidade de deslizar para a violência são especialmente grandes, como o tempo da passagem da adolescência à idade adulta (os rituais de iniciação, tão comuns em todo o tipo de sociedades, mais primitivas ou mais evoluídas, não surgiram do nada). O Padre Américo, que tantas crianças pobres e abandonadas tratou, costumava dizer que “não há rapazes maus”, mas para que tivesse razão esses rapazes tinham de ser enquadrados e educados – deixados a si mesmos, acabariam mal. Não vou aqui discutir Hobbes, Rousseau ou Locke, mas julgo que não necessitamos de seguir “A Guerra dos Tronos” (que nos mostra apenas um pouco da violência que era comum na Idade Média) para compreendermos que aquilo que nos permite viver pacificamente é aceitarmos um conjunto de regras e termos um mínimo de boa educação.
O segundo ponto é, de alguma forma, corolário deste primeiro: uma sociedade que aceita a alarvidade, que tolera a obscenidade (quando não faz gala dela), que não castiga mesmo o mais inocente dos vandalismos, antes se ri do atrevimento das crianças, uma sociedade que vê a boa educação como uma coisa antiquada e onde até o cavalheirismo é confundido com marialvismo, não é apenas uma sociedade que perdeu, ou está a perder, as suas referências morais: é uma sociedade onde a violência não deixará de estar sempre mais e mais presente.
O terceiro ponto é que não podemos continuar a viver nesta espécie de jogo do empurra em que um dia se responsabilizam as famílias, que despejam os filhos nas escolas ou os abandonam em frente a um ecrã de televisão, para no dia seguinte se culparem as escolas e, claro, a lei X ou a lei Y que está mal feita e a necessitar de reforma. Quando chegamos ao ponto de algumas famílias, com filhos pequenos, terem optado por já nem sequer terem televisões em casa durante a sua fase de formação, será que não temos nada a dizer sobre a responsabilidade dos operadores? Quando aceitamos que, todas as manhãs, as ruas do Bairro Alto e do Cais do Sodré, em Lisboa, ou da Ribeira, no Porto, sejam lixeiras para onde hordas de adolescentes e jovens atiraram copos de plástico e garrafas vazias, será que podemos ficar surpreendidos que alguns as atirem também aos polícias, como se estivessem à procura de uma batalha campal? Quando aceitamos, em nome da arte dos grafitti, que nenhuma parede está a salvo de um vandalismo muitas vezes totalmente gratuito, não estamos a aceitar que é possível viver numa sociedade sem regras, em nome de uma falsa ideia de “liberdade de expressão” que tantas vezes não é mais do que um carimbo de marcação de território?
Podia continuar por aqui adiante, e devo dizer que nada do que escrevi desculpa ou justifica os comportamentos que nos indignaram – pelo contrário: se nada acontecer, se encolhermos os ombros, se acharmos que, coitados, são apenas rapazes e raparigas desenquadrados, estaremos de novo a enviar a mensagem errada não apenas a quem prevaricou, mas a todos os estarão tentados a imitá-los.
Uma sociedade decente é uma sociedade com regras, uma sociedade onde se ensina às crianças e aos jovens quais os limites e onde moram as virtudes. Isto não é moralismo, é realismo, é humanismo. E se deve começar na casa de cada um, tem de prolongar-se no espaço público e nas instituições do Estado.
Mas às vezes parece que não somos uma sociedade decente.
Uma senhora é sempre uma senhora
Fanny Ardant é uma daquelas raras actrizes que me faz ir ver seja que filme for, e não apenas para ouvir falar francês - que eu adoro!
É que é tão forte e majestosa a sua presença, que enche não só o écran, como o filme todo. Porque há nela, de facto, uma elegância no modo de estar e um porte que a transformam numa "diva", ainda que as marcas visíveis da passagem do tempo lhe tenham roubado muito do garbo de outrora. Mas tem ainda aquele toque tout à fait français, misto de requinte e de altivez, que faz com que mesmo um filme fraquinho como este Chic, agora em cartaz, não seja extremamente maçador.
E nunca a vejo sem relembrar o filme em que a conheci - La femme d'à côté, - que me marcou muitíssimo. E depois todos os outros, de que Vivement Dimanche e Huit femmes, são apenas alguns exemplos que me vêm de repente à memória. É sem dúvida um dos grandes nomes do cinema francês. E a prova de que a classe e a distinção se têm ou não se têm, mas não se perdem com os anos. E nem é preciso botox...
E nunca a vejo sem relembrar o filme em que a conheci - La femme d'à côté, - que me marcou muitíssimo. E depois todos os outros, de que Vivement Dimanche e Huit femmes, são apenas alguns exemplos que me vêm de repente à memória. É sem dúvida um dos grandes nomes do cinema francês. E a prova de que a classe e a distinção se têm ou não se têm, mas não se perdem com os anos. E nem é preciso botox...
sábado, 16 de maio de 2015
Vale a pena tentar
Viver é (...) um dever, um afazer, um prazer, um susto, uma cambalhota. (...)
Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à espera.
Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à espera.
(Joaquim Pessoa)
Talvez eu te proponha a coisa certa
No caso a questão é se tentar
Mas sempre que eu deixei a porta aberta
Você veio correndo pra fechar.
No caso a questão é se tentar
Mas sempre que eu deixei a porta aberta
Você veio correndo pra fechar.
(...)
Você me amedronta e me apavora
Não sei porquê
Me deixa ocupar a tua insónia
Me deixa devastar teus pensamentos
Me deixa percorrer teus sentimentos
Até me exaustar
Talvez eu te proponha a coisa incerta
Mas sempre vale a pena se tentar
sexta-feira, 15 de maio de 2015
O preço de uma constipação
O que se passou hoje comigo é um bom exemplo da falta de profissionalismo que vai reinando um pouco por todo o lado; e de como há pequenos pormenores que podem fazer a diferença.
Esta é a história: há cerca de três semanas que trago comigo uma enorme constipação, habitual em quase todas as Primaveras, já que sou uma incorrigível amante do sol e, mal ele aquece um pouco mais, aí estou eu deliciada, arejando qual lagarto. Desta vez, fui tratando dela com as coisas do costume e, dado que não tinha febre, continuei a fazer a vida de todos os dias. Mas a tosse não me largava e a constipação foi melhorando e piorando consoante as idas à praia e ao ginásio e as bruscas alterações climáticas. E chegou a febre. Só por uma noite, mas chegou. Achei então que não seria má ideia ir ao médico, que é sempre o meu último recurso (tenho esta coisa meio infantil de querer fugir deles quanto posso).
Umas amigas sugeriram-me um médico excelente, que era o delas e das suas famílias, na Cuf Infante Santo (Dr. David Paiva) o qual, além disso, tinha acordo com a ADSE, o que significava que a consulta custaria apenas 3.99€. "Vais adorar!", garantiram-me. "E ficar cliente." Entusiasmada com tanta boa notícia, apressei-me a marcar consulta, agendada com extrema celeridade para daí a menos de quarenta e oito horas, o que também me pareceu óptimo.
Naturalmente que ao telefone, mesmo sendo já utente da Cuf Alvalade, me perguntaram qual o meu subsistema de saúde - e eu disse, - mas não me deram qualquer informação adicional. Também não fiz perguntas sobre acordos, nem preços, uma vez que as minhas amigas já me tinham esclarecido quanto a essas questões.
A consulta foi hoje. Durou quinze minutos, com as perguntas e procedimentos habituais nestas circunstâncias, e saí de lá com uma receita de um antibiótico e mais não sei o quê, bem mais potente que os meus ben-u-rons e afins. O trivial, pronto. Até aqui tudo certo...
Porém, chegado o momento de pagar, pediram-me o cartão "Medicare". Respondi que não tinha. Só o da ADSE. Disseram-me, só então, que este médico não tinha acordo com a ADSE. E que a "colega" que registou a minha marcação teria registado "Medicare". Por isso, sendo a primeira consulta tinha que pagar 93€ (noventa e três euros!!!). Fiquei de tal modo em estado de choque que nem consegui reagir. Paguei e saí dali o mais depressa que pude, maldizendo a constipação e o mundo, de carteira bastante mais leve e quase à beira de uma ataque de nervos e de sei lá que mais, irritada comigo por não ter ido antes nem que fosse à urgência dos Lusíadas.
Que aqueles quinze minutos e a receita do antibiótico valham noventa e três euros já me parece excessivo e escandaloso, mas nem é isso que eu contesto. Sendo que o médico deixou de ter acordo com a ADSE há dois meses, como vim a saber depois, no telefonema de marcação esse facto tinha que me ter sido comunicado; e caber-me-ia, depois, decidir se queria ainda assim ser consultada por ele. Tanto mais que me perguntaram qual o meu subsistema de saúde.
Também não entendo como, tendo eu dito ADSE, do outro lado da linha se tenha percebido "Medicare", que nem sequer por qualquer semelhança sonora é susceptível de confundir-se. E é este o país que temos...
Mais tarde, com mais calma e já refeita do embate, redigi e enviei por mail uma reclamação dirigida à Cuf Infante Santo, a qual provavelmente não valerá de muito, mas serve pelo menos para "desabafar".
Umas amigas sugeriram-me um médico excelente, que era o delas e das suas famílias, na Cuf Infante Santo (Dr. David Paiva) o qual, além disso, tinha acordo com a ADSE, o que significava que a consulta custaria apenas 3.99€. "Vais adorar!", garantiram-me. "E ficar cliente." Entusiasmada com tanta boa notícia, apressei-me a marcar consulta, agendada com extrema celeridade para daí a menos de quarenta e oito horas, o que também me pareceu óptimo.
Naturalmente que ao telefone, mesmo sendo já utente da Cuf Alvalade, me perguntaram qual o meu subsistema de saúde - e eu disse, - mas não me deram qualquer informação adicional. Também não fiz perguntas sobre acordos, nem preços, uma vez que as minhas amigas já me tinham esclarecido quanto a essas questões.
A consulta foi hoje. Durou quinze minutos, com as perguntas e procedimentos habituais nestas circunstâncias, e saí de lá com uma receita de um antibiótico e mais não sei o quê, bem mais potente que os meus ben-u-rons e afins. O trivial, pronto. Até aqui tudo certo...
Porém, chegado o momento de pagar, pediram-me o cartão "Medicare". Respondi que não tinha. Só o da ADSE. Disseram-me, só então, que este médico não tinha acordo com a ADSE. E que a "colega" que registou a minha marcação teria registado "Medicare". Por isso, sendo a primeira consulta tinha que pagar 93€ (noventa e três euros!!!). Fiquei de tal modo em estado de choque que nem consegui reagir. Paguei e saí dali o mais depressa que pude, maldizendo a constipação e o mundo, de carteira bastante mais leve e quase à beira de uma ataque de nervos e de sei lá que mais, irritada comigo por não ter ido antes nem que fosse à urgência dos Lusíadas.
Que aqueles quinze minutos e a receita do antibiótico valham noventa e três euros já me parece excessivo e escandaloso, mas nem é isso que eu contesto. Sendo que o médico deixou de ter acordo com a ADSE há dois meses, como vim a saber depois, no telefonema de marcação esse facto tinha que me ter sido comunicado; e caber-me-ia, depois, decidir se queria ainda assim ser consultada por ele. Tanto mais que me perguntaram qual o meu subsistema de saúde.
Também não entendo como, tendo eu dito ADSE, do outro lado da linha se tenha percebido "Medicare", que nem sequer por qualquer semelhança sonora é susceptível de confundir-se. E é este o país que temos...
Mais tarde, com mais calma e já refeita do embate, redigi e enviei por mail uma reclamação dirigida à Cuf Infante Santo, a qual provavelmente não valerá de muito, mas serve pelo menos para "desabafar".
Por fim, descubro com espanto que afinal a solução até podia ter sido outra, bem mais simples que tudo isto. Ah, se tenho lido este artigo a tempo, nem tinha chegado a ir ao médico...
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Dia da espiga
Encontro um encanto especial nas tradições populares associadas à Primavera. Hoje celebra-se o "Dia da Espiga" coincidindo com a Quinta-feira da Ascensão e, por isso, mesmo nas cidades, vêem-se um pouco por todo o lado os raminhos campestres e coloridos, com a sua simbologia muito específica e algo poética, a encher de luz, de cor e de alegria a nossa vida.
terça-feira, 12 de maio de 2015
Provocação
Não me venha falar
Na malícia de toda mulher
Cada um sabe a dor
E a delícia de ser o que é
Não me olhe como se a polícia
Andasse atrás de mim
Cale a boca
E não cale na boca
Notícia ruim
Você sabe explicar
Você sabe entender
Tudo bem
Você está
Você é
Você faz
Você quer
Você tem
Você diz a verdade
E a verdade é o seu dom de iludir
Como pode querer que a mulher
Vá viver sem mentir
Na malícia de toda mulher
Cada um sabe a dor
E a delícia de ser o que é
Não me olhe como se a polícia
Andasse atrás de mim
Cale a boca
E não cale na boca
Notícia ruim
Você sabe explicar
Você sabe entender
Tudo bem
Você está
Você é
Você faz
Você quer
Você tem
Você diz a verdade
E a verdade é o seu dom de iludir
Como pode querer que a mulher
Vá viver sem mentir
segunda-feira, 11 de maio de 2015
O efeito do sol em mim
Primeiro há o prazer voluptuoso de me estender na suave maciez do areal e deixar o sol invadir o corpo devagar, ao de leve, no início, e logo mais forte, quase abrasador. Depois fechar os olhos, ouvir o clamor das ondas e adivinhar-lhes o tamanho apenas pelo som. E esquecer-me de mim. Demorar-me em silêncio e em sossego, sem pensar em nada, sentir a raridade de instantes assim, de harmonia perfeita com a natureza, prazer e privilégio, como uma terapia essencial ao bem-estar e à consonância, que volta a colocar tudo no seu lugar. E então regressar, revigorada e feliz, a pele quente a saber a sal, com uma alma nova, o coração mais leve, e o olhar outra vez limpo para a beleza do mundo.
domingo, 10 de maio de 2015
Os filmes sobre a escola
Devo ser uma das raríssimas pessoas que não gosta nem um bocadinho de "O Clube dos Poetas Mortos", tido como um clássico entre os filmes sobre a escola, a profissão de professor e o culto do carpe diem, em geral. E nem sei se é por não apreciar de todo Robin Williams, - que é no filme um professor pouco convincente, cheio de trejeitos de clown - se por não ter a mínima paciência para aquele género do professor, a que eu chamo "professor pops", que é muito cool, que faz verdadeiros milagres ao nível da "motivação", mas tenho mais dúvidas que chegue a ensinar alguma coisa de significativo, e que os alunos definem, actualmente, como "um bacano".
Dos filmes sobre a escola, a referência era para mim entre les murs (em português "a turma"), um filme francês de 2008, baseado num livro com o mesmo nome, escrito por um professor - François Bégaudeau, e interpretado também por ele no papel principal - , sobre a realidade multicultural de uma escola dos subúrbios de Paris, na sua mais crua realidade quotidiana. Não se trata de um documentário, mas filmado com alunos reais de uma escola francesa, o filme traça um retrato muito autêntico do ambiente que se vive hoje neste meio, sem lirismos parvos, nem tintas cor-de-rosa.
Porque, de facto, grande parte do que se passa nas escolas fica "entre quatro paredes" e quem não o conhece por dentro tem sempre uma imagem reduzida e redutora, mais ou menos distorcida e, acima de tudo, pouco verdadeira.
Quando ouvi falar de Les Heritiers (traduzido como "Uma turma difícil"), desconfiei. Fiquei com a ideia de que, basicamente, se tratava de pegar no que tinha corrido bem no filme "A turma", misturando actores profissionais com alunos reais, por exemplo, e dar conta de um daqueles extraordinários "milagres" de conseguir transformar radicalmente um grupo tido como "difícil". Uma mistura de "A Turma" e "Clube dos Poetas Mortos", portanto.
Fui vê-lo, mesmo assim. Mas de pé atrás, confesso. E o filme surpreendeu-me pela positiva. Trata-se de uma história verídica, passada em 2009, no mesmo liceu Léon Blum onde o filme é rodado, em Créteil, nos arredores de Paris. Ahmed Dramé, um dos alunos que viveu essa experiência, escreve depois um argumento sobre ela e mostra-o à realizadora Marie-Castille Mention-Schaar, que o rescreve com ele e o inclui no filme, como actor, no papel de Malik. Ariane Ascaride faz uma professora credível como Madame Gueguen (representando Anne Anglès, a verdadeira professora).
O filme não se limita, no entanto, a falar do insucesso, da indisciplina, de tensão entre grupos étnicos, religiosos e culturais distintos. A ideia de levar aquela turma a participar no concurso sobre a Resistência e a Deportação coloca em primeiro plano as memórias do Holocausto e o seu impacto nas gerações que apenas as conhecem de forma documental, mas que ao envolver-se no assunto de forma mais profunda podem com isso mudar também as suas vidas. O testemunho de Léon Zyguel, sobrevivente de Auschwitz, que morreu em Janeiro deste ano, aos 87 anos, é de resto um dos momentos mais marcantes do filme, que consegue emocionar os alunos para quem fala, e emocionar-nos a todos, também.
Enfim, não será um grande filme, mas é um filme que vale a pena ver, sobretudo para quem conhece pelo lado de dentro o que há de melhor e de pior no desafio de ensinar, que se ganha ou se perde em cada dia; e sabe na pele como isso pode ser física e psicologicamente duro, e desgastante, mas gosta de o fazer; apesar de tudo...
Dos filmes sobre a escola, a referência era para mim entre les murs (em português "a turma"), um filme francês de 2008, baseado num livro com o mesmo nome, escrito por um professor - François Bégaudeau, e interpretado também por ele no papel principal - , sobre a realidade multicultural de uma escola dos subúrbios de Paris, na sua mais crua realidade quotidiana. Não se trata de um documentário, mas filmado com alunos reais de uma escola francesa, o filme traça um retrato muito autêntico do ambiente que se vive hoje neste meio, sem lirismos parvos, nem tintas cor-de-rosa.
Porque, de facto, grande parte do que se passa nas escolas fica "entre quatro paredes" e quem não o conhece por dentro tem sempre uma imagem reduzida e redutora, mais ou menos distorcida e, acima de tudo, pouco verdadeira.
Quando ouvi falar de Les Heritiers (traduzido como "Uma turma difícil"), desconfiei. Fiquei com a ideia de que, basicamente, se tratava de pegar no que tinha corrido bem no filme "A turma", misturando actores profissionais com alunos reais, por exemplo, e dar conta de um daqueles extraordinários "milagres" de conseguir transformar radicalmente um grupo tido como "difícil". Uma mistura de "A Turma" e "Clube dos Poetas Mortos", portanto.
Fui vê-lo, mesmo assim. Mas de pé atrás, confesso. E o filme surpreendeu-me pela positiva. Trata-se de uma história verídica, passada em 2009, no mesmo liceu Léon Blum onde o filme é rodado, em Créteil, nos arredores de Paris. Ahmed Dramé, um dos alunos que viveu essa experiência, escreve depois um argumento sobre ela e mostra-o à realizadora Marie-Castille Mention-Schaar, que o rescreve com ele e o inclui no filme, como actor, no papel de Malik. Ariane Ascaride faz uma professora credível como Madame Gueguen (representando Anne Anglès, a verdadeira professora).
O filme não se limita, no entanto, a falar do insucesso, da indisciplina, de tensão entre grupos étnicos, religiosos e culturais distintos. A ideia de levar aquela turma a participar no concurso sobre a Resistência e a Deportação coloca em primeiro plano as memórias do Holocausto e o seu impacto nas gerações que apenas as conhecem de forma documental, mas que ao envolver-se no assunto de forma mais profunda podem com isso mudar também as suas vidas. O testemunho de Léon Zyguel, sobrevivente de Auschwitz, que morreu em Janeiro deste ano, aos 87 anos, é de resto um dos momentos mais marcantes do filme, que consegue emocionar os alunos para quem fala, e emocionar-nos a todos, também.
Enfim, não será um grande filme, mas é um filme que vale a pena ver, sobretudo para quem conhece pelo lado de dentro o que há de melhor e de pior no desafio de ensinar, que se ganha ou se perde em cada dia; e sabe na pele como isso pode ser física e psicologicamente duro, e desgastante, mas gosta de o fazer; apesar de tudo...
sexta-feira, 8 de maio de 2015
Desígnio
Hoje, a música, a poesia, e outras pequenas coisas que são o que há de mais bonito na vida, chegam para me fazer feliz...
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)
Para quem quer se soltar
invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor
e sei a dor de encontrar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir
eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar
quinta-feira, 7 de maio de 2015
Três anos depois...
Foi pé ante pé que entrei na blogosfera, num dia de Primavera hesitante e incerta como a de agora, movida antes de mais pela curiosidade e pela vontade de mudar, que tanto me caracterizam.
Comecei por querer só experimentar, ver o que era, como se fazia... E quando me lancei, entre o desejo e o susto que têm todos os começos, estava longe de imaginar, naquele dia 7 (nada é por acaso...), no que tudo isto haveria de se tornar. Não acreditaria, por exemplo, que três anos depois dessa manhã em que tacteando lhe fui dando vida, o meu blogue reuniria 733 posts e continuaria a ser fonte de prazer e de serenidade, a ter sabor a novidade e a aventura.
Mas, no fundo, nem é de admirar. Embora não seja muito dada ao definitivo, ligo-me fortemente aos lugares e às pessoas, e sou de amores loucos, intensos mas prolongados, resistentes ao tempo e à adversidade.
Comecei por querer só experimentar, ver o que era, como se fazia... E quando me lancei, entre o desejo e o susto que têm todos os começos, estava longe de imaginar, naquele dia 7 (nada é por acaso...), no que tudo isto haveria de se tornar. Não acreditaria, por exemplo, que três anos depois dessa manhã em que tacteando lhe fui dando vida, o meu blogue reuniria 733 posts e continuaria a ser fonte de prazer e de serenidade, a ter sabor a novidade e a aventura.
Mas, no fundo, nem é de admirar. Embora não seja muito dada ao definitivo, ligo-me fortemente aos lugares e às pessoas, e sou de amores loucos, intensos mas prolongados, resistentes ao tempo e à adversidade.
E depois, sempre tive a paixão das palavras, deixando-me enfeitiçar pelos seus múltiplos significados e sonoridades, e me inquietei na busca da mais exacta, mesmo sabendo que há um resto de emoção que lhes escapa, e vive eternamente no silêncio que fica antes e depois delas. O blogue permitiu-me reencontrar o gosto da escrita, que entretanto deixara adormecer no fundo escuro de uma gaveta, e tentara ignorar, ou esquecer.
Hoje, é a minha segunda casa, onde estou como sou, tal como se diz num famoso programa de televisão, o lugar onde me sento tranquila e descontraída, de onde observo o mundo, e onde me permito pensar(me) e falar de tudo o que me apetece - isto e aquilo (o nome, vendo bem, até faz algum sentido) - sem pudor de revelar o que me vai na alma, sem esconder vontades, nem gostos, nem opiniões. Aqui sou mais eu, de certo modo, e afeiçoei-me tanto a tudo o que este mundo novo trouxe à minha vida, que quase me parece que preciso dele para viver melhor.
Em três anos a minha vida mudou e eu mudei com ela, ou o contrário, e o blogue foi também parte dessa lenta aprendizagem, caminho de renovação que se vai construindo devagar a cada dia, com tudo o que pensei, li, conheci e experimentei entretanto.
Ao fim destes mil e noventa e cinco dias posso dizer que é muito maior e melhor o que ganhei do que o que perdi, que este continua a ser para mim um lugar de conhecimento e de pensamento, mas também de afectos e de afinidades, que me permitiram criar inúmeros laços e partilhas. Por isso não posso deixar de agradecer a todos os que me acompanham, aos que estão ao meu lado quase desde o início, aos que vão acrescentando palavras e opiniões que me confortam, me acarinham, ou me questionam e fazem ver tudo de outra maneira, aos que passam em silêncio, mas eu sinto do lado de lá das palavras, e até aos que me adivinham amores e desamores, humores, estados de alma ou temperamento, escondidos e revelados por trás do que escrevo, como se o blogue fosse um pedaço de mim e eu estivesse em permanente confissão.
Afinal, tudo faz parte do jogo. O importante é esta festa da palavra, que não é a vida, mas também faz parte dela. E eu gosto muito de estar aqui...
Hoje, é a minha segunda casa, onde estou como sou, tal como se diz num famoso programa de televisão, o lugar onde me sento tranquila e descontraída, de onde observo o mundo, e onde me permito pensar(me) e falar de tudo o que me apetece - isto e aquilo (o nome, vendo bem, até faz algum sentido) - sem pudor de revelar o que me vai na alma, sem esconder vontades, nem gostos, nem opiniões. Aqui sou mais eu, de certo modo, e afeiçoei-me tanto a tudo o que este mundo novo trouxe à minha vida, que quase me parece que preciso dele para viver melhor.
Em três anos a minha vida mudou e eu mudei com ela, ou o contrário, e o blogue foi também parte dessa lenta aprendizagem, caminho de renovação que se vai construindo devagar a cada dia, com tudo o que pensei, li, conheci e experimentei entretanto.
Ao fim destes mil e noventa e cinco dias posso dizer que é muito maior e melhor o que ganhei do que o que perdi, que este continua a ser para mim um lugar de conhecimento e de pensamento, mas também de afectos e de afinidades, que me permitiram criar inúmeros laços e partilhas. Por isso não posso deixar de agradecer a todos os que me acompanham, aos que estão ao meu lado quase desde o início, aos que vão acrescentando palavras e opiniões que me confortam, me acarinham, ou me questionam e fazem ver tudo de outra maneira, aos que passam em silêncio, mas eu sinto do lado de lá das palavras, e até aos que me adivinham amores e desamores, humores, estados de alma ou temperamento, escondidos e revelados por trás do que escrevo, como se o blogue fosse um pedaço de mim e eu estivesse em permanente confissão.
Afinal, tudo faz parte do jogo. O importante é esta festa da palavra, que não é a vida, mas também faz parte dela. E eu gosto muito de estar aqui...
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Não havia necessidade...
Com o título "Cada Cavadela" e assinado por Nuno Saraiva, um dos subdirectores, este era hoje o editorial do DN, com o qual concordo em absoluto:
Pedro Passos Coelho decidiu desenterrar, mais uma vez, a chamada "crise do irrevogável" que, no verão de 2013, quase deitou abaixo o governo. Numa biografia autorizada, ontem apresentada, o primeiro-ministro recua no tempo para apontar o dedo a Paulo Portas, a quem acusa, implicitamente, de ser o responsável pela demissão de Vítor Gaspar. E revela que o agora vice-primeiro-ministro lhe comunicou "por sms" a decisão de abandonar o executivo. Por estes dias, aliás, as mensagens de telemóvel têm sido assunto num e noutro campo político. E parecem ser sinónimo de tiro no pé. Mas o que mais impressiona no timing e nos termos escolhidos por Pedro Passos Coelho para "fazer sair" esta narrativa, é ser indecifrável o seu objetivo. Dez dias depois de ter renovado os votos com Paulo Portas, o primeiro-ministro colocou-se no centro da ação política por ter, mais uma vez e em público, dado mostras de não confiar no seu parceiro de coligação. Porque é disso que se trata. Há pouco mais de um ano, o líder do CDS recusou revelar os pormenores do verão quente de 2013 porque, explicou na altura, "sou membro do governo e tenho um dever de reserva". Pelos vistos, o primeiro-ministro e líder do PSD considera-se dispensado desse dever e não hesita em apoucar em público Paulo Portas. Aquilo que Passos Coelho conseguiu ontem foi, tão-só, voltar a irritar o CDS. E a pergunta que fica por responder é: o que ganham o PSD e a coligação com isto? Numa altura que deveria ser de mobilização pré-eleitoral e em que ambos os partidos acordaram ir juntos a eleições, é incompreensível este comportamento que dá pretexto a que, de um lado e do outro, se fale de "deslealdade" ou de "ajuste de contas". Se calhar, e ao contrário do que todos julgávamos possível, a frase de Pedro Passos Coelho "que se lixem as eleições" não era, de todo, uma bravata. Porque, apesar dos erros sucessivos do PS, se o primeiro-ministro persistir nos elogios públicos a Dias Loureiro ou nas humilhações a Paulo Portas, uma coisa é quase certa: António Costa pode fazer as asneiras que quiser, que terá em Pedro Passos Coelho um "aliado" solidário que lhe abrirá as portas de São Bento.
Nesta, como em todas as outras coisas, acredito e confio em Paulo Portas; e não acredito, nem confio nadinha, em PPC. Mas isso nem vem agora ao caso. O que fica no ar são duas perguntas: Porquê? Para quê?
Nesta, como em todas as outras coisas, acredito e confio em Paulo Portas; e não acredito, nem confio nadinha, em PPC. Mas isso nem vem agora ao caso. O que fica no ar são duas perguntas: Porquê? Para quê?
terça-feira, 5 de maio de 2015
domingo, 3 de maio de 2015
Amor de mãe
Tenho especial alergia aos "Dias de...": do inenarrável "Dia dos Namorados" ao controverso "Dia da Mulher", passando pelo "Dia da Criança", do cão, do gato, do periquito e tutti quanti. Mas abro uma excepção para este primeiro Domingo de Maio, que é "Dia da Mãe". Porque sei a importância que a minha sempre lhe deu. E sempre o festejámos em grande, mesmo se para nós todos os Domingos eram dias de mãe e filha, vividos em clima de festa. E havia sempre flores, e almoço, e palavras doces, risos, beijos, e muitos mimos, na alegria imensa de podermos estar juntas.
Hoje, também lhe levei flores, mesmo não sendo da "Florista Malmequer". Não almoçámos juntas, mas celebrámos o dia com madalenas e ferreros rocher. Não dissemos muitas palavras e nem sei se entende agora o que lhe digo, mas é na forma como nos olhamos e nos apertamos as mãos que eu sinto que o nosso amor continua igual. Porque este amor nunca acaba. Às vezes preciso de segurar as lágrimas, porque não é fácil vê-la assim, e rio, e falo-lhe como se tudo fosse ainda como dantes, e tento aproveitar ao máximo o tempo que temos e eu não sei qual nem quanto é.
É por isso que costumo dizer, não fosse o horror que tenho a tatuagens, que se alguma vez fizesse uma, só poderia ser daquelas antigas, com um coração a dizer: "amor de mãe".
Hoje, também lhe levei flores, mesmo não sendo da "Florista Malmequer". Não almoçámos juntas, mas celebrámos o dia com madalenas e ferreros rocher. Não dissemos muitas palavras e nem sei se entende agora o que lhe digo, mas é na forma como nos olhamos e nos apertamos as mãos que eu sinto que o nosso amor continua igual. Porque este amor nunca acaba. Às vezes preciso de segurar as lágrimas, porque não é fácil vê-la assim, e rio, e falo-lhe como se tudo fosse ainda como dantes, e tento aproveitar ao máximo o tempo que temos e eu não sei qual nem quanto é.
É por isso que costumo dizer, não fosse o horror que tenho a tatuagens, que se alguma vez fizesse uma, só poderia ser daquelas antigas, com um coração a dizer: "amor de mãe".
Se tu (me) quiseres...
Se me abres os braços, entrego-me sem pudor, e sou tua. Nem são precisas muitas palavras. Basta um gesto, um olhar, uma mão no meu cabelo. Então, beijo-te depressa e devagar, meiga e desajeitada, o coração de súbito disparado no peito, o corpo a explodir de desejo, na aflição e na surpresa dos instantes que precedem uma intimidade por descobrir, rendição lenta e arrebatada, com o tempo suspenso e a novidade das mãos que se soltam de repente a correr pelo corpo, o arrepio do primeiro toque, e os beijos demorados e ardentes que tanto se imaginara a que saberiam, que desatam todos os sentidos, tudo só pele, dentes, língua, riso, cheiros e sabores confundidos, entre palavras sussurradas ao ouvido, calor e colo, no tempo de esquecer o mundo inteiro e só existirmos juntos.
Há no coração indomado e inquieto a intuição de que o que quer que viesse seria bom, marcado pelo que já é afecto e cumplicidade, e se destapa a espaços na emergência do corpo que se deixa levar pelo amor, no despropósito do que às vezes me fazes pensar e querer, sem saber se sim ou não, para logo voltar à realidade, e se ocultar, e reprimir, no turbilhão das sensações imoderadas e sensatas de querer prender e soltar, agarrar e deixar ir...
Quero-te e não preciso de ti, mas às vezes sucumbo à vontade desmedida de te ouvir dizer que sim, nos instantes em que, no torpor sonolento das manhãs de preguiça, se me enchem o corpo e o espírito das mais audaciosas vontades.
Cresce-se a vida toda, e crescer também é isto: saber quem nos importa e o que nos faz falta, aproveitar o que a vida tem de bom, assumir vontades, e não se escusar nunca ao prazer.
sexta-feira, 1 de maio de 2015
A felicidade ao virar da esquina
Em França, 1 de Maio é também a festa do trabalho, mas é antes de mais dia do muguet, símbolo de felicidade, oferecido àqueles a quem se quer bem.
Parece que esta tradição existe desde o tempo de Charles IX, na época do Renascimento, e teria sido o próprio rei que a instituiu, depois de um certo primeiro de Maio ter ele próprio recebido un brin de muguet. No século XV, ao que consta, este era um dia dedicado ao amor, em que se ia ao campo colher ramos destinados a enfeitar depois as casas, e faziam-se coroas de folhas e de flores para oferecer à pessoa amada.
O muguet tornou-se assim, ao longo dos tempos, uma flor associada à felicidade. Diz-se que quem encontra um ramo de muguet com treze flores será particularmente bafejado pela sorte, um pouco à semelhança do que se passa com o trevo de quatro folhas. Há inúmeros perfumes que incluem nas sua essência o cheiro do muguet e há até quem diga que era a flor fétiche de Christian Dior.
Grande parte da felicidade, já se sabe, somos nós que a procuramos e construímos, mas estas tradições não deixam de ter um aura de poesia e de beleza, que também faz parte da vida.
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