A professora que era uma cadela
Era uma vez uma professora que era uma cadela. Era um encanto vê-la com o filhote, apetecia fazer fotos, partilhá-las no Facebook e pôr likes. Cadela, a professora arranhou uns garotos e o tribunal decidiu matá-la. O Twitter, claro, reagiu e recolheu milhões de indignações: "Salvem a Teacher!"... Mas, na verdade, a professora não era uma cadela. Enganei-vos para chamar a atenção. Ela é só uma dessas professoras de duas pernas e por isso não teve nenhuma campanha no Twitter. Como ela era do tipo Homo sapiens, o nome deve ter-se-vos varrido. Ela chama-se Inês, 42 anos, e teve um ano tramado, 2012-2013: o marido foi embora, o pai morreu. Isso não serve de desculpa, mas de alguma explicação: ao contrário de todos os seus anos de currículo exemplar, naquele ano ela foi uma professora como não devia ser. Ela bateu nos seus alunos de 6 anos. Defino bater: bofetadas, carolos, coisas assim. E insultou: "Almôndega!" E praguejou: "Fónix." Errado para uma professora, como é (dando exemplo que as redes sociais entendem) errado que uma cadela arranhe. Mas daí a que a Inês apanhe seis anos de prisão efetiva é... é..., escolho a palavra certa: indizível. O bom senso não se explica. Seis anos de prisão. Efetiva. E o Twitter está calado. Há dois anos, o Twitter empolgava-se pela salvação do Zico, o pitbull que matou um bebé. Eu sei que ela é só uma mulher, mas não é possível ver na Inês um são -bernardo que se extraviou e fazer uma pequena campanha?
O artigo é de Ferreira Fernandes, hoje, no DN, e aborda um assunto que me parece de extrema importância, ou talvez ele me toque mais por se referir a uma realidade que conheço demasiado bem.
Que há professores que se excedem, a vários níveis,é um facto. Que tais atitudes devem ser denunciadas, corrigidas e sancionadas, se for caso disso, parece óbvio, de igual modo. E mesmo se quem está por dentro do que se passa hoje nas escolas (e não só nas públicas) tem a noção de como esta profissão vai sendo cada vez mais difícil, e desgastante, um professor não deve, ainda assim, bater nem insultar os alunos em nenhuma circunstância. Mas o inverso também não pode acontecer.
O que eu não entendo, e me espanta, é o alarde que a comunicação social fez à volta desta história e o branqueamento de tantas situações em que o o que se passa é exactamente o contrário, relativas aos vários tipos de violência contra os professores, muito mais recorrentes, e cujas consequências têm uma gravidade igual ou até maior que esta. Seis anos de prisão efectiva é uma pena descabida e desproporcionada em si, e também face a tantas outros casos em que, com todo o tipo de desculpas e atenuantes, as agressões ficam total ou parcialmente impunes.
O artigo é de Ferreira Fernandes, hoje, no DN, e aborda um assunto que me parece de extrema importância, ou talvez ele me toque mais por se referir a uma realidade que conheço demasiado bem.
Que há professores que se excedem, a vários níveis,é um facto. Que tais atitudes devem ser denunciadas, corrigidas e sancionadas, se for caso disso, parece óbvio, de igual modo. E mesmo se quem está por dentro do que se passa hoje nas escolas (e não só nas públicas) tem a noção de como esta profissão vai sendo cada vez mais difícil, e desgastante, um professor não deve, ainda assim, bater nem insultar os alunos em nenhuma circunstância. Mas o inverso também não pode acontecer.
O que eu não entendo, e me espanta, é o alarde que a comunicação social fez à volta desta história e o branqueamento de tantas situações em que o o que se passa é exactamente o contrário, relativas aos vários tipos de violência contra os professores, muito mais recorrentes, e cujas consequências têm uma gravidade igual ou até maior que esta. Seis anos de prisão efectiva é uma pena descabida e desproporcionada em si, e também face a tantas outros casos em que, com todo o tipo de desculpas e atenuantes, as agressões ficam total ou parcialmente impunes.
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