domingo, 10 de dezembro de 2017

Passar ao lado do espírito natalício


Por mais estranho que possa parecer, o Natal e tudo o que a ele está associado, toca-me cada vez menos. Talvez porque o que na sua essência era apenas uma lição de amor, de paz e de alegria, simples, poética e misteriosa como são as coisas mais importantes da vida se foi cada vez mais transformando num ritual absurdo e cansativo, de presentes, obrigações sociais e felicidades postiças.
É talvez por isso que nesta altura me apetecia fugir daqui para um sítio onde não houvesse Natal e voltar depois de ter passado tudo.
Cansa-me o caos do trânsito e as lojas a abarrotar de gente e de embrulhos, os brilhos e as luzes, as músicas e os votos de circunstância, a solidariedade apressada que se esquece no resto do ano, e o falso sentido de família, que na maior parte dos casos não faz sentido algum.
Lembro-me do tempo em que as Boas Festas não eram uma mensagem tipo, enviada igual para toda a gente (os "contactos"), sem qualquer selecção ou critério, na rapidez de um clic, mas personalizadas em belos postais escritos à mão. Do tempo em que o centro da festa era a magia da celebração de um Menino que nascia para nos salvar, e o presépio tinha musgo verdadeiro e se alongava por todo o móvel da sala de jantar. Hoje, mudou tudo, a família reduziu-se e os festejos adaptaram-se aos novos tempos.
Eu não preciso de festejos de calendário para querer bem às pessoas que me são especiais, para lhes telefonar, escrever, ou mandar mensagens, para as apertar nos braços e dizer como gosto delas e como são importantes para mim.
Neste tempo de tristezas e alegrias várias (lembro, por exemplo, a partida prematura do Pedro Rolo Duarte, que me marcou tanto, e a felicidade de saber que está tudo a correr bem com o novo coração do Salvador Sobral), de preocupação e liberdade (a minha mãe sempre no centro dos meus cuidados e o desejo de parar e descansar por uns dias, sem horários nem obrigações nenhumas) eu só quero que o Natal passe depressa e que os dias voltem a ser "normais" outra vez.

4 comentários:

  1. É tão isto o meu sentimento, que bom saber que não estou sozinha com este estado de alma em relação a esta quadra.

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    1. Provavelmente há muita gente a pensar como nós, Helena...

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    2. Há sim! Eu sou uma delas.
      O seu pensamento (post) calou fundo no meu coração.

      O Natal vivido com meus pais e avós está muito vivo e, ou por inabilidade minha e/ou atavios desmesurados o Natal de hoje não consegue envolver-me tão sentidamente como outrora.

      Um excelente Ano de 2018.
      Maria

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    3. Felizmente o Natal já passou. Falta agora o "ripipi trolaró" do Ano Novo e depois tudo volta à normalidade.
      Um óptimo Ano também para si, Maria, e para todos os que vão passando por aqui, mesmo silenciosamente. :)

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