Não há palavras que possam descrever esta tragédia, e a dor de ver o coração de Paris assim, destruído. É uma perda para França, mas acima de tudo é uma perda para a humanidade inteira. Porque Notre-Dame era de todos nós. Porque todos os que nela entrámos inúmeras vezes, e subimos às suas torres, e a olhámos incansável e demoradamente, a tínhamos como um tesouro pessoal e universal, símbolo da religião, da cultura e da arte, referência cimeira, resistente a todas as adversidades. Até agora...
Por isso o silêncio, a consternação e a ferida que se nos instalou ontem no peito, para mim são apenas semelhantes ao momento em que vi o Chiado arder.
Tal como acreditamos no mais fundo de nós que são eternos aqueles que amamos e a sua partida nos deixa sempre confusos e perdidos, também há lugares que para nós são indestrutíveis, e que marcam as nossas vidas, como uma tatuagem, ou uma cicatriz.
Notre-Dame será decerto reconstruída, daqui a muito tempo, mas nunca mais será como antes e, de igual modo, também Paris será irremediavelmente tocada por esta perda tão colossal. E com ela, o mundo inteiro.
Quem me conhece sabe o que Paris representa para mim, o amor que tenho a esta cidade deslumbrante, onde sempre quero e preciso de voltar, quase como se noutra vida eu tivesse nascido e vivido ali. Por isso, foram muitos os que ontem me ligaram e mandaram mensagens, de entre os que já estiveram comigo em Notre-Dame, os que lá estiveram sem mim, e os que nunca lá foram; por isso, emocionei-me como os que, ao vivo, ou através das televisões, assistiam comigo, em silêncio, ou em oração, ao que nem dava para acreditar: a destruição brutal e repentina do que tinha mais de oitocentos anos de história e era património da nossa memória e da nossa cultura, o monumento mais visitado de todos, lugar mágico de recolhimento e de superação, onde o humano e o divino se aliavam em sintonia perfeita.
Este é uma dano de certo modo irreparável. Tenho o sentimento de que no furor implacável das chamas morreu a "minha" catedral e, como todos os parisienses, como todos os franceses, como toda a gente, tenho o coração triste e "l'âme en deuil."
Adorando Paris e recordando esta majestosa Catedral de Notre -Dame, só posso dizer : - Quero muito voltar apesar das suas feridas.
ResponderEliminarEu quero sempre voltar, Maria Amélia. E, se Deus quiser, ainda lá volto este ano...
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