O 25 de Abril apanhou-me em plena adolescência, com uma incipiente consciência política por força da idade e das circunstâncias. Ainda assim, entre memórias mais nítidas ou mais difusas que guardo dos tempos da revolução e dos anos que se lhes seguiram, fica-me sempre a sensação de novidade, de incerteza e de esperança, mas, sobretudo, de festa desmedida.
E, no meio da rebaldaria total que era a escola por essa altura, para lá de todos os excessos da época, de tudo o que correu bem e mal, aqueles foram anos em que me diverti muito e que me orgulho de ter podido viver.
Hoje, 46 anos depois de um dia tão singular sob todos os pontos de vista ("o dia inicial inteiro e limpo" nas palavras de Sophia de Mello Breyner), a liberdade e a democracia tornaram-se tão óbvias e naturais como qualquer dado adquirido e, por isso, inquestionável. E, apesar de às vezes se tender a pensar, erradamente, que celebrar a liberdade é apanágio da esquerda e que o conceito é menos apreciado à direita, como se ela pudesse ser apenas de alguns e não de todos, apesar de muitos acharem que no "estado de emergência" a que estamos obrigados por causa da pandemia que nos aconteceu grande parte dos direitos, liberdades e garantias desapareceram ou estão em suspenso, eu diria, parafraseando um grande poeta injustamente esquecido - Ary dos Santos - que "agora ninguém mais cerra/ as portas que Abril abriu."
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