domingo, 15 de novembro de 2020

Do Recolher Obrigatório


Vivemos, todos, cansados da pandemia e ávidos do regresso a uma normalidade que tarda em chegar. Neste primeiro fim de semana de recolher obrigatório a partir das treze horas, pude verificar essa ânsia de voltar à vida de antes e a sofreguidão de tentar aproveitar a liberdade possível, fazendo numa manhã, ou em duas, o que habitualmente se estende por dois dias inteiros.
No primeiro dia, não saí de casa, obediente e bem comportada. Mas também porque  não me fazia sentido ir para a rua só porque sim; e porque dormir até mais tarde, ao fim de semana, é um dos meus grandes prazeres. Só que aquilo que sabemos não poder fazer é sempre o que nos apetece mais. Por isso, hoje, fiz como toda a gente, decidida a aproveitar a rua enquanto era tempo. E pude testemunhar, ao vivo e a cores, o que já imaginava: Lisboa inteira (ou quase) enchia todas as esplanadas por onde passei; havia filas à porta dos supermercados, a fazer lembrar o primeiro confinamento; muita gente a fazer desporto; muitos outros a passear as crianças; anúncios publicitários a ser filmados; no Villaret corria a gravação do Programa de Ricardo Araújo Pereira. Até com a Ministra da Saúde me cruzei (juro!).
Mas, de tudo o que vi, nessa mistura entre o desespero e a festa, o que mais me impressionou foi o ambiente dentro da Versailles, com o balcão completamente cheio de gente que quase se atropelava  para ser atendida, numa voracidade a que só se costuma assistir na véspera das Festas, e gastando quantias mais ou menos exorbitantes em bolos e doces "para levar".
Podem as últimas medidas tomadas para deter a pandemia ser absurdas, discutíveis, ou ineficazes. Do que eu tenho a certeza é que, depois de tudo isto, o número de obesos vai certamente triplicar.

2 comentários:

  1. Gostei muito do seu texto, Isabel.
    A cidade com gente anima-me e desespero para que esta desgraçada peste nos abandone de vez. Quase um ano em que a vida se nos escapou deixando um enorme amargo de boca e muitas lágrimas.

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    1. Obrigada,Maria Amélia. Tem razão, mas na verdade temos que ter paciência e cuidado, que é o único a fazer neste caso.

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