segunda-feira, 26 de abril de 2021

Férias férias férias



As primeiras férias de cada ano têm sempre um sabor especial, ainda mais agora que estamos todos fartinhos de confinamentos e clausuras. Por isso, por mais pequenas que sejam, nada como um pouco de arejamento e mudança de ares para ganhar novo ânimo.
Gosto de férias sempre, mas não dispenso as da Primavera, que são de longe as minhas preferidas, não sei se por serem as primeiras, se por gostar tanto da estação, ou tudo junto. Este ano, os estados de emergência e os números pouco animadores sobre a evolução da pandemia empurraram-nas do início de Março para o final do mês de Abril, o que faz com que sejam ainda mais desejadas.
E há lá coisa melhor que interromper os gestos e os hábitos de todos os dias, deixar de lado horários e obrigações, poder usar o tempo a bel-prazer e ir por aí, com a sensação de liberdade, como se de repente  fossemos donos de nós e do mundo e nada fosse impossível. 
Sinto muitas vezes a necessidade de partir assim, em saídas curtas que me permitem sentir outros cheiros e ver outras vidas, deleitar-me diante do mar, caminhar pelas cidades que amo, ou pelas que não conheço ainda, reparar em todos os detalhes, ver, experimentar, aprender. E depois, então, voltar, mas revigorada, reconfortada, em paz. Tão bom!...

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Tempo(s) de contenção




Vivemos, hoje, um tempo em que olhamos desconfiados uns para os outros. Tememos a proximidade, mesmo quando a desejamos mais que tudo, e hesitamos entre ceder à vontade do toque ou refrear vontades, guardando-as para tempos mais propícios e isentos de medos e limitações; reduzimos anseios ao mais imediato, sem saber o que esperar do que vem já a seguir; moderamos os gestos e os movimentos, na prudência e na sensatez de quem tem que aprender a viver de outra maneira, por força das circunstâncias.  E assim vamos deixando passar os dias, esperando poder enfim voltar ao que era dantes, como quem acorda e descobre que afinal foi só um pesadelo, desejosos de retomar a vida no ponto em que a deixámos quando eramos felizes sem o saber, quando os afectos se viviam sem apreensão, na sua espontânea irracionalidade, em todas as vezes que  sentimos que é no toque da pele que melhor nos entendemos, que compreendemos que é nos instantes em que os corpos se encontram e os sentidos se confundem que tudo faz verdadeiramente sentido, e é emoção pura, sem precisar de palavras...

Vivemos agora na incerteza, na ansiedade e no desânimo, mas não podemos deixar que eles nos vençam.  Há, ainda, no coração indomado e inquieto, a intuição e o desejo secreto de que o que quer que venha a ser o que virá será bom, marcado, como sempre,  pelo  afecto e a cumplicidade, que se destapa a espaços na emergência do corpo que se deixa levar pelo amor, no despropósito do que às vezes se faz presença real e proximidade total, sem querer saber de depois, para logo voltar à realidade, e se ocultar, e reprimir, agora sim, agora não, num turbilhão das sensações imoderadas e sensatas de querer prender e soltar, de ser tudo e não ser nada, simultaneamente.

Ensinam-nos tudo sobre o corpo e a cabeça, mas não sabemos nada sobre a emoção, o sentimento e o desejo. Não apenas o desejo concupiscente, que é ao que ele é por norma reduzido, mas o desejo lato sensu, que é muito mais vasto que isso, que domina a nossa vida de maneira diversa e muito, muito, abrangente.  E, ainda assim, apesar das todas as dificuldades  que nos limitam e condicionam, há que saber quem nos importa e o que nos faz falta, readaptarmo-nos, e aproveitar o que a vida tem de bom, assumir vontades, não se escusar  nunca ao prazer, nem ao que nos faz mesmo felizes.