quarta-feira, 14 de abril de 2021

Tempo(s) de contenção




Vivemos, hoje, um tempo em que olhamos desconfiados uns para os outros. Tememos a proximidade, mesmo quando a desejamos mais que tudo, e hesitamos entre ceder à vontade do toque ou refrear vontades, guardando-as para tempos mais propícios e isentos de medos e limitações; reduzimos anseios ao mais imediato, sem saber o que esperar do que vem já a seguir; moderamos os gestos e os movimentos, na prudência e na sensatez de quem tem que aprender a viver de outra maneira, por força das circunstâncias.  E assim vamos deixando passar os dias, esperando poder enfim voltar ao que era dantes, como quem acorda e descobre que afinal foi só um pesadelo, desejosos de retomar a vida no ponto em que a deixámos quando eramos felizes sem o saber, quando os afectos se viviam sem apreensão, na sua espontânea irracionalidade, em todas as vezes que  sentimos que é no toque da pele que melhor nos entendemos, que compreendemos que é nos instantes em que os corpos se encontram e os sentidos se confundem que tudo faz verdadeiramente sentido, e é emoção pura, sem precisar de palavras...

Vivemos agora na incerteza, na ansiedade e no desânimo, mas não podemos deixar que eles nos vençam.  Há, ainda, no coração indomado e inquieto, a intuição e o desejo secreto de que o que quer que venha a ser o que virá será bom, marcado, como sempre,  pelo  afecto e a cumplicidade, que se destapa a espaços na emergência do corpo que se deixa levar pelo amor, no despropósito do que às vezes se faz presença real e proximidade total, sem querer saber de depois, para logo voltar à realidade, e se ocultar, e reprimir, agora sim, agora não, num turbilhão das sensações imoderadas e sensatas de querer prender e soltar, de ser tudo e não ser nada, simultaneamente.

Ensinam-nos tudo sobre o corpo e a cabeça, mas não sabemos nada sobre a emoção, o sentimento e o desejo. Não apenas o desejo concupiscente, que é ao que ele é por norma reduzido, mas o desejo lato sensu, que é muito mais vasto que isso, que domina a nossa vida de maneira diversa e muito, muito, abrangente.  E, ainda assim, apesar das todas as dificuldades  que nos limitam e condicionam, há que saber quem nos importa e o que nos faz falta, readaptarmo-nos, e aproveitar o que a vida tem de bom, assumir vontades, não se escusar  nunca ao prazer, nem ao que nos faz mesmo felizes.

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