No momento em que o mundo está suspenso do que se vai passar com a Rainha de Inglaterra nas próximas horas e em que se supõe que o momento do fim está prestes a chegar, não posso deixar de pensar numa outra "rainha" e no tanto que ambas têm em comum, para além de serem da mesma geração e detentoras de uma longevidade que as levou até escassos quatro ou cinco anos de cumprir cem. Uma proeza!
Claro que uma é conhecida e admirada pelo mundo inteiro e a outra é "rainha" num círculo muito mais restrito de quem a conheceu de perto e, principalmente, continua a ser rainha para mim, no fundo meu coração e em todas as memórias do que vivemos juntas. Claro que uma é nobre e outra é plebeia, mas têm, na verdade, muito mais em comum do que pode parecer à primeira vista: as duas são exemplos de coragem e de resistência, de força, de generosidade e de bom humor. E por isso deixam uma marca indelével, cada uma na sua dimensão.
Sei muito bem como se vivem estas horas de agonia: sei da aflição de querer estar perto e de tentar de alguma maneira atenuar o sofrimento; sei da impotência de ter a noção que não se pode fazer nada a não ser estar ali; sei da tristeza imensa de pressentir que vamos ter que nos separar sem saber quando é que isso vai acontecer de facto; e de querer por todas as formas mostrar ainda que o amor que nos une é mais forte que tudo.
E também sei como é o que vem depois. Sei como a saudade e a tristeza nos invadem em certas horas e dias; sei da doçura das recordações do que fez a nossa história, sei da preocupação de querer fazer sempre exactamente o que ela gostaria que fizéssemos sem perdermos a nossa individualidade, e do orgulho de termos podido viver tanto tempo em conjunto.
E por mais dolorosas que sejam estas horas finais, o sentimento mais reconfortante que fica connosco todos os dias da nossa vida é que quem foi rainha um dia será, para nós, rainha para sempre.
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