Estou farta de ouvir falar da crise. Eu sei que há pessoas a viver situações verdadeiramente difíceis e mesmo dramáticas. Claro que tudo é relativo, mas no fundo todos sentimos, de forma mais ou menos acentuada, as sucessivas medidas de austeridade. As que já chegaram e as que estão para vir. Eu também. Tenho emprego, graças a Deus, mas sou funcionária pública, sempre ganhei mal e é-me cada vez mais complicado cumprir todas as obrigações, pagar tudo o que é preciso pagar e continuar a viver satisfatoriamente. Só que detesto falar nisso.
E depois, sou uma optimista, estou habituada a viver com pouco e fui educada no princípio de há coisas muito mais importantes do que o dinheiro. Obviamente, nunca fiz nem metade das viagens que queria ter feito e gostaria de ter coisas que nunca tive e que, provavelmente, nunca terei. Como toda a gente, às vezes também me irrito com coisas ou pessoas com as quais não vale a pena aborrecer-me e enervo-me para lá do razoável.
E, no entanto, apesar da crise e das pequenas questões de cada dia, não posso deixar de me sentir uma privilegiada e de achar que a vida é maravilhosa. Por isso, não consigo sentir-me deprimida e continuo a ter esperança e a acreditar que um dia tudo vai ser melhor.
Vem isto tudo, também, a propósito de uma notícia que marcou os últimos dias e de Margarida Marante, cuja morte me impressionou. A morte parece-nos sempre de certo modo prematura. Morrer cedo impressiona mais, apesar de estranhamente, ou talvez não, ter achado que se falou pouco nela. Era uma figura controversa, descrita muitas vezes como arrogante e de difícil trato, gerando consensos e unanimidades apenas no que dizia respeito à sua inteligência e profissionalismo.
O texto mais bonito que li sobre a Margarida, publicado hoje no DN e assinado por Nuno Azinheira, dizia que Margarida Marante foi "vítima da suas próprias escolhas" e que, na realidade, não nos deixou na 6ª feira, mas em 2001, quando abandonou a televisão.
"As fotos e as imagens que vimos de Margarida Marante nos últimos anos eram chocantes. (...) Porque nos colocaram perante a evidência das fragilidades da condição humana, porque nos deram dela a imagem diametralmente oposta daquela que vimos durante tantos anos: séria, competente e frontal." Marcou uma época e, de alguma maneira, marcou-nos a todos.
Mas um dia o coração pára. E, por isso, esqueçamos um pouco a crise e centremos mais a nossa atenção e energia nas coisas boas da vida: a saúde em primeiro lugar, o amor, a mudança das estações, o sol e o mar, as cores do mundo, a companhia das pessoas de quem gostamos e tantas, tantas outras coisas, que fazem da vida uma maravilhosa dádiva de amor, e que temos de saber aproveitar ao máximo!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita... (O que é o que é, de Gonzaguinha)
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