Não sou uma daquelas pessoas que trata toda a gente por tu. E, do mesmo modo, também não gosto muito que pessoas que não me conhecem, ou que me conhecem mal, me tratem logo assim. Não sei se é por mania, por educação, ou qual o motivo que explica tudo isto.
Quando era pequena, comecei a tratar a minha mãe por tu e o meu pai por você. Ao perceber essa diferença, quis entendê-la, primeiro, e emendá-la, depois. A justificação que encontrei para o facto era, pelo menos, lógica: na verdade sempre vivemos muito mais próximos da família materna do que da paterna e a proximidade física, já que até o prédio era o mesmo, fez-nos começar a utilizar, naturalmente, as formas de tratamento que estávamos habituadas a ouvir. E depois já não foi possível emendá-las, porque o hábito, por mais estranho que fosse, estava instalado. Para sempre.
Se calhar foi isso que "baralhou" tudo. Na verdade, há pessoas que eu trato por tu e outras não, apenas porque me parece que é o que deve ser.
Além disso, há coisas que creio não fazerem sentido. Quando andava no liceu, por exemplo, um dos melhores professores que tive, daqueles que recordamos a vida toda, queria que lhe chamássemos "Tózé". Gostava imenso dele, era tudo o que eu acho que um professor deve ser, mas aquela forma de tratamento parecia-me deslocada e descabida. Não fui capaz.
Também não trato os meus alunos, nunca, por tu. Não consigo. Alguns acham isso estranho. Outros não gostam. Mas habituam-se. Eles a mim, nem pensar.
Dir-se-ia que o tu é uma forma de tratamento que exige maior intimidade, que vem com o tempo, mas não é sempre assim. Nos locais de trabalho há pessoas que costumo tratar por tu e outras não. E custa-me, às vezes, mudar de um registo para outro. Sempre que surge o "por que é que não nos tratamos por tu?" e se decide mudar, levo tempo a habituar-me e vou misturando as duas coisas. Mas acho que isto, ou algo parecido, deve passar-se com toda a gente.
E outra questão de certo modo relacionada com esta é a dos beijos. Habituei-me, desde a minha mais longínqua infância, pelo menos desde que me lembro, a dar um beijo às pessoas que me são íntimas e dois às outras todas. Ou seja: um beijo está obrigatoriamente associado a um sentimento. Dois não. É um mero ritual de saudação, uma simples cortesia, um gesto quase maquinal, esvaziado de emoção. Há pessoas que acham que dar um beijo é mais "chique" e dois mais "popularucho". Para mim não é nada disso. É o que distingue o afecto do cumprimento. Só. E se em vez de um, ou dois, der muitos, isso então já é amor. E um caso sério, mesmo!...
Existem pessoas que jamais tratarei por tu. Terá a ver com respeito, admiração, idade, enfim, com outro qualquer patamar acima do meu. Outras, por deferência social, não permitindo grande aproximação. Trato por tu os meus irmãos, os meus filhos e os mais amigos.
ResponderEliminarQuanto a beijos, é o que quiserem, tanto me faz. Faz mais diferença o local onde dou do que o número. Uma curiosidade: nunca se beija a mão de uma mulher; quando muito, aproxima-se a nossa face das costas da mão nunca tocando. É que já vi muito senhor armado em fino a lambuzar com sonoro beijo a mão de algumas. :))
Beijinho!
Ahah! também já assisti a isso dos "senhores armados em finos" sem terem a mínima noção (ridículo!).
EliminarE gostei dessa do "faz mais diferença o local onde dou do que o número". Falava sobretudo dos beijos como cumprimento. Os outros podem ser em todos os locais que se queira (dar e/ou receber) e, por muitos que sejam, conta um de cada vez.
Gosto de beijos no pescoço, por exemplo. E ficamos por aqui, que é melhor :))
Olhe, um beijinho (só um!)
Interessante! Identifico-me com a sua abordagem sobre este tema. Fui criada a não tratar pais, avós, tios e pessoas mais velhas por tu. As vizinhas com cabelos brancos , entenda-se o que significa ter os cabelos dessa cor ,eram tratadas por tias, tia fulana, tia sicrana, numa forma respeitosa e carinhosa ...Por isso, tenho imensa dificuldade em tratar, num primeiro impacto, tu cá tu lá seja quem for...Às vezes é aborrecido porque coloca uma certa barreira ...Quanto ao pedido do professor, não acho graça nenhuma! E permita-me a expressão, cada macaco no seu galho...Mas houve esta mania, logo após o 25 de Abril de 74.
ResponderEliminarNão concordo muito com isso da "barreira"... É uma coisa natural. A intimidade vai-se conquistando, não é nunca automática.
EliminarBeijinho
Pois, talvez tenha razão!Mas depois de uma certa intimidade, quando não se justifica o tratamento torna-se difícil voltar atrás no tu cá tu lá. tenho situações dessas nos meus relacionamentos e com pessoas da minha idade.Acontece que não consigo.O tratamento em português é complicado.
ResponderEliminarMeu pai foi emigrante no Canada e por lá aprendeu inglês para se desenrascar.Dizia que gostava imenso daquela língua, mas não achava graça nenhuma os filhos tratarem os pais por tu. Ria-me, claro!
Sim, concordo que ao fim de um certo tempo é difícil mudar a forma de tratamento. Mesmo havendo intimidade o tratamento pode ser o que se quiser. Conheço, por exemplo, irmãos que não se tratam por tu, simplesmente porque não foram educados assim. E não são menos íntimos por causa disso.
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