domingo, 21 de setembro de 2014

O fim dos cadeados


Finalmente a Mairie de Paris lá se decidiu a acabar com a moda dos cadeados, que surgiu em 2008 e  rapidamente se tornou uma praga. Pior que isso, estava a transformar uma da mais bonitas e emblemáticas pontes desta cidade,  (Pont des Arts) num lugar perigoso.
Só para se ter uma ideia, em apenas alguns meses foram colocados setecentos mil cadeados em pontes. Nestas, principalmente: des Arts, de l'Archevêché, de Solférino e na Passerelle Simone de Beauvoir.
Quando em Junho estive em Paris pela última vez, uma parte do gradeamento da ponte des Arts havia cedido cerca de duas semanas antes com o peso dos cadeados. Mas, para meu grande espanto,  verifiquei que em vez de retirarem os cadeados em excesso, tinham optado por reforçar as grades, onde já se acumulavam tantos cadeados que não havia um único espacinho livre para colocar mais.
Porém, recentemente, quinze painéis de grades tiveram que ser removidos, porque estava em risco a própria estrutura da ponte. Em cada um de destes painéis havia cerca de 500 kg de cadeados, o que representa mais ou menos quatro vezes mais que o peso limite admitido.
Nessa altura, a Câmara de Paris parece ter por fim entendido a real dimensão do problema, tendo substituído as grades em falta por painéis de madeira, provisórios, ao mesmo tempo que lançava uma campanha apelando a que os cadeados fossem trocados por selfies,  - uma moda mais actual - e partilhadas no site www.lovewithoutlocks.paris.fr.
Por estes dias a Mairie está a experimentar a colocação de painéis em vidro na ponte des Arts, em vez das antigas grades, permitindo resolver a questão da degradação do património e do risco para a segurança dos passantes, mantendo a possibilidade de se poder desfrutar da magnífica paisagem. Se resultar, estender-se-á depois aos outros locais com cadeados.
Oxalá resulte! Na verdade, eu que até me considero uma romântica não tenho grande paciência para estas manifestações de amor estereotipadas e, quanto aos cadeados, vem-me à ideia aquele dito popular que diz que "tudo o que é demais, cheira mal."

10 comentários:

  1. Por isso, é que "não há pivête que sempre dure" (eheheh!..)
    Beijinho :)

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    1. Esse dito não conheço... :P

      Beijinho

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    2. Realmente, a fé é que nos salva… Afinal, estas "manifestações de amor estereotipadas" alimentam a esperança de muita gente.
      (Também não conheço esse dito. Acho que inventei.)
      Beijinho, até amanhã. :)

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    3. Não será exactamente uma questão de fé, digo eu, que pareço claramente estar "do contra"... :)
      Enfim, nada contra quem o faz, cada um faz o que entende desde que não incomode, mas neste caso já incomoda (e muito!). Parece-me em todo o caso que se faz porque os outros fazem e, para mim, isto vem na linha dos coraçõezinhos do Dia dos Namorados e de tratamento por "mor". Não faz o meu género...
      No amor, como no resto, a criatividade é uma coisa óptima, com toda a subjectividade que isto possa acarretar ;)

      Beijinho

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  2. Em Lisboa também já há vestígios de cadeados... passagem ao cimo do elevador de Santa Justa. Por ora são só dois tímidos cadeados...

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    1. Há me mais sítios, Cristina. Eu vi alguns (poucos, por enquanto) no Miradouro da Senhora do Monte. Julgo que nunca atingiremos, por aqui as quantidades de Paris, mas caso acontecesse, mais depressa ruía tudo, antes que a CML fizesse o que quer que fosse...

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  3. A semana passada era para ter ido a Paris em trabalho. Infelizmente tinha e tenho tanta coisa para fazer por cá que não tive alternativa a delegar essa viagem num colega. Apesar de viajar em trabalho não ser propriamente turismo, e já se sabe que pouco ou nenhum tempo sobra para por vezes dar sequer um pequeno passeio, esta custou-me. Ando com saudades de viajar... Mas também é interessante ver como Lisboa é popular na hora de se marcarem reuniões e eventos profissionais. Esta semana vou ter dois por cá, pelo que estou condenado a jantar bem por estes dias :-)

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    1. Ora viva, Sérgio!
      Esteja à-vontade: se precisar de alguém que o substitua nessas idas a Paris, eu candidato-me. É que é a cidade que trago no coração. logo a seguir a Lisboa e estou sempre pronta para ir, nem que seja simplesmente para respirar aquele ar, cheio de charme e de "raffinement".
      Quanto a Lisboa, já se sabe, está na moda e percebe-se porquê: mistura o rétro (tão na moda), o típico e o romantismo decadente. E tem esta luz inigualável e encantadora; e tantas, tantas outras coisas... :-)

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  4. Isabel, a moda dos cadeados, como lhe chama, não é recente. Simplesmente tardou em chegar a Paris. Remonta a tempos imemoriais, desde a Grande Muralha da China a Itália (Florença, Verona, Roma, etc). Neste caso, as autoridades incentivaram mesmo o seu uso, como cartão turístico, construindo locais para o efeito. Existirá expressão mais bonita em italiano do que "lucchetti d'amore"...? Inabilmente, os autarcas de Paris subestimaram as suas atracções turísticas, deixando desde há poucos anos proliferar estas manifestações em locais sem condições (como as pontes que referiu), criando, inclusive, todo um comércio propício ao seu desenvolvimento. Foram tarde, a minha chave jaz no fundo do Sena... :)

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    1. Eu sei que não é coisa recente, Paulo. Segundo li, surgiu no século XIX na Hungria, em Pécs, onde os militares deixavam os cadeados dos seus armários, como recordação do serviço prestado na cidade. Não sei se é ou não verdade. Penso, em todo o caso, que de forma generalizada surgiu mais ou menos a partir de 2000, pelo menos nas cidades que conheço. Mas em nenhuma com a dimensão que atingiu em Paris. Tenho fotografias do Pont des Arts de há dois anos e deste ano que mostram bem como, em tão pouco tempo o número de cadeados mais do que quintuplicou. Desta vez, de resto havia quase mais vendedores de cadeados nas(s) Ponte(s) do que propriamente turistas. E é por isso que falo em "moda".
      Em Sevilha, por exemplo, quando os cadeados começaram a ser excessivos o Ayuntamiento tratou de retirá-los e por isso agora quase não existem.
      Em Paris não fizeram nada até a Ponte começar a desabar. E agora tentam remediar o irremediável. A solução dos painéis de vidro não é má de todo. Mas sinceramente eu preferia as antigas grades de ferro, tão características daquele lugar. :)

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