sábado, 11 de fevereiro de 2017

Depardieu e Ardant


Já há muito tempo que não via aquilo a que no grupo de amigos que me é  mais próximo costumamos designar como "um filme p'rá carola".
Eu devia ter desconfiado: Paulo Branco tem a mania que é intelectual e um filme produzido por ele só podia ser qualquer coisa deste género.  Havia, porém, dois nomes de que gosto muito; e foi isso que me tentou. 
Por mais polémico que Gérard Depardieu possa ser, por mais que a sua figura esteja nos antípodas dos cânones de beleza, charme ou sedução, tem um talento inegável, muito acima da média, que faz com que não perca quase nenhum filme com ele, porque é sempre um espectáculo de interpretação. Tem ainda a característica peculiar de deixar coladas à sua pele as personagens que já fez, em especial Cyrano de Bergerac, uma personagem e um filme inesquecíveis. Há portanto neste Estaline de agora qualquer coisa dos filmes anteriores, aquele panache de Cyrano, ou até um pouco da brutalidade de Obélix.
E há depois Fanny Ardant, de quem recordo sempre os papéis nos filmes de Truffaut, sobretudo, como La femme d'à côté ou Vivement Dimanche, por exemplo. Mas até agora conhecia-a apenas na sua faceta de actriz, e no seu porte de grande dama, que mistura requinte e  altivez, tudo muito français. Não conhecia ainda o seu trabalho como realizadora, apesar deste ser já o seu terceiro filme.
"O divã de Estaline" (Le divan de Staline, no original) é um filme franco-português, rodado integralmente no palácio e  na mata do Buçaco, com a participação de actores portugueses, como Lidia Franco ou Joana Verona, ainda que  em pequenos papéis, com Emmanuelle Seigner  e Paul Hamy. É, no entanto, apesar dos nomes de peso e das performances à altura dos nomes envolvidos, um filme de estranhas atmosferas, sombrio e um pouco maçador, que conta o jogo perverso que se estabelece entre Estaline, a sua amante Lídia e o pintor Danilov, adaptado do romance com o mesmo nome de Jean-Daniel Baltassat e, na minha opinião, muito pouco convincente.
Fanny Ardant, que muito prezo enquanto actriz,  não me convenceu, de facto, como realizadora. Temos pena...

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