Mal vão os amores que precisam de um dia para ser lembrados. Este "Dia dos Namorados", para lá da piroseira do nome e do conceito, é uma tremenda aberração, porque é justamente a antítese do que o amor deve ser.
O mais bonito e o melhor do amor é a sua inevitabilidade, e tudo o que há nele de inesperado e surpreendente, sem tempo nem espaço, nem nada que se possa prever ou antecipar. É por isso que me repugnam tanto os amores de "centro comercial", com dia e hora marcada, corações e ursinhos, bombons e flores, menus "afrodisíacos", noites "especiais" promovidas por um hotel qualquer e escolhidas por catálogo. Quem comemora o São Valentim dirá também "amor", ou mesmo "mor", cada vez que se dirige ao objecto do seu afecto, que passa a não ter nome, porque "toda a gente faz assim".
E afinal, para quê tudo isto se cada amor é único, o primeiro e o último em simultâneo, por ser diferente de todos os outros e chegar quando e de onde menos se espera, nos virar do avesso e ter mil maneiras de se viver e manifestar. Pode ser caos e redenção, fraqueza e força, todos os sentimentos e os sentidos de repente confundidos, lágrimas e riso, solidão e companhia, dor e deslumbramento, nada e tudo, e o arrepio do desejo sempre diferente, apesar de sempre repetido, em momentos de entrega e de plenitude total . Mas vivido no secretismo exclusivo de uma intimidade própria, a dois, fora do tempo, ou para além dele.
Por isso não é preciso um amor de plástico, nem o faz de conta para o mundo ver. Basta-nos a certeza de nos termos na vida um do outro, de nos entendermos e conhecermos tanto e tão bem, e de tanto que só nós sabemos e vivemos, sem precisar sequer de o dizer. Porque os sentimentos mais íntimos são como um nó que nunca se desfaz. E porque há amores assim, sem limites nem amarras, que chegam à nossa vida, se instalam e ficam nela, a fazer-nos desmedidamente felizes. E que podem comemorar-se sempre e nunca, mas sem dias marcados...
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