domingo, 26 de fevereiro de 2017

Profundamente tocante


Desde o "Quarto" (Room-2015) que um filme não me impressionava tanto. É certo que ambos se baseiam em histórias verídicas, e esse é provavelmente um dos motivos que adensa o drama.
Mas o que há de mais belo e amargo neste Lion - a long way home, uma co-produção da Austrália, Estados Unidos e Reino Unido, realizado por Garth Davis e baseado na obra autobiográfica de Saroo Brierley, é a força e expressividade de Sunny Pawar, o pequeno actor que interpreta a personagem principal na primeira parte do filme. É impossível não vivermos com ele a aflição de se ver de repente sozinho e perdido, a 1500 km de casa, sem saber mais que o seu nome próprio e a sonoridade aproximada do lugar onde morava, não nos deixarmos levar pela autenticidade daqueles lindos olhos negros e pelo sorriso inocente e genuíno de que só os bons meninos são capazes, que nos faz sorrir, chorar ou enternecer-nos com ele, que nos dá vontade de lhe pegar ao colo para lhe apaziguar a dor, e trazer também para nossa casa como fez aquele casal australiano. Nicole kidman é, também ela, brilhante, como sempre. E há, depois, Dev Patel e a humana determinação que dá à sua personagem. Mas é aquele menino a verdadeira estrela da história, a que mais nos prende e abala.
Este é um filme absolutamente emocionante e imperdível, que retrata a pobreza e a miséria humanas e nos deixa a pensar sobre o que (não) fazemos para a evitar, que não cai nunca na lamechice piegas, e que, ainda assim, consegue ser poético e delicado, que é o que o torna tão especial; um  filme sobre o qual ficamos a pensar mesmo depois de ter acabado, porque guardamos connosco a doçura triste e a coragem daquele Saroo pequenino, e o seu grito lancinante, a chamar repetidamente pelo irmão que nunca mais volta: Gudduuuuuu!.... Tão autêntico, tão frágil, tão humano.

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