terça-feira, 7 de maio de 2019

7 anos, 0 meses e 0 dias


Faz hoje exactamente 7 anos que, numa segunda-feira, em Maio de 2012, dia mais ou menos tristonho e chuvoso, como este,  decidi experimentar ter um blogue. O meu primeiro texto era sobre a poesia e a chuva. Chamava-se "Chove em Lisboa"; e dizia assim:

Da janela do meu 8º andar na Praça de Alvalade, olho a chuva lá fora, num tempo que devia ser de sol, e lembro-me de um poema de José Gomes Ferreira:

"Chove...
Mas isso que importa!
Se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu

(...)
Chove
Mas é do destino
De quem ama
Ouvir um violino
Até na lama"

O que seria de nós sem os nossos poetas?

Sete  anos depois, estou de novo na Praça de Alvalade, desta vez no 1º andar, deixando o olhar e o pensamento vaguear entre o computador que tenho à  minha frente e a vida lá de fora, que frequentemente me distrai e alicia. E, no entanto, nada é igual ao que era nessa altura, porque em sete anos muda muita coisa, no mundo e em mim, como é natural.
Escrever sempre foi uma paixão, momento de dor de prazer e de libertação, de encontro comigo e com as palavras, que me acompanha a existência desde que, há muito tempo, aprendi a ler e a escrever. Escrever é não saber para saber.  Mas (...) o que se encontra é ainda a procura, diz Vergílio Ferreira, o meu autor português preferido.
Tenho levado a vida a escrever, embora de forma irregular, sem nenhuma obrigação e apenas pelo gosto de arrumar as ideias e de (me) pensar. O blogue trouxe-me um mundo novo que me era até então totalmente desconhecido e, com o tempo, fui-me afeiçoando a ele, sentindo-o como uma parte de mim, lugar de interioridade e de partilhas, mas também de abertura  e de exposição, com todos os riscos que isso comporta. Ainda assim, sete anos depois, continuo por aqui, mesmo se o entusiasmo inicial esmoreceu um pouco, e se o tempo e as voltas que a vida dá nem sempre me permitem dedicar-lhe tanta atenção como gostaria. O que dizer então do "meu mais novo", criado quase quatro anos depois, com uma vertente mais dirigida à língua portuguesa que eu tanto prezo, mas que ainda só tem 23 textos, um número bem diferente dos 1200 do seu "irmão mais velho"...
Enfim, com tudo o que de bom e mau me trouxe esta experiência, continua a ser positivo o balanço que faço deste tempo em que a data coincide com o número de anos (sete anos no dia sete, que é também o meu dia)  - esta magia numérica tem de ser assinalada - e por isso, enquanto me apetecer, com maior ou menor presença, vou estando por cá...
 E, porque foi com e por causa dos poetas que tudo começou:

Levam as frases sentido 
que uma cadência lhes dá
É justo, injusto - o escolhido?
Como quereis que, vivido,
ele não seja o que será?

                                          (Jorge de Sena)

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar se esquece.
Chove. Nada apetece...

                                           (Fernando Pessoa)

Ou se tem chuva e não se tem sol
Ou se tem sol e não se tem chuva!
(...)
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

                                        (Cecília Meireles)

11 comentários:

  1. Parabéns e que continue por aqui muito tempo:))

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    1. Obrigada Isabel. É muito bom saber e /ou sentir que há gente que passa por cá. :))

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  2. Muitos parabéns.
    E que o nunca lhe falte o entusiasmo.
    É um gosto vir aqui.

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    1. Muito obrigada, Malema. Também é um gosto recebê-la por aqui.
      Um beijinho :)

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  3. Ler os seus texto sobre cinema, poesia, concertos, observações do quotidiano, sobre a cidade de Lisboa e outras cidades além fronteiras, o seu testemunho de perdas e mudanças na vida e muito mais, faz parte de um dos vários momentos agradáveis do meu dia. Obrigada e continue a fazer parte do meu dia.

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    1. Muito obrigada eu, pelas suas bonitas palavras, que são também um incentivo para mim. :)

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  4. O blog é muito bonito, mas, por falar em 0 dias, a nossa amiga ainda não se pronunciou sobre a bomba do momento...

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    1. Sérgio, pois não. Não sei se já reparou, mas é raro eu pronunciar-me sobre as "bombas do momento". É que não tenho pachorra... Quem sabe, talvez um dia. :D :D

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    2. Quanto ao que diz do meu blog, gracias. :)

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  5. Já passou um mês sobre a comemoração, mas não posso deixar de a felicitar, Isabel. Que continue pela blogosfera por, pelo menos, outros tantos anos.

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    1. Muito obrigada, Luísa. Sim, sim, por aqui vamos andando... ;)
      Beijinho

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