sábado, 13 de junho de 2020

Lisboa silenciosa



Desde sempre, que eu me lembre, nunca os "Santos" foram assim. Hoje, dia da sua festa maior, Lisboa estava vazia e silenciosa, quase triste.
Sem marchas, sem arraiais, sem arcos e balões, sem ruas enfeitadas, sem uma festa em cada esquina, sem vendedoras de manjericos na Praça da Figueira, sem procissão, sem algazarra e sardinhadas, sem ser poder sequer entrar na Sé. Desta vez, faltou a noite em que Lisboa não dorme nem descansa, as cores garridas, os bailes até ser dia. Desta vez, falta a alegria de sempre, toda a gente na rua e a festa desmedida que sempre havia nestes dias. Hoje, apenas temos  o Tejo e esta luz magnífica de uma cidade plena de magia, abençoada por Santo António e São Vicente, caprichosa e sedutora, que enamora de igual modo os que a conhecem bem e a têm como sua e os que a visitam e se lhe apegam para sempre.
Orgulho-me muito de ter nascido e de viver aqui, neste lugar tão romântico e encantador, que eu sei de cor e conheço a pé, nos seus mais escondidos recantos, nas vielas estreitas de Alfama e nas largas avenidas e praças, com o Tejo sempre à espreita, Lisboa Menina e Moça (...) cidade mulher da minha vida, fazendo-se desentendida e adormecendo embalada pelas suas águas quietas, em incessante e antigo namoro.
São muito estranhos os tempos que vivemos. Mas ainda que às vezes tudo nos pareça um pouco desanimador e difícil de levar, há que continuar a acreditar. Há-de voltar a festa do Santo António e a alegria de antes. E, até lá, teremos sempre a nossa Lisboa e os seu magnífico e inigualável entardecer.

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