Já foi há muitos anos, mas ainda me lembro muito bem do primeiro dia em que fui à escola. Recordo o nervosismo e a ansiedade de me ver de repente naquele mundo inteiramente novo, que eu tanto tinha ansiado e que, naquele momento, tanto temia. Havia muita gente que eu não conhecia e uma imensa algazarra de vozes, campainhas, gestos, movimentações. Lembro-me de me terem levado para uma sala onde havia muitas crianças e de não ter respondido quando chamaram o meu nome. Por vergonha. E na atrapalhação de não saber muito bem o que fazer, para onde ir, onde me abrigar. Era uma enorme sensação de desamparo.
Depois, a sala de aula, na segunda porta à esquerda do corredor do rés-do-chão, com enormes janelas para o pátio de arcadas sustentadas por grossas colunas, que durante anos foram cenário de muitas aventuras. As primeiras semanas foram, no entanto, difíceis. A verdade é que me sentia um pouco perdida e sozinha no meio de tanta gente que me era estranha. Passei-as, quase sempre, no colo da minha professora, que soube compreender o que eu sentia e procurou, com carinho e paciência, amenizar a minha dor. E, aos poucos, tornar tudo natural.
Dessa professora, que se chamava Esmeralda, guardo até hoje uma boa, terna e nítida recordação. E a imensa gratidão de tudo quanto me deu e fez descobrir. Acho mesmo que foi por causa dessas primeiras semanas com sabor a colo e a casa, por esse afecto com que fui recebida, que escolhi ficar ligada à escola para sempre. E fazer dela a minha vida, com tudo o que nela é bom, mau, ou apenas assim-assim.
Nos anos seguintes, era sempre com o coração aos saltos que voltava à escola, na emoção de toda a novidade por vir e com a alegria de estrear cadernos, canetas e livros a cheirar a novo e de tudo o que lhe estava associado, enquanto janela sobre o mundo e possibilidades infinitas.
Mesmo quando deixei de ser aluna e passei a ser professora, ao longo do tempo, em cada ano, o primeiro dia foi sempre um dia de nervos e de entusiasmo, já não como da primeira vez, mas com aquele nervoso miudinho que têm todos regresso e as estreias, tudo expectativa e inquietação, desafio, ilusões, vontades.
Hoje, em que pelo terceiro ano consecutivo a rentrée não significa para mim regressar à escola, apenas no trânsito notei a azáfama e o frenesim de um dia diferente (levei vinte minutos para fazer um percurso de autocarro que normalmente se faz em dez).
Estranhamente, ou talvez não, a escola não me faz falta. Seja porque com o passar dos anos nos vamos cansando de um quotidiano excessivamente exigente e pouco compensador a vários níveis, seja porque o que há de bom na escola, se diluiu, em todos os constrangimentos e limitações que de há uns anos para cá também a caracterizam e diminuem, no seu sentido, propósito, missão.
Além disso, o retorno à escola, este ano, é diferente de todos os outros, fortemente marcado pelo tempo do confinamento, pelo medo da pandemia e por umas "regras de segurança" que todos sabem ser impossíveis de aplicar na prática.
Mas, este ano, ao contrário do que acontece para quase todos, o tempo da rentrée, para mim, significa férias. Já a partir de amanhã. 😊
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