Resisti à Netflix durante muito tempo. Porque vejo pouca televisão, porque adoro cinema e não me sabem da mesma maneira os filmes vistos em casa; porque me parecia absurdo acrescentar mais uma despesa fixa mensal (por mais pequena que fosse) a um rol que já considerava demasiado extenso. Enfim, tudo era um pouco pretexto para me manter inflexível. Mesmo se havia coisas que me passavam um pouco ao lado. Ouvia ahs! e ohs! exclamativos a propósito de "A Casa de Papel" de que conhecia pouco mais do que o nome.
Depois, veio a pandemia que abalou tantas das nossas convicções. E pronto: rendi-me, enfim, a princípio só à experiência. Mas logo a coisa se foi fazendo definitiva. Comecei pela "Casa de Papel", claro está; e vi as quatro temporadas de seguida. A seguir vieram outras três séries espanholas, porque gosto muito de acompanhar os diálogos sem ter que ler legendas (quase sempre de qualidade duvidosa) e porque também aproveito para aprender palavras e expressões e manter, assim, contacto com a língua.
Entretanto, entre muitas outras que me vão sugerindo, ouvi falar da recentíssima "Emily in Paris" (estreada na Netflix no início de Outubro deste ano), a série que tinha criado polémica pelo facto de os franceses não se reverem na imagem que deles é dada e acharem que quem a escreveu desconhece em absoluto a cultura francesa.
Tenho estado a segui-la e, realmente, parece-me que têm razão, apesar de ir apenas sensivelmente a meio (vi quatro ou cinco dos dez episódios). Não fossem as belíssimas imagens de Paris, que ainda que contribuam sempre para aumentar um pouco mais as minhas saudades, também as mitigam de algum modo, e a série estaria boa para o caixote do lixo.
É uma história "levezinha" e pretensamente divertida (?) com laivos de comédia romântica e escrita pelo criador de "O Sexo e a Cidade", o que me parece que já diz muito. Têm razão de queixa os franceses, creio, já que esta produção não passa de uma "americanada", que transmite uma versão demasiado superficial, retrógrada e estereotipada dos franceses enquanto povo, e da sua cultura, que os autores da série, claramente, desconhecem em absoluto.
A fama de arrogantes e pouco hospitaleiros para quem vem de fora poderá ter um fundo de verdade que faria sentido há algumas décadas, mas que já não corresponde, de modo algum, à realidade actual.
Esta é pois, na minha opinião, uma série que não vale a pena ver, nem sequer para "passar o tempo". É que, na verdade, há uma infinidade de coisas bem melhores para ver, ou para fazer...