Juntamente com Brel, Brassens, Moustaki, Ferrat, Reggiani, ou Ferré, Charles Aznavour faz parte daquele grupo de cantores / poetas que me fez conhecer melhor e amar mais a língua e a cultura francesas, em canções que me acompanharam em todos os momentos da vida, embalaram os meus primeiros amores e as lágrimas de desilusão, alimentaram sonhos insensatos, projectos de felicidade, utopias e desgostos. Que ainda hoje ouço muitas vezes, não por saudosismo, mas porque me parecem intemporais; e porque encontro nelas, naquela mistura perfeita de texto e música, a doce melancolia que sempre me encantou.
Deste grupo, já não sobra ninguém. Mas permanecem as canções. Aznavour foi talvez o menos rebelde de todos eles, o mais certinho e romântico, e não está entre os meus preferidos, mas não deixa de ser um ícone, um nome incontornável da "chanson française" e, acima de tudo um resistente que, por ironia do destino, nos deixa de forma súbita no Dia Mundial da Música, aos 94 anos e ainda em plena actividade. Em boa hora decidi ir ouvi-lo há dois anos, no seu último concerto em Lisboa. E impressionou-me a inesgotável energia e capacidade de fazer um concerto tão emocionante aos 92 anos, como se fosse uma pessoa que estivesse para lá do tempo, ou para quem ele não tivesse qualquer significado.
Cantando o amor, a raiva, a ironia ou a revolta, são verdadeiros poetas que usaram a palavra com mestria, no seu imenso potencial de significado. É por isso impossível gostar de música francesa sem entender muito bem o significado de cada texto, de cada palavra, na sua sonoridade própria, que faz com que qualquer tradução a limite ou diminua, e que só em versão original ela ganhe toda a força e plenitude.
Je vous parle d'un temps
que les moins de vingt ans
Ne peuvent pas connaître
Montmartre en ce temps-là
Accrochait des lilas
Jusque sous nos fenêtres...
É "Accrochait ses lilas" e não "Accrochait des lilas" como escreveu.
ResponderEliminarNão tenho por hábito publicar comentários de "anónimos" porque não suporto que as pessoas se permitam dizer o que lhes apetece sem sequer assumir isso em nome próprio.
EliminarAbro aqui esta excepção para que se perceba ao que as pessoas chegam: dar-se ao trabalho de fazer este tipo de reparo é para mim inqualificável. Basta ouvir o áudio que acompanha o post com atenção, ó "anónimo", para perceber que o que Aznavour diz é "des lilas" e não "ses lilas". Mas, ainda que fosse, essa diferença não altera em nada o sentido do texto.
Que falta de pachorra!!! Há gente que não deve mesmo ter que fazer...
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Já tudo foi dito. Boa publicação, gostei !!!
ResponderEliminarObrigada.
EliminarQuem se deu ao trabalho de ir ver a letra, esqueceu-se que são muitas vezes os próprios intérpretes que alteram as letras ao cantá-las. Por exemplo nos "standard" de jazz norte-americanos existem inúmeras letras com o cunho pessoal de cada um dos intérpretes.
ResponderEliminarAqui é como dizes "Accrochait des lilas" que é cantado pelo Charles, embora a letra espalhada na Internet tenha "Accrochait ses lilas" !
Esqueceu-se, também, que a maior parte desses sites onde elas aparecem são muito pouco fidedignos e, por isso, conta mais o que diz o cantor.
EliminarMas a questão de fundo nem é essa, porque seja "des" ou "ses", isso não altera de todo o texto.
O que me parece extraordinário é que haja por aí gente sempre "à caça" de erros que na maior parte dos casos se percebe de imediato que são gralhas (e aqui nem é esse o caso ainda para mais), e que de imediato chama a atenção para o que está "errado". Deve ser um complexo de inferioridade qualquer...