quarta-feira, 31 de março de 2021

Abatimento e inquietação


Era como um não sei quê que vinha não sei de onde e às vezes se lhe instalava no peito e lhe ensombrava a vida. Não sabia se era cansaço, desânimo ou apenas tédio, aquela espécie de tristeza que em certos dias parecia assumir proporções disparatadas, sem que houvesse para isso uma justificação plausível, concreta, satisfatória, legítima, ou acertada.

Era uma angústia que lhe apertava o coração, era a vontade de se virar para dentro em silêncio e solidão e, ao mesmo tempo, impedir que aquele desconsolo se estendesse em tempo e espaço; era  a indecisão entre desatar as lágrimas e não precisar sequer de chegar a elas, uma consumição sem razão aparente, que tornava certos dias mais baços e difíceis de levar.

E, apesar dos pesos na consciência, do remorso e das voltas que desse à cabeça pensando que, não havendo na verdade motivo para se sentir assim, podia isso ser considerado desfaçatez ou ingratidão, havia que permitir-se, também, de vez em quando, viver um desgosto sem porquê, porque a vida não é só risos, felicidade e alegria, vai antes alternando entre luz e sombra, claro e escuro, dia e noite.

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