Ocupa o centro da minha sala e tem um lugar privilegiado na minha existência. Conhece os meus segredos mais obscuros, aqueles que não ouso mesmo contar a ninguém. Já viveu muito e talvez esteja, até, um bocadinho fora de moda. Mas isso não tem para mim a mais pequena importância. Porque temos uma longa história comum, de cumplicidade e de partilha.
Menos próximos de manhã, que é a altura do dia em passo por ele com indiferença e quase o ignoro, é a partir da hora de almoço e à medida que o dia se vai fazendo noite, que nos vamos tornando mais íntimos. Então, consente-me tudo e, às ordens do meu humor e da minha vontade, deixa-se usar: para dormir, sonhar, divagar, descansar, ler, escrever, pensar, comer, falar ao telefone, ver televisão, ouvir música, namorar. Para tudo o que eu quiser. E devolve-me a serenidade de que tantas vezes necessito.
É como um enorme colo, que me ampara e aconchega, única testemunha de inúmeras alegrias e desgostos, de tristezas passageiras, de recordações, de desejos, de conversas e de silêncios, de mágoas profundas, de raivas incontidas e de lágrimas silenciosas, mas também de muitos momentos de ternura, de carícias demoradas, de almas a nu, de beijos apaixonados e de corpos despidos à pressa, na urgência do amor.
Sinto-lhe a falta com frequência. Quantos dias, sentada à frente do computador, a seguir ao almoço, me invade aquela moleza do corpo a pedir descanso e sonho com as delícias de uma sesta. Ou, em tardes de chuva e frio, anseio por lanchinhos, de lareira acesa, entregue ao seu conforto, de olhos presos na luz e no calor das chamas, deixando o pensamento voar.
É onde gosto de me estender, quando chego a casa cansada, farta, ou triste. Ou quando estou feliz e me apetece ficar um bocado sem fazer nada, deixando passar o tempo, perdida em mil ideias e fantasias, de imaginação à solta, em tardes e noites ociosas, de silêncio, de paz e de preguiças várias.
Ah, se o meu sofá falasse, teria tanta coisa para contar...
Leio isto ( e aquilo) às 6.30 da manhã, sentada no meu sofá cor de burro quando foge ( ou verde musgo, que é mais poético), ouvindo o silêncio absoluto a esta hora da madrugada. O meu filho deve estar a chegar a Lisboa depois de uma viagem de horas desde S. Francisco até lá...e ainda tem de apanhar um comboio para o Porto. Chega sempre doente com jetlag e cansaço físico.
ResponderEliminarTambém este meu sofá contaria histórias, para já a mais recente foi o golo do FCP, ontem, celebrado por mim e pelo meu neto efusivamente. A doçura do seu beijo e do seu olhar diziam tudo. Este meu neto é o tesouro mais lindo que possuo e com os seus nove anos, porta-se como um gentleman. Pssou quase toda a tarde comigo e encheu-me o coração. E ese sofá assistiu a tudo!!
Bom Domingo, Isabel...cada vez gosto mais de a ler.
Bjo
Obrigada, Virgínia! E olhe, quanto a gostar de me ler, um grande "same to you!" :))
ResponderEliminarBom Domingo e beijinhos
Isabel M.
No meu caso seria mais "o meu escritório", porque, invariavelmente, no meu sofá adormeço...
ResponderEliminarTexto límpido, impecavelmente escrito.
Beijinhos :) Boa semana!
Obrigada! Aprecio muitíssimo a sua opinião, Paulo, porque acho que escreve maravilhosamente mesmo. E tem bom gosto...
EliminarBoa semana também para si, Paulo!
Um grande beijinho :)
O meu sofá também é um grande companheiro:) e a sala o lugar da casa de que gosto verdadeiramente. Sou de salão, mesmo:)com tudo o que isso significa:)
ResponderEliminar(Escreve muito bem, muito muito.)
Obrigada, Fátima! A Fátima também... ;)
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